Ao meu amigo Chico de Alencar

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Chico foi quem mais declarou e amou Foz do Iguaçu em toda a sua história. (Foto: Foto de Roger Meireles)

Rogério Bonato

“Escreva, mas se puder, guarde o calor da emoção na gaveta, ou em algum lugar onde possa ir buscar mais tarde. No boteco, pode ser. Vai precisar da emoção nos poemas, livros, roteiros, recados, cartas, bilhetes, dificilmente a usará na notícia, porque a narrativa de um fato é emocionante pela sua verdade natural, e, elaborá-la, exige a maior de todas as friezas”. 

Lembro bem quando o Chico disse isso. Foi no início da década de 1980, num churrasco no Country Club, pouco tempo antes de existir o Diário da Cidade, o primeiro a circular todos os dias em Foz do Iguaçu. Foi uma lição de caderneta, anotada com apreço, porque “emoção” é um sentimento indomável, incabível na redação pura e simples, na responsabilidade e crueza, de perpetuar um fato em história. É o que fazem os jornalistas: colecionam, constroem e elaboram um imenso arquivo, por meio daquilo que redigem ao longo de suas existências. A vida de um profissional da imprensa é num almanaque, um relicário ou uma enciclopédia, acerca de tudo o que testemunharam. 

E eu pergunto: como o Chico ensinava e praticava isso –  o apartar do emocional – com tanta convicção, sendo um dos mais emotivos entre os mortais? Ele tinha esse poder de síntese e exatidão e por isso, foi um grande professor para quase tudo, do rascunho ao texto, das malandragens às sacanagens editoriais, as que irritavam e tiravam o sono dos que viraram notícia, os que descobriam que havia verdade em suas mentiras. Chico foi um gênio até na humildade, isso tem explicação e começa pelo nome: Francisco, nascido em Assis e depois casado com Clarice! Imagina? 

Mais do que jornalista, não erraria ao escrever que o Chico foi o cidadão privado mais poderoso de Foz do Iguaçu em duas décadas, e também o mais benevolente, porque não optou pela riqueza, advinda da sem-vergonhice de quem vende notícia, e, diante disso, enrica pela pobreza de espírito. Certa ocasião, entre os amigos, ele disse: “um dia serei preso por empobrecimento ilícito”. 

Eu que não vou ficar lembrando as facetas jornalísticas do meu amigo; tampouco transformar este texto em peça redacional, porque é uma tarefa quase impossível sem haver emoção e ela, me toma dos pés à cabeça. Tampouco vou recordar os momentos felizes e menos ainda os tristes; confesso não conectar, ligar um ponto entre um sentimento e outro, porque não será fácil de expressar o vazio ao imaginar, Foz do Iguaçu sem o seu maior amante, um devotado visionário das coisas boas para a sua cidade. A Foz que o Chico construiu em seu pensamento, é emanada de tanto otimismo, carinho e preciosidades, que o futuro não será capaz de edificar. Quem sabe o tamanho desse amor, um dia seja convertido em merecimento e memória? Devemos honrar com justeza pessoas assim. 

Sei descrever, que a minha tristeza é sem parâmetros, paralelos. Quero ficar quietinho uns dias, lembrando com carinho as mudanças e o quanto fui aprimorado como ser humano, por meio do privilégio que foi possuir um amigo como o Chico de Alencar.  

Mando daqui um beijo na Clarice, Adriana, Alexandre e Fernando, esperando que superem a dor, porque a saudade vai ficar e ela será tão doce. Chico só se livrou do corpo, soprará por aí, como brisa de verão.

Por: GDia

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