O poder que poucas pessoas têm de ouvir o óbvio, por João Zisman

Palestras motivacionais nunca estiveram nos meus planos. Talvez, num gesto de arrogância, eu sempre tenha acreditado que não precisava delas.

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Ilustração: João Zisman

Mas nesta semana, quase por acaso, assisti a duas. Fui surpreendido, e para minha surpresa, positivamente.

Não havia ali nenhuma fórmula inédita, nenhum segredo capaz de mudar a humanidade. O que havia eram obviedades. Só que ditas de um jeito que mexeu comigo. Às vezes, a diferença não está no conteúdo, mas na forma. E isso é para poucos.

A primeira palestra foi de Geraldo Rufino, ex-catador de latinhas que transformou sucata em um negócio milionário com a JR Diesel. Um homem que quebrou seis vezes e se levantou em todas. Ele fala rindo das próprias derrotas e, com simplicidade, as transforma em lições de vida. 

No meio da conversa, compartilhou um hábito: acordar cedo e levar café na cama para a esposa, a quem chama de opressora. Ri da cena, mas a ideia ficou. No dia seguinte, acordei mais cedo e levei o café para a minha própria opressora. O gesto, tão óbvio, mudou o humor da casa.

A segunda foi com o Pastor Cláudio Duarte. Com sua energia e uma mineirice cativante, ele fala das coisas simples do cotidiano: casamento, filhos, pequenas confusões da vida doméstica. Tem o dom de fazer rir enquanto, discretamente, planta reflexão. É impossível não se reconhecer nas histórias que conta.

O mérito desses dois está em transformar o que todos sabemos em algo que finalmente escutamos. Eles não são professores do óbvio, são intérpretes da vida. A forma como dizem é o que importa, e poucos dominam essa arte.

Porque o que irrita, o que agride nossa inteligência, são aqueles que confundem didática com pretensão. Os que se acham donos da verdade e acreditam que estão nos iluminando ao anunciar, com ar professoral, que quando se junta café com leite numa caneca, temos uma bela caneca de café com leite. Isso não motiva, isso cansa.

Talvez seja esse o segredo das boas palestras: lembrar o óbvio sem nos tratar como ingênuos. Fazer rir, emocionar, disparar gatilhos. Dar voz ao que já sabemos, mas precisamos ouvir de novo. E eu, que nunca planejei estar em palestras motivacionais, saí delas levando comigo a prova de que o óbvio pode ser transformador, desde que bem dito.

(*) João Zisman é jornalista e secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Foz do Iguaçu.


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