Desde 1997, Itaipu tem um programa de monitoramento da migração de peixes no reservatório e sua área de influência, baseado em técnicas de marcação e recaptura, com pequenas variações no tipo de marca empregada ao longo do tempo. De lá para cá, foram marcados 58.791 peixes de 77 espécies.
O principal propósito do projeto é compreender os padrões espaço-temporais de dispersão das espécies, mas também é possível obter informações a respeito de sua autoecologia na área de estudo, ao considerar dados de peso e comprimento dos indivíduos nos momentos da captura e/ou marcação e recaptura, bem como o intervalo de tempo entre os dois eventos.
Esse trabalho da bióloga Caroline Henn, da Divisão de Reservatório, foi apresentado no Congresso Brasileiro de Zoologia, no final de fevereiro deste ano.
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De acordo com o estudo, cada peixe marcado foi medido e pesado no momento da marcação e solto imediatamente ou poucos dias após o procedimento.
O banco de dados das recapturas foi feito com base em informações de pescadores do Lago de Itaipu, como peso, comprimento do peixe e data da recaptura.
Henn conta que a ideia era entender como os peixes iriam se deslocar e aproveitar o ambiente do reservatório, seus afluentes e o Rio Paraná para se alimentar e se reproduzir.
A pesquisa atualmente envolve Itaipu e a entidade binacional Yacyretá (usina pertencente em condomínio ao Paraguai e à Argentina).
No passado, a parceria também envolveu a Unioeste e a Cesp (empresa que foi incorporada em 2022 pela Auren Energia).
A bióloga explica que a demanda surgiu da área. “Todo o setor hidrelétrico lida com a questão de como os peixes reagem à construção da barragem e formação do reservatório.
O monitoramento foi feito em alinhamento com as tendências de pesquisa dos setores de meio ambiente de todo o setor hidrelétrico”, explicou a bióloga.
Alguns números
O crescimento foi expresso em g/semana ou mm/semana. O tamanho da amostra (72 indivíduos) permitiu estimar o ganho de peso apenas para a espécie pacu (Piaractus mesopotamicus), da ordem de 59,3±31,5g/semana.
Todos os indivíduos eram provenientes de cativeiro, com intervalo entre soltura e recaptura de 11 a 970 dias.
Foram obtidas estimativas de crescimento (baseado no comprimento total), expressas em mm/semana, para sete espécies.
Houve grande variação interespecífica na taxa de crescimento, que não apresentou padrão relacionado com as classes de comprimento dos peixes no momento da marcação.
A pesquisa observou a elevada capacidade de sobrevivência e obtenção de recursos no ambiente do reservatório pelo pacu criado em cativeiro, quando os indivíduos são soltos com tamanho acima de 21cm. Existia uma dúvida se peixes de cativeiro eram capazes de sobreviver após a soltura; agora se sabe que não apenas sobrevivem, mas crescem rapidamente.
Outras pesquisas
Bióloga formada pela Unioeste, especialista em biotecnologia e em piscicultura pela Universidade Estadual de Maringá – UEM e mestre em microbiologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Caroline Henn é natural de Corbélia, Oeste do Paraná. Ela trabalha na Itaipu, seu primeiro emprego, há 15 anos. Antes de Itaipu, a profissional fez estágio na Emater.
Além do trabalho de monitoramento de peixes, a área desenvolve e aplica pesquisas sobre o funcionamento do Canal da Piracema, por meio de coletas de peixes para inventariar as espécies e estudo da migração através do Canal, utilizando marcas eletrônicas (PIT_tag), que são relacionadas com o projeto de marcação e recaptura.
Outros projetos identificam se a canoagem no canal causa algum tipo de impacto sobre a migração dos peixes, e tentam identificar as espécies de peixes do canal pelos fragmentos do DNA que eles perdem pela pele e que podem ser encontrados na água (DNA ambiental).
Há ainda um projeto de pesquisa em parceria com a Unioeste e a Unesp para avaliar os impactos da piscicultura em tanque-rede em um módulo experimental no reservatório.