Maior grupo indígena na UNILA, tikunas têm curso em sua língua para vencer barreiras

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O português, equipamentos de informática e ferramentas digitais impõem desafios constantes aos tikunas que chegam à Universidade

Eles atravessaram o Brasil para chegar à UNILA e hoje formam o maior grupo indígena da Universidade. Além das dificuldades de deslocamento, os tikunas, que vivem em comunidades no Amazonas, têm de enfrentar o desafio de morar em um local totalmente diferente e as barreiras linguísticas e tecnológicas.

Tarefa simples para a grande maioria dos estudantes, utilizar um computador ganha outra dimensão para aqueles que não estão acostumados à tecnologia. Para ajudar os tikunas que estão ingressando na universidade, alunos da mesma etnia, com maior conhecimento, dedicam uma parte do seu tempo para ensinar a usar um computador e as ferramentas ligadas à rotina estudantil, como o SIGAA e o e-mail institucional. No curso, eles também aprendem como usar o drive, a fazer uma capa para os trabalhos, a enviar o trabalho.

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Além das dificuldades com os equipamentos, os tikunas também encontram barreiras na língua portuguesa e em termos em inglês. “A dificuldade dos tikunas é a língua portuguesa porque é a segunda língua nossa. A gente nasce falando nossa própria língua, português aprende só na escola”, explica Rosileia da Silva Cruz, aluna de Serviço Social desde 2021 e monitora do curso, lembrando que foram oferecidas aulas de informática para os indígenas anteriormente, mas em português. “Mesmo em português é difícil. A gente começou a pensar no curso de informática para falar pra eles na nossa língua, para facilitar.”

Narcisa do Carmo Coelho mora na comunidade Umariaçu 2, no município de Santana (AM), e entrou em Antropologia – Diversidade Cultural Latino-Americana no ano passado. Com o curso de informática, já tem conseguido resolver algumas coisas. “Ser na língua é bom. Elas [as monitoras] explicando fica mais fácil de entender”, diz. “Lá na minha casa, a aula de informática não me interessou porque não pensei que poderia estudar numa universidade. Não importava. Agora é importante pra mim.”

Dificuldade igual enfrenta Artur Olímpio Miguel, também estudante de Antropologia – Diversidade Cultural Latino-Americana. “Eu nunca mexi num computador desse tipo [desktop]. Tenho dificuldade para escrever com o teclado”, diz ele, que está acostumado com os comandos do telefone celular e escreve seus textos no aparelho. “O curso está ajudando muito. Não tive aulas antes. Quero sair sabendo mais. Ser na língua tikuna ajuda”, enfatiza.

Com computador em casa, Keila Jorge da Silva, estudante de Biotecnologia, tem outras prioridades no curso conduzido pelas monitoras. “Já estudava informática. Aqui, minha dificuldade é como fazer fichamento de texto acadêmico, como escrever em português científico também. Sei algumas palavras básicas e estou correndo atrás para aprender mais”, comenta a aluna, que ingressou na UNILA no ano passado.

A monitora Rosileia, que é uma liderança em sua comunidade e também na UNILA, já está familiarizada com salas de aula e a tarefa de ensinar. “Na minha comunidade eu dava aula de informática e trabalhava numa escola municipal. Então, já tenho essa experiência. E não quero guardar só pra mim. Quero compartilhar com eles também.” Hoje, segundo Rosileia, são 54 tikunas na UNILA. E, em julho, devem chegar mais 60. A maioria proveniente da comunidade Umariaçu 2, de onde ela também veio.

O desejo de ajudar seus parentes – como os tikunas tratam os que são da mesma etnia – também move a monitora Jhine Flores Peres, aluna de Ciências Econômicas – Economia, Integração e Desenvolvimento desde 2019. “Quando cheguei, eu tinha a mesma dificuldade. A rotina da universidade não é fácil. Eu tive problemas, além da informática, com a matemática. Depois eu aprendi com os monitores. Eles me ensinaram”, lembra.

O exemplo deixado pelos monitores que a auxiliaram despertou nela o desejo de ajudar. “Isso me interessou bastante. Se vierem pessoas como eu, tikunas, vão precisar de ajuda. Às vezes, não vão entender o idioma também. Senti como se estivesse na pele deles”, conta. Ela comenta que muitos têm vergonha de se expor, de dizer que não sabem utilizar um computador ou não entendem o que está sendo ensinado. “Eu não tinha vergonha. Eu falava: eu não sei. Eu preciso aprender. Estou aqui para aprender”, diz e completa: “Tudo aquilo que eu aprendi eu preciso repassar para eles. Essa é minha meta”.

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