O cárcere do jornalista Juvêncio Mazzarollo, entre 1982 e 1984, os movimentos sociais dos trabalhadores agrícolas da região de Foz do Iguaçu e a luta pela redemocratização são temas do livro “Juvêncio – O Último Preso Político da Ditadura Brasileira”. De autoria da jornalista e cientista política Daniela Neves, o livro será lançado na próxima quinta-feira (13), no Restaurante dos Barrageiros.
Juvêncio é gaúcho e atuou como professor da Rede Estadual e jornalista no Oeste do Paraná. Ao lado de Aluízio Palmar e João Adelino de Souza, foi fundador do Jornal Nosso Tempo. Suas reportagens, com críticas pesadas à desapropriação de terras no período da desapropriação de terras para construção da Hidrelétrica de Itaipu, renderam aos três processos por crimes previstos na Lei de Segurança Nacional. Apenas Juvêncio foi condenado e preso em Curitiba.
Ele ficou conhecido como “o último preso político da ditadura” porque, apesar de não ser o único no momento da condenação, foi o que ficou mais tempo enclausurado por causa da Lei de Segurança Nacional naquela época. Juvêncio enfrentou barreiras jurídicas que o deixam nessa condição até abril de 1984. Em função disso, virou símbolo da luta pela redemocratização tanto em Curitiba quanto em Foz do Iguaçu, onde cartazes pedindo a libertação dele eram exibidos em manifestações de rua.
A campanha para a liberdade do jornalista ganhou apoio de todo Brasil e internacional, como de membros da Anistia Internacional, que enviavam cartas ao governo brasileiro. Estudantes fizeram greve de fome pela libertação dele e o próprio Juvêncio ficou 16 dias sem se alimentar para forçar o julgamento do recurso de seu caso.
Memórias de infância
A autora, Daniela Neves, tem uma ligação antiga com essa história. Ela, com aproximadamente 9 anos, e dois de seus irmãos visitavam Juvêncio na prisão, levados pelos seus pais, militantes de esquerda e da Igreja Católica. “Não tínhamos muita noção do que estava acontecendo. Meus pais nos levavam, geralmente aos sábados, porque não tinham com quem nos deixar. Como ele não estava em um presídio comum, e sim na sede do Corpo de Bombeiros, em Curitiba, deixavam crianças entrarem e ficávamos lá no pátio, brincando”. Mesmo o irmão Paulo, que na época tinha 4 anos, lembra desse período, que marcou a família Neves.
Hoje comunicadora social atuando na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Foz do Iguaçu, Daniela Neves mudou-se para cá em 2023 para lecionar na Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila) e aqui relembrou o caso. “Quando soube que essa história não estava registrada de forma mais sintetizada, como em um livro ou documentário, assumi essa missão. A única forma de não deixarmos o autoritarismo voltar é manter sempre na memória das pessoas tudo o que ocorreu e deixar claro que aconteceu também aqui no Paraná”.
Ela pesquisou nos arquivos do Jornal Nosso Tempo (disponível em meio digital), entrevistou 21 pessoas que viveram aquele momento, além de documentos sobre o processo. Mais do que a prisão, fala dos movimentos sociais mobilizados em Foz do Iguaçu no período da construção de Itaipu e em Curitiba, pelas Diretas Já. Ainda promove uma discussão sobre o papel da Igreja Católica e Luterana no movimento de redemocratização do País e sobre o que é considerada prisão política.
Editado pela Banquinho Publicações e com apoio de produção do Instituto Edésio Passos, o livro foi aprovado pelo Edital de Fomento – Multiartes – 001/2024, da Secretaria do Estado da Cultura, com recursos da Lei Aldir Blanc.
Daniela Neves é jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, e cientista política, com doutorado pela Universidade Federal do Paraná. Foi repórter e editora nos principais veículos de imprensa do Paraná e assessora de imprensa para organizações públicas e privadas. É autora do livro Assessoria de imprensa e mídia sociais para partidos políticos (Editora Intersaberes, 2022). Mais informações sobre a autora e o livro podem ser acompanhadas pelo perfil @danisilvaneves
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