Foz do Iguaçu divulgou esta semana os resultados do primeiro censo municipal da população em situação de rua, o primeiro feito em um município do interior do Brasil (AQUI para reelembrar).
Entre os dados captados, um em especial chama a atenção: a maioria das pessoas vivendo nas ruas da cidade não é natural de Foz do Iguaçu Dos 589 entrevistados, apenas 148 declararam ter nascido no município.
Os demais vieram de outros estados brasileiros (210 pessoas), municípios do Paraná (193) e até de outros países (97 pessoas), um número expressivo devido sua localização na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina.
A pesquisa foi realizada de 19 a 31 de agosto, pela equipe da Secretaria Municipal de Assistência Social, com apoio do CIAMP (Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento) e instituições de ensino superior.
A metodologia adotada já é considerada referência estadual e será replicada em 50 municípios do Paraná, que concentram 90% da população em situação de rua do estado.
Desafios ampliados
Segundo o secretário de Assistência Social, Alex Thomazi, a localização estratégica de Foz influencia diretamente na composição da população em situação de rua.
“Estamos falando de uma cidade de fronteira, com alto fluxo migratório, oportunidades temporárias e desigualdades profundas. Isso atrai pessoas em busca de alternativas, mas também as expõe ao risco da vulnerabilidade”, explicou.
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O número de estrangeiros (97) é especialmente relevante e coloca Foz em um cenário distinto da maioria dos municípios brasileiros, demandando soluções específicas de acolhimento, documentação e integração social.
Tempo nas ruas e concentração territorial
Outro dado alarmante do censo é o tempo que muitas dessas pessoas vivem nas ruas: 180 entrevistados relataram estar em situação de rua há mais de 15 anos.
Outros 149 declararam estar entre 5 e 15 anos nessa condição, o que reforça a necessidade de políticas públicas de longo prazo.
O mapeamento também mostrou que as regiões Oeste e Leste do município concentram a maior parte da população em situação de rua, próximas à Casa de Acolhimento 3 e ao Centro Pop, respectivamente, justamente onde os serviços de assistência social são mais acessíveis.
Quem são?
O perfil identificado pelo censo revela que a maioria é composta por homens cisgênero (489), seguido por mulheres cis (53), com registros menores de pessoas trans e travestis.
Em relação à idade, predominam adultos jovens, e 41 pessoas se identificaram como idosas.
Na classificação por raça ou cor, 321 se declararam pardos, 139 brancos e 79 pretos, com pequenas incidências de amarelos e indígenas.
Quanto ao consumo de substâncias, 56,9% disseram não consumir álcool, e 31,2% afirmaram usar drogas psicoativas.
Base concreta
Antes da realização do censo, as únicas fontes oficiais eram os cadastros do CadÚnico, que, segundo a Prefeitura, apresentavam dados imprecisos.
“Tínhamos uma fotografia borrada. Agora temos clareza para tomar decisões com transparência e objetividade”, afirmou o secretário Alex Thomazi.
O levantamento é parte de uma estratégia mais ampla, integrada ao sistema ConectaFoz, que organiza e cruza dados sociais para orientar políticas públicas.
A plataforma foi solicitada pela Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania e será implantada em outras cidades do estado.
Referência nacional e desafio local
Com este censo, Foz do Iguaçu se posiciona como referência nacional na gestão de dados sociais sobre população em situação de rua, especialmente em cidades de fronteira.
Mas os desafios locais permanecem complexos: acolher uma população diversa, migrante, em grande parte vinda de fora, e oferecer respostas efetivas de moradia, saúde, capacitação e reintegração.
“Ter o dado é só o primeiro passo. Agora precisamos transformar isso em ações que façam a diferença na vida dessas pessoas”, finalizou Thomazi.
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