Cidinha Silva fala sobre a produção da escrita e ancestralidade no penúltimo dia da Feira do Livro em Foz

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Nesta quarta-feira (25), público também acompanhou lançamento de livros e uma oficina de Haicai foi ministrada no Núcleo Criança de Valor

Uma das principais atrações do penúltimo dia da Feira do Livro, nesta quarta-feira (25), a escritora Cidinha da Silva recebeu o público para falar sobre a produção de sua obra e o fazer da literatura. Premiada, a autora de 17 livros abordou temáticas ligadas à africanidades, ancestralidade, mas também sobre racismo, política, amor e contemporaneidades.

Para ela, eventos como a Feira do Livro representam uma oportunidade. “É encontro com a própria subjetividade e o acesso a novos imaginários, que é o que escritoras e escritores trazem para o cenário da arte da escrita, essa possibilidade de encontros. Essa é a coisa mais importante; motiva as pessoas a lerem mais, acessar universos, algumas pessoas se sentem mobilizadas a escrever também e amplia de um modo geral a potencialidade das pessoas fazerem conexões entre mundos e realidades diferentes, e olhares sobre o mesmo tema”, comentou.

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Dentro de seus temas de interesse, Cidinha aponta estudos e acompanhamento do mercado editorial como fundamentais. “Na literatura me dedico a discutir o funcionamento do mercado editorial. Acompanho a situação dos meus livros especialmente na editora, e vou vendo o que de fato interessa nessa correlação de forças. Meu interesse é o público”.

Para ela o acompanhamento de outras escritoras contemporâneas também é necessário e indispensável. “Apesar disso, a autoria negra continua sendo invisibilizada. O que precisamos fazer é conhecer e valorar obras de autoras negras e conhecer suas características e no que se diferem”.

A autora de “Um Exú em Nova Iorque” se definiu como uma operária do intelecto e desmistificou a profissão de escritora, ensinando uma valiosa lição aos aspirantes; “antes de tudo, conhece quem é você, procure saber qual é a sua natureza, leiam, conheçam seus contemporâneos, submetam-se às críticas, reescrevam e mantenham seus ouvidos abertos”.

Haicai

Nas atividades descentralizadas, o poeta e escritor Álvaro Posselt, levou às crianças do Núcleo da Criança de Valor, um pouco do seu trabalho realizado com haicais, curtos poemas com três versos. “Haicai é um poema curtinho, que retrata uma cena, como se fosse uma fotografia, é o registro de um instante”, disse o autor.

Na conversa, além de falar sobre a produção desse gênero, Posselt apresentou um pouco de sua produção literária e fez a doação de sua obra mais recente, “Céu pela janela”, à biblioteca da instituição que atende a mais de 130 crianças da comunidade. Débora, de 10 anos, já conhecia o gênero, mas ficou surpresa ao ser apresentada à produção dos livros. “Essa parte achei a mais curiosa”, disse, referindo-se ao processo de produção dos livros mostrado pelo escritor.

Lançamento

Uma chipa sendo vendida no sinaleiro, ou uma menina falando portunhol em sala de aula. Essas figuras tão comuns na fronteira são inspiração do novo livro de Jorgelina Tallei e Renata Alves de Oliveira, o Poemário da Fronteira. Lançado durante a Feira do Livro, as autoras falaram sobre o processo de produção e como acolheram o tema com afeto de poemas sobre o cotidiano de se viver na fronteira.

Desde “A Língua de todos” (livro lançado pela dupla em 2022), o Poemário já vem sendo pensado e elaborado. “Temos esse compromisso de pensarmos nessas crianças entrando na escola e o acolhimento de pessoas diversas, com línguas diversas, e que compõem a história da cidade. A ideia de integração, o que é a fronteira como limite e como aconchego, às vezes de uma perspectiva infantil , às vezes de nossas perspectivas”, explicou Renata. A dupla visita escolas, dá palestras e fala dessas e outras histórias ligadas ao universo de quem está na fronteira, sempre pensando no acolhimento através das crianças.

Para elas, a Feira do Livro é o momento ideal. “As pessoas estão tomando consciência do que é nosso. A gente vê a presença de autores, a circulação de crianças, as escolas integrando cada vez mais. Às vezes quem mora na fronteira não consegue perceber a beleza que é viver aqui, o Poemário vem para isso”.

LGBTQI+

Dentro da roda de conversa promovida pelo núcleo LGBTQI+ com escritores da região, o escritor independente Victor Henrique Rosa dos Santos, 22 anos, falou sobre sua obra “Como funciona” que aborda o tema da transsexualidade.

Lançado ano passado, o livro sob demanda trata da experiência do escritor. “Queria ter esse registro do tema , e porque acho muito importante falarmos sobre a sexualidade de gênero, ainda há muita desinformação”, comentou.

O escritor já está produzindo outro livro e depara-se com o desafio de divulgá-lo sem editora. “A gente tem mais liberdade sem editora, mas também perde um pouco na divulgação. Hoje faço isso de maneira independente pelas redes sociais”.

Imagem e memória

Uma das mais importantes figuras da fotografia paranaense, a pioneira Fernanda Castro, realizou na Feira do Livro uma oficina sobre “Fotografia e memória”. Ao longo de dois dias, ela tratou do olhar sobre a fotografia e de como somos afetados por essas memórias geradas a partir desse contato. “A gente trabalha a representatividade da fotografia em relação a quando você lança o olhar sobre ela, e quando faz essas perguntas e questionamentos, está fazendo sua própria história”.

Para ela, a fotografia permite que cada um trabalhe a ressignificação de sua história. “Trabalhamos na oficina o que acontece quando voltamos para dentro em nosso âmago para perceber o que está registrado no emaranhado de emoções e de imagens, mas a fotografia não responde tudo”.

Ultimo dia

A Feira do Livro encerra esta edição hoje, dia 26, com uma programação voltada à música e ao universo geek com a presença da escritora Babi Dewet (às 19h30), e os escritores/músicos; Aguinaldo Martinuci (10h) e Bernardo Pellegrini (14h30). O encerramento acontece às 21h com a apresentação do rapper africano Wugala Flama.

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