Por Requião Filho
O baixo nível do debate contribui para que a esquerda e a direita se mantenham no poder. A conversa rasa chega ao ponto de relembrar os medos de bicho-papão e tentar assustar adultos que odeiam qualquer coisa que não lhes dê razão.
No caso petista, o medo remete ao bolsonarismo e às crises democráticas que assolam a América Latina de tempos em tempos: golpes de Estado, regimes ditatoriais e muita repressão. No caso bolsonarista, o medo trata do comunismo que nunca existiu por aqui, da repressão ao direito “de falar o que quiser sem represálias” e de um esquerdismo petista que apenas fica na propaganda.
Vejam, qual é o motivo para isso? Alguém realmente acredita que o Bolsonaro é capaz de alguma coisa por conta própria? Que tem capacidade para isso? Só observar a trapalhada com o relógio e verão que ele não consegue dar conta nem de seus próprios problemas. Por outro lado, alguém acredita que o Lula é um comunista? Que ele pegará as propriedades e as repartirá entre todos? Observem os afagos ao mercado, os benefícios para as empresas de sempre, o ajuste fiscal e a ausência de reformas de muitas coisas que criticaram quando eram oposição. Alguém mais falou sobre reforma da previdência? Reforma trabalhista? Ou a coisa ficou do jeito que Temer e Bolsonaro deixaram?
Introduzo esse contexto para debater um pouco nossas eleições municipais deste ano. Em Curitiba e em outras cidades do país, já existe esse sentimento renovado de “nós contra eles”. Enquanto isso, o debate público, as ideias e os problemas dos bairros são colocados em segundo plano nesses conchavos, que servem para aglutinar e evitar uma discussão real.
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Já perceberam isso? O candidato da situação adapta seu discurso conforme a ideologia predominante na cidade, fala o quanto ele é ótimo e atribui a si realizações que muitas vezes não são dele, tentando unir candidatos de perfis semelhantes para que a migração de votos aconteça naturalmente.
Enquanto a oposição torce para que o candidato governista não tenha maioria, também tenta aglutinar perfis parecidos para se tornar viável. Reparou que, nessa história, não falei dos problemas da cidade? É um jogo simplista: me aproximo dos iguais e separo os que são diferentes de mim. Reduzo as opções do meu campo para que você, eleitor, não tenha escolha. O jogo é esse e não trata do problema real.
Nos permitirmos entrar nessa dicotomia de Lula X Bolsonaro faz com que deixemos eles ganharem a narrativa. Autoriza que façam contas em vez de tratar do problema de saneamento de um bairro mais afastado, que tratem de negócios e vendas de cargos na prefeitura em vez de resolverem o problema de trânsito do centro. Você, eleitor, passa a ser apenas um padrão de comportamento que serve como boiada.
Esses dias, postei em minhas redes sociais um comentário sobre esse “8 ou 80″ eleitoral. Resultado: comentários me taxando de ‘isentão’, dizendo que faço o jogo de quem quer ficar no poder e que contribuo para o outro lado. Mas não é exatamente isso que a polarização faz?
Não é a negação da polarização que estou fazendo neste texto, é o contrário. Nossa cidade, estado e nação merecem ser tratados com políticas públicas, pensando no povo. Afinal, a manutenção das coisas, de um lado para o outro, sem atender ao povo, serve a quem?