CRAM de Foz do Iguaçu ganha biblioteca com acervo de obras feministas

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Biblioteca do CRAM está aberta para a comunidade

Implantação do espaço é o resultado de projeto de intervenção de estágio de Serviço Social e do projeto de extensão Biblioteca Feminista da UNILA

Desde o final do ano passado, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM) de Foz do Iguaçu conta com um espaço dedicado à leitura e à pesquisa. A Biblioteca do CRAM foi implantada a partir de duas iniciativas da UNILA – um projeto de intervenção do estágio de Serviço Social e o projeto de extensão Biblioteca Feminista. Atualmente, o local é frequentado por mulheres que procuram atendimento no órgão, mas também é aberto para a comunidade. E o objetivo é que a Biblioteca receba outras atividades, como debates, oficinas e rodas de leitura voltadas para temáticas feministas.

O acervo da Biblioteca é formado por livros de temas como história dos movimentos feministas, estudos de gênero, políticas públicas para mulheres, divisão do trabalho, além de literatura de ficção de autoria de escritoras. A Biblioteca também recebeu uma doação de livros da Editora Cortez, com títulos sobre a formação e o papel dos profissionais de Serviço Social no atendimento a mulheres em situação de violência.

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A principal responsável pela implantação da Biblioteca foi a discente de Serviço Social Márcia Alves de Souza, que realizou estágio no CRAM entre 2021 e 2022. “A equipe técnica do CRAM já tinha a ideia de fazer uma Biblioteca e, inclusive, já havia um pequeno acervo de livros no Centro. Por isso, apresentei a proposta de implantar a Biblioteca como projeto de intervenção do meu estágio”, contou. Márcia participou de todas as etapas de criação da biblioteca, desde a adequação do espaço físico, os orçamentos para compra de mobiliários, a busca por doação de livros e a organização do acervo.

A estudante também contou com o apoio do projeto de extensão Biblioteca Feminista da UNILA, encerrado em 2022, que tinha o objetivo de democratizar o acesso a obras e documentos relacionados com o feminismo, por meio de organização de coleções de referência e realização de debates. A iniciativa foi realizada em parceria com o projeto Biblioteca Feminista da Praia Vermelha, da UFRJ.

“Quando a estagiária iniciou suas atividades curriculares de estágio supervisionado em Serviço Social, buscou compreender a realidade do espaço sócio-ocupacional e se aproximar teoricamente da temática de gênero, por meio de leituras bibliográficas, em conjunto com o acompanhamento das intervenções profissionais. A ideia da implantação da Biblioteca partiu do diálogo e da troca de experiências com a equipe do CRAM”, explicou a professora Kátia Hale dos Santos, supervisora acadêmica do estágio e coordenadora do projeto Biblioteca Feminista da UNILA.

Com a Biblioteca já funcionando, agora a equipe do CRAM está em busca de parcerias para realizar atividades no espaço, como debates e rodas de leitura.

A formanda de Seviço Social, Márcia Alves de Souza, responsável pela implantação da Biblioteca

A leitura no enfrentamento da violência de gênero

Uma das justificativas para implantar uma biblioteca em um espaço que recebe mulheres em situação de vulnerabilidade é que a leitura e os livros podem desempenhar um papel significativo no enfrentamento da violência de gênero e na identificação de situações de abuso. De acordo com a professora Kátia Hale dos Santos, a literatura oferece um espaço seguro e uma fonte de conhecimento que pode capacitar as mulheres, proporcionando informações, apoio emocional e uma voz para suas experiências. “A tomada de consciência sobre as desigualdades produzidas historicamente pelo patriarcado se dá de diversas formas. A leitura é uma delas. Um texto que expressa casos particulares de violência e desigualdades sofridas acaba também expressando o universal. Às vezes, no seu cotidiano, a mulher acaba não refletindo sobre essas desigualdades, porque mulheres geralmente são educadas para reproduzirem a violência e a desigualdade. Nesse cenário, a leitura pode despertar essa consciência”, salienta.

Para a professora, uma das maiores perversidades do patriarcado reside na maneira como ele historicamente afastou as mulheres dos debates de questões universais – como política, economia e outros assuntos relevantes para a sociedade –, restringindo o universo feminino ao cuidado com a casa e a família. “Essa imposição foi, e ainda é, uma forma de negar às mulheres a participação plena nas esferas públicas. A transformação da sociedade se dá pela tomada de consciência da realidade em que vivemos. E esse é o ganho do projeto, da leitura, dos estudos e da própria oportunidade que a UNILA dá às mulheres latino-americanas de estudar esse campo”, complementou.

Projeto vai virar livro

Após a implantação da Biblioteca, as estudantes, professoras e profissionais envolvidas no projeto receberam um outro convite: o de escrever um livro contando a experiência. O chamado veio da editora Cortez, uma das principais editoras da área de Serviço Social do Brasil. “Existe uma deficiência de publicações sobre a intervenção profissional junto às mulheres vítimas de violência. Então nos convidaram para escrever esse livro, que deve sair já no próximo ano e que tem potencial de se tornar uma obra de referência sobre essa temática no Brasil”, contou a docente Kátia Hale, professora visitante que já encerrou suas atividades na UNILA.

A publicação terá artigos escritos por integrantes da Universidade, do CRAM e do projeto Biblioteca Feminista da Praia Vermelha, da UFRJ, iniciativa parceira do projeto de extensão da UNILA.

CRAM

O Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM) é um serviço de apoio, orientação e encaminhamentos para a garantia de direitos da mulher. O órgão conta com atendimento de serviço social, de apoio psicológico e de orientações jurídicas. “O principal objetivo é que a mulher vítima de violência receba as orientações necessárias e possa ser direcionada para a rede de atendimento para que seus direitos sejam garantidos, inclusive no que se refere à sua proteção e segurança”, explicou Sérgi Gondaski, que já atuou como assistente social no CRAM. No local, também são realizadas oficinas e rodas de conversa, abertas para todas as mulheres de Foz do Iguaçu.

O CRAM está localizado na rua Padre Bernardo Plate, 1250, e atende de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. O telefone de contato é 0800 643 8111.

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