Curitiba fecha cerco a bares mas não resolve aglomerações nos ônibus na pandemia

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Ônibus lotado em Curitiba (Foto Colaboração)

Enquanto a prefeitura fecha o cerco e ameaça cassar alvarás de bares e estabelecimentos que promoverem aglomerações,o transporte público de Curitiba é foco de aglomeração de passageiros diariamente nos horários de pico.

Situação que se agravou após a reabertura de praticamente todo o comércio, indústria e serviços da cidade – apenas as instituições de ensino seguem fechadas.

Prefeitura e representantes dos setores que mais movimentam trabalhadores na cidade negociam, agora, um escalonamento nos horários de funcionamento, para tentar pulverizar a distribuição de passageiros ao longo do dia.

Se a média diária de passageiros no transporte está abaixo dos 300 mil, enquanto, antes da pandemia, os ônibus de Curitiba transportavam 754 mil passageiros por dia, a concentração nos horários de pico tem gerado aglomerações e descumprimento da determinação de que os veículos circulem com 50% de sua lotação máxima. Segundo as empresas de ônibus, quase metade do tráfego diário de passageiros ocorre neste período de cinco horas, entre 6 h e 8 h e entre 16h30 e 19h30. Com quase nenhuma distância entre as pessoas, o transporte público é o local onde há o maior risco de contaminação pelo novo coronavírus.

“Há caça às bruxas e ameaça de se fechar o comércio, mas as pessoas não estão pegando a doença nas lojas ou mesmo nos shoppings. Estão pegando no ônibus. E não adianta fechar o comércio, o grande volume de passageiros do transporte coletivo é de trabalhadores nos serviços essenciais”, afirma o presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), Camilo Turmina. A ACP orientou os lojistas a deixar de comprar vale-transporte para os funcionários e repassar o valor para que usem os próprios veículos, táxi ou aplicativos de transporte.

“Funