Política muda de mãos

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Thaís Faccio, Ideias

A eleição deste ano ficará marcada na história política do Paraná e trará consigo uma mudança, talvez uma renovação, das forças políticas que comandam o Estado por décadas. Políticos de peso e que há anos dominavam a cena política local, como os ex-governadores Roberto Requião (MDB) e Beto Richa (PSDB) foram aniquilados pelas urnas.

Outros com anos de mandatos e de destaque no cenário político estadual como Valdir Rossoni (PSDB), Luiz Carlos Hauly (PSDB), Osmar Serraglio (PP), Takayama (PSC), Assis do Couto (PDT), Alfredo Kaefer (PP), Elio Rusch (DEM), Nereu Moura (MDB) e Péricles de Mello (PT), deram adeus a seus cargos.

E, na onda da mudança, do novo, do deixar a “velha política para trás”, os paranaenses viram o jovem deputado estadual, Ratinho Junior (PSD), ser eleito governador do Paraná já no primeiro turno e com quase 60% dos votos válidos. Destaque também ao delegado Fernando Franchichini (PSL), que aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro (PSL), deixou uma reeleição certa à Câmara dos Deputados, ou a disputa ao Senado Federal de lado para se tornar o deputado estadual mais votado da história do Paraná, com mais de 427 mil votos. De quebra, elegeu seu filho, Felipe Francischini (PSL), como o segundo mais votado para deputado federal.

Entre ganhadores e perdedores, Ratinho Junior e Fernando Francischini surgem no cenário como os novos pilares da política e terão papel de destaque no rumo da política paranaense nos próximos quatro anos.

Motivos
Para a jornalista, mestre em Ciência Política e doutoranda em Comunicação Política, Daniela Neves, houve uma mexida nas forças políticas, mas a renovação não será tão grande. “Com o novo governo há uma migração de lideranças, quem antes apoiava Cida Borguetti, agora deve apoiar Ratinho Junior. Além disso, o novo governador precisará das lideranças tradicionais e de apoio dos novos para poder governar. Por isso, haverá mudança, mas não tão grande como se imagina”, comentou.

Já para o cientista social, Eduardo Miranda, o cenário apresentou mudanças, mas essa mudança deve ser analisada mais tecnicamente se foi do ponto de vista do desejo de mudança e de análise do eleitor, ou por fatores externos como as ações do Poder Judiciário. “Não fosse a prisão do ex-governador Beto Richa dias antes das eleições, o quadro seria outro e hoje os senadores eleitos seriam outros”, diz, ao apontar a prisão de Richa como principal motivo para sua derrota nas urnas. “Requião ficou isolado e pagou pelo custo de ser defensor do governo Lula. E nessa onda da renovação, perderam Requião e Richa”, observa.

Com relação a eleição de Ratinho Junior, já no primeiro turno, ele credita ao fato de Osmar Dias (PDT) não ter conseguido viabilizar sua candidatura. “Não tínhamos um candidato forte que pudesse enfrentar ele. Cida tem como ponto forte seu marido, Ricardo Barros, mas pessoalmente é fraca”, pontua.

Persistência
Embora com uma trajetória política de mais de 10 anos, Ratinho Junior se descolou de figurões locais e, depois de perder a disputa à Prefeitura de Curitiba, em 2012, renasceu. Disputou uma vaga de deputado estadual – depois de exercer dois mandatos em Brasília – e tornou-se o deputado estadual mais votado na época com pouco mais de 300 mil votos. A expressiva votação, o ajudou a montar uma bancada de 12 deputados e o gabaritou para uma vaga de secretário estadual.

À frente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedu), Ratinho pode construir alianças e auxiliar muitos prefeitos, o que o ajudou a ganhar a eleição de governador. Persistente, Ratinho não desistiu e trilhou seu caminho até o Palácio Iguaçu.

Renascimento
Outro político que renasceu foi Fernando Francischini. Depois de um período conturbado, no início de 2015, como secretário de Segurança Pública e ter sido o responsável pela atuação da Polícia Militar no episódio que ficou conhecido como “Batalha do Centro Cívico”, um confronto generalizado onde 213 pessoas ficaram feridas, viu sua carreira política saltar e se tornou o deputado estadual mais votado da história do Paraná, com mais de 400 mil votos.

Um dos principais aliados de Jair Bolsonaro (PSL), Francischini fez a maior votação da história do Paraná e ajudou a carregar outros sete parlamentares do PSL para a Assembleia Legislativa. O crescimento de Jair Bolsonaro e o fator antipetismo são apontados como grandes influenciadores deste crescimento.

Adeus, ou até logo
Assim como há ganhadores, existem perdedores. E pode-se dizer que estes foram Roberto Requião e Beto Richa, que de vitória quase certa, viram suas aspirações serem derrotadas pelo novato Professor Oriosvisto Guimarães (Pode) que conquistou quase 29% dos votos e Flavio Arns (Rede), o segundo colocado, com 23%.

É a primeira vez desde que iniciou sua trajetória política que Roberto Requião ficará sem mandato. Em 1998 e 2014 ele foi derrotado por Jaime Lerner e Beto Richa respectivamente, para o governo do estado. Mas nestes dois casos, ainda tinha quatro anos de mandato como senador. O fato de estar alinhado à esquerda e ser um dos principais defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contribuíram para sua derrota nas urnas. Consolo, foi a reeleição de seu filho, Maurício Requião, como o quarto mais votado da Assembleia Legislativa.

Para a jornalista, Daniela Neves, o efeito “já ganhou” e o voto anti Beto Richa também contribuíram para a derrota de Roberto Requião. “Ele perdeu força, mas continua capitalizado. Ele continua com o comando do partido – MDB – no Estado e ainda é uma força política no Paraná”, afirma.

Enfraquecidos
Outro derrotado nas urnas foi o ex-governador Beto Richa. Dono de excelentes marcas em suas administrações, Richa viu sua pretensão ruir e de favorito a conquistar uma das duas cadeiras ao Senado Federal foi atropelado pelas urnas. Terminou a disputa em sexto lugar com pouco mais de 3% dos votos e viu seu filho, Marcello Richa, também naufragar – com pouco mais de 20 mil votos não conseguiu se eleger deputado estadual.

No caso de Richa, o fracasso nas urnas pode ser creditado ao fato de ter sido preso – dias antes da eleição – na Operação Rádio Patrulha que investiga um esquema de corrupção em um programa de manutenção de estradas rurais. “Beto Richa foi o grande derrotado destas eleições. As denúncias envolvendo seu nome e sua prisão foram um baque muito grande na sua campanha. Além disso, perdeu força e espaço dentro do seu partido – PSDB – que diminui no Paraná e também está enfraquecido em nível nacional”, analisou a jornalista. Análise parecida tem o cientista social Eduardo Miranda.

Quem também perdeu foi o PSDB. De um dos partidos mais poderosos no Paraná nos últimos anos, transformou-se numa legenda pequena. Seu principal líder, Beto Richa, viu definhar sua candidatura ao Senado Federal, seu partido perdeu as duas cadeiras de tinha na Câmara dos Deputados e a bancada estadual foi reduzida a três parlamentares (antes das eleições possuía cinco deputados estaduais). “Há um enfraquecimento das forças políticas, mas tudo vai depender do próximo ano e do andar das investigações. Nada impede que Beto Richa volte a disputar novamente as eleições”, observa Neves.

Em busca de espaço
O PP de Ricardo Barros também desceu alguns degraus. Ex-ministro da Saúde e com bom trânsito tanto na situação como na oposição do governo federal, o deputado federal viu desabar sua intenção de fazer sua mulher, Cida Borguetti, governadora do Paraná.

Cida assumiu o governo em abril e de lá para cá adotou uma série de ações para tentar conquistar o eleitorado, mas não obteve êxito e, com pouco mais de 15% dos votos, foi derrotada ainda no primeiro turno por Ratinho Junior (PSD).

Perderam o governo do Estado, mas seu marido, Ricardo Barros e sua filha, Maria Victoria, se reelegeram, respectivamente, como deputado federal e deputada estadual. Mas engana-se quem pensa que Barros saiu derrotado. Ele comanda o PP e agora terá que se alocar politicamente. “Saiu enfraquecido, mas é uma grande liderança, tem bom trânsito em nível nacional e possui um partido com boa bancada federal na mão. Terá que se ajustar as novas forças políticas”, observa a jornalista.

Na ativa
O PT, partido do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, também perdeu espaço. Mas continua firme e forte e deverá ser a grande força de oposição a partir do próximo ano. A senadora Gleisi Hoffamann, trocou a reeleição incerta ao Senado, por uma certa à Câmara dos Deputados, com mais de 200 mil votos.

Devido ao desgaste pelo qual passa seu partido, sabia que teria muitas dificuldades para se reeleger, mas mesmo assim seu partido ficou em terceiro lugar no Paraná na conquista de votos à Câmara – além de Gleisi, se reelegeram Enio Verri e Zeca Dirceu. E na Assembleia Legislativa, o partido aumentou uma cadeira passando de três para quatro eleitos.

