Fechamento de confeitaria tradicional chama atenção pela decadência da região central de Curitiba

Eles resistiram a Pandemia, mas não a situação caótica do Centro e o afastamento de clientes no Coração de Curitiba; A Abrabar propõe a criação de zeladoria ou ouvidoria para atender a demanda de moradores, empresários e turistas
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Foto: Reprodução/O Centro de Curitiba

A Confeitaria Lancaster, que marcou época na vida dos curitibanos nos últimos 52 anos anos, encerrou suas atividades comerciais com a chegada do ano novo. O estabelecimento na Praça Zacarias, reconhecido pela qualidade de seus produtos na área gastronômica, saiu de cena de forma silenciosa, sem uma despedida oficial. O fechamento de bares, restaurantes, lojas e comércio chamam a atenção para a decadência da região central de Curitiba, afirma a Associação Brasileira Bares e Casas Noturnas (Abrabar).

A sinalização para o fechamento da Lancaster, que por cinco décadas integrou o cotidiano da população local, veio em forma de um papel sulfite colado na parede, informando que passaria por uma reforma. O papelucho, segundo a página O Centro de Curitiba, sumiu dias depois e na faixada foi instalado um banner informando que o imóvel está disponível para locação – loja, sobreloja e primeiro andar. A situação não passou despercebida e, muitos empresários usaram o grupo de WhatsApp da Abrabar para expor seus sentimentos.

“Tenho restaurante no Centro desde 1998 e vi de perto a decadência da região e o fechamento de lugares tradicionais, é lastimável!”, comentou um primeiro. “Sim, eu desde 2014, está cada dia pior”, respondeu um segundo. Um terceiro incluiu o poder público na polêmica: “Fizeram propaganda de recuperação do centro e ate agora nada. Tráfico, mendigos e roubos tomando conta!”, disse. “Realmente não dá para entender o porque do desleixo das autoridades…”, completou outro.

Reação como resposta

“A Abrabar lamenta que estabelecimentos tradicionais de Curitiba, especialmente na região central, pós pandemia , estejam encerrando suas atividades”, comentou Fábio Aguayo, presidente da entidade, que é filiada a Federação Paranaense de Turismo (Feturismo) e na Confederação Nacional de Turismo (CNTur). Isso, segundo ele, “demonstra a decadência do centro”.

“Que precisa urgente não só de uma revitalização, mas de uma atenção total, seja de policiamento, também de higienização, limpeza, atenção redobrada, várias situações, até habitações nas ruas”. A Abrabar defende que a Prefeitura e o poder público precisam agir para botar ordem. “Está virando uma questão sem precedência”.

“Sabemos que tem uma ação no STF (Superior Tribunal Federal) que impede às Prefeituras de promover a remoção de pessoas em situação de rua, mas alguma coisa precisa ser feita”, disse. A entidade reconhece que muitos estão na rua por necessidade, por situações pessoais ou dependência química, “mas também tem aqueles que só estão para chantagear empresários, intimidar a população, tirar vantagem, roubar…”

Sem clientes

Fábio Aguayo conversou com o empresário Henrique Lenz Cesar Filho, proprietário da confeitaria e sócio do hotel do mesmo nome, que confirmou o fechamento da loja cansado com os constantes assaltos, tráfico e consumo de drogas. “Foram oito nos últimos meses, comércio e consumo de drogas na frente a confeitaria, o que acabou atrapalhando o público”, informou.

Segundo o presidente da Abrabar, o empresário relatou uma mudança de público do centro de Curitiba, pela falta de segurança. “Mais o ciclo (dele) no centro acabou, mas não a história da marca. Ele vai buscar um shopping ou outro lugar para voltar a abrir e poder atender os turistas, os fãs e admiradores da marca da gastronomia e tradição do local que sempre atraiu as famílias curitibanas e turistas”.

“No momento está para alugar o imóvel, mas o empresários tem esperança de que o centro volte para as famílias e visitantes de Curitiba. “Importante frisar que ele fechou não por problemas financeiros, mas sim por essas dificuldade do centro, mas que vai buscar outro lugar”, disse Aguayo.

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Saúde pública

Estas pessoas que estão em situação de rua, na avaliação de Fábio Aguayo, acabam contribuindo para questões envolvendo a saúde pública, com aumento da população de ratos e o surgimento de doenças transferidas por fezes humanas, urina de roedores. “Temos que cuidar disto e tem que ter um mutirão, seja dos governos federal, estadual municipal e a sociedade civil organizada”.

A nova gestão municipal de Curitiba está perto de completar e até agora não foram vistas ações concretas para tratar da questão das pessoas em situação de rua, que vivem nas praças. “Outro dia passei num ponto de ônibus que estava todo cagado e demoraram para limpar. A zeladoria do centro é largada, não tem combate da FAS (Fundação de Assistência Social) pela manhã”. 

“Na Rua Prudente de Moraes, tem morador de rua fixo. Não é só fazer eventos, necessita da remoção, limpeza, levar estas pessoas para centros de atenção”, ponderou. Aguayo lembra que já abordou o tema em 2016, gerando muita polêmica com reações contrárias a intenção. O presidente da entidade destaca que as prefeituras de Rio Branco (AC) e Balneário Camboriú (SC) adotaram medidas para retirar pessoas das ruas. “Curitiba também precisa fazer algo”.

Centro Seguro

A Prefeitura anunciou o início da operação, o que é fundamental, mas a operação precisa ser física, amparada em trabalho de inteligência e inovação. “Já demos sugestões publicas na mídia e audiência publica na Assembleia Legislativa que uma solução de prevenção e proatividade é através do Censo Populacional de pessoas de situação de Rua, mapeamento publico dos locais de grande aglomeração e obstrução das vias publicas e da dificuldade da abertura e funcionamento do comércio”, disse Aguayo.

O Censo, na avaliação da Abrabar, será útil e permanente com cadastro biométrico e identificação facial de todas as pessoas em situação de rua para que depois, caso cometam algum delito ou crime, possam ser reconhecidas pela muralha digital ou outros meios de reconhecimento de monitoramento. “Inclusive a Abrabar já propôs projeto de lei de iniciativa popular na Câmara de Curitiba para tratar da questão de pessoas em situação de rua”, lembra o presidente.

A proposta, apesar de grande importância, é válida, mas só que não é suficiente. “O município tem que judicializar também no STF e demais tribunais para poder ter liberdade, autoridade de agir e livrar a cidade da marginalidade e na prevenção da saúde pública”. As entidades do setor de gastronomia e entretenimento se colocam à disposição para ser “amicus curie” nos tribunais e auxiliar nos argumentos e necessidades de mudança de postura do judiciário, “já que é função do Executivo e Legislativo cuidar dos munícipes e suas integridades, cabe ao judiciário outras funções e não administrativas”, concluiu Aguayo.

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