E, apesar de ter encolhido de 69 para 56 eleitos, o PT ainda está com a maior bancada de deputados federais no Congresso Nacional. Ficou à frente apenas do PSL que passou de um para 52 deputados. “O PT pode ter dado um passo atrás, para dar outros à frente. Diferente do PSDB que esqueceu de cuidar do seu partido, o PT se organizou, analisou o cenário e ainda conta com uma militância forte e fiel”, comenta, o professor Eduardo Miranda. “O PT tem mais estrutura partidária que o PSDB, por isso, ao analisar o cenário, Gleisi viu que não teria chances de ser reeleita senadora e disputou uma vaga à Câmara Federal”, continuou.

Projeto maior
Outro que perdeu espaço foi o senador Álvaro Dias (Pode). Com mais quatro anos pela frente no cargo de senador, Álvaro decidiu apostar alto e realizar o sonho de disputar uma cadeira presidencial. Acabou em nono lugar com pouco mais de 800 mil votos e, no Paraná, sua casa, ficou em quarto lugar perdendo para Fernando Haddad (PT), que ficou em segundo lugar e Ciro Gomes (PDT), que ficou com a terceira colocação. No início da corrida eleitoral chegou a pontuar a casa dos seis pontos de intenção de voto e a ser cortejado como vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin.

Apostando na onda antipetismo e na onda da renovação, acreditou que poderia ser uma alternativa ao atual sistema. Além disso, aqui no Estado, se aliou ao PSD de Ratinho Junior e gerou descontentamento em família, já que acabou por inviabilizar a candidatura de seu irmão Osmar Dias (PDT).

O quadro político mudou, as forças também, mas não podemos esquecer que os derrotados de hoje, podem ser os vencedores de amanhã. E, em política as coisas mudam muito facilmente e tudo em nome da governabilidade.

Senado sem reeleição
De forma surpreendente, contrariando perspectivas e pesquisas eleitorais, Professor Oriovisto Guimãres (Pode) e Flávio Arns (Rede) abocanharam as duas vagas ao Senado pelo Paraná. Foram eleitos com 29% e 23% dos votos válidos, respectivamente, e desbancaram políticos tradicionais como Roberto Requião e Beto Richa.

Mais bem votado na corrida ao Senado, o professor conquistou quase 3 milhões de votos sem nunca ter disputado uma eleição ou ocupado um cargo público. Apoiado pelo governador eleito, Ratinho Junior (PSD), ele é um dos fundadores do Grupo Positivo (conglomerado formado por universidade, editora, gráfica e fábrica de celulares e equipamentos de informática).

Flávio Arns não é novo na política. Ele já ocupou a cadeira de senador de 2003 a 2011 e a de deputado federal por três legislaturas seguidas. Também já ocupou cargos públicos em duas secretarias (Educação e Assuntos Estratégicos) no governo Beto Richa.

“Renovação” de 50% na Câmara Federal
Na Câmara dos Deputados, das 30 cadeiras que o Paraná tem direito, 15 serão ocupadas por deputados federais que já exercem o mandato em Brasília e se reelegeram. São eles: Sandro Alex (PSD), Leandre (PV), Giacobo (PR), Hermes Frangão Parcianelllo (MDB), Christiane Yared (PR), Diego Garcia (PODE), Luciano Ducci (PSB), Aliel Machado (PSB), Sérgio Souza (MDB), Ricardo Barros (PP), Zeca Dirceu (PT), Rubens Bueno (PPS), Luiz Nishimori (PR), Toninho Wandscheer (PROS) e Ênio Verri (PT).

As novidades ficaram por conta dos outros 15 “novatos”. São eles: Sargento Fahur (PSD), o mais votado com mais de 314 mil votos; Felipe Francischini (PSL), que trocou a Assembleia Legislativa pela Câmara Federal; mesmo caminho seguido por Ney Leprevost (PSD), Pedro Lupion (DEM) e Schiavinato (PP).

A atual senadora Gleisi Hoffmann (PT) trocou o Senado por uma vaga de deputada federal; o ex-deputado federal e ex-prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) voltou à Câmara Federal e também entrou Paulo Martins (PSC) que já exerceu a função na condição de suplente.

Entre os estreantes Luísa Canziani (PTB), que teve o respaldo do pai, o deputado federal Alex Canziani (PTB), derrotado na disputa ao Senado; o vereador de Londrina, Filipe Barros (PSL) e o ex-vereador de Londrina Emerson Petriv, conhecido como Boca Aberta (Pros); o ex-prefeito de Pinhais, Luizão Goulart (PRB), o advogado Nelsi Coguetto Maria, conhecido como Vermelho (PSD); o comunicador Aroldo Martins (PRB) e a Aline Sleutjes (PSL).

Dois atuais deputados, 25 tentavam a reeleição, dois desistiram de qualquer disputa – Nelson Meurer (PP) e Dilceu Sperafico (PP) – e outros três nomes disputaram outros cargos. João Arruda (MDB) tentou o governo do Estado; Alex Canziani (PTB) uma vaga ao Senado Federal e Fernando Francischini (PSL) conquistou uma cadeira de deputado estadual.

Dez deles ficaram sem mandato: Alfredo Kaefer (PP), Assis do Couto (PDT), Edmar Arruda (PSD), Evandro Roman (PSD), Leopoldo Meyer (PSB), Luiz Carlos Hauly (PSDB), Osmar Bertoldi (DEM), Osmar Serraglio (PP), Valdir Rossoni (PSDB) e Takayama (PSC).

22 novos deputados estaduais
Com uma renovação de quase 40%, a Assembleia Legislativa inicia o ano de 2019 com 22 novos deputados, entre as 54 vagas. O PSL, de Jair Bolsonaro, foi o partido que mais conquistou cadeiras e passou das atuais duas para oito. Foram eleitos: Fernando Francischini, Delegado Fernando, Coronel Lee, Do Carmo, Luiz Fernando Guerra, Missionário Ricardo Arruda, Emerson Bacil e Subtenente Everton. Destes, apenas o Missionário Arruda conquistou a reeleição, os demais conquistaram o primeiro mandato e Fernando Francischini trocou a Câmara Federal pela Assembleia, caminho inverso fez seu filho, Felipe Francischini que trocou a Assembleia pela Câmara Federal.

A segunda legenda que mais conseguiu vagas foi o PSD, do governador eleito Ratinho Júnior, com seis cadeiras. Se reelegeram Guto Silva, Márcio Nunes, Cobra Repórter, Mauro Moraes, Francisco Buhrer e Delegado Recalcatti. Não conseguiram êxito nas urnas: Hussein Bakri, Ademir Bier e Alexandre Guimarães. A bancada que tinha 11 deputados agora conta com cinco, sendo que Ney Leprevost trocou a Assembleia pela Câmara Federal e Ratinho foi eleito governador do Paraná.

Na sequência vem o PSB, com cinco deputados reeleitos. São eles: Alexandre Curi, Tiago Amaral, Luiz Claudio Romanelli, Artagão Junior e Jonas Guimarães. O PT aumentou em um deputado sua bancada, passando de três para quatro: Professor Lemos, Tadeu Veneri, Arilson Maroldi Chiorato e Luciana Rafagnin, que retornou à Alep depois de um tempo fora. Péricles de Holleben Mello não conseguiu a reeleição.

Entre os partidos que mais perderam destaque ao PSC que elegeu apenas quatro: Evandro Araújo, Gilson de Souza, Reichembach e Mabel Canto. Não conseguiram a reeleição Cantora Mara Lima, Claudio Palozi e Claudia Pereira. E o PSDB de passou de cinco para três representantes: Paulo Litro, Michele Caputo e Ademar Traiano. Não voltam: Evandro Junior e André Bueno. O PP manteve seus deputados: Gilberto Ribeiro, Maria Victoria e Luiz Carlos Martins. O deputado Schiavinato se elegeu deputado federal.

O PPS ganhou um deputado e passou dos atuais dois para três deputados: Cristina Silvestri, Tercilio Turini e Douglas Fabrício. O MDB perdeu um deputado e elegeu apenas Mauricio Requião e Anibelli Neto. Ficou de fora Nereu Moura.

Com dois representantes cada estão o PV com Estacho e Soldado Adriano José; o PR com a eleição do Delegado Jacovos e Marcel Micheletto; o PDT com Goura e Nelson Luersen: PROS com Homero Marchese e Soldado Fruet; DEM com Nelson Justus e Plauto Miro – o deputado Elio Rusch não conseguiu a reeleição e Pedro Lupion foi eleito deputado federal.

Com um representante cada estão o Pode com Galo; o PTB com Tião Medeiros; o PRTB com Boca Aberta Júnior; o PMN com Dr. Batista; o PPL com Márcio Pacheco e o PRB com Alexandre Amaro – o deputado Edson Praczyk não disputou a eleição neste ano.

Adelino Ribeiro (PRP) não conseguiu se reeleger; Marcio Pauliki (SD) que trocou a Assembleia pela Câmara Federal também não passou pelo crivo das urnas e Rasca Rodrigues e Scanavaca decidiram por não concorrer novamente.

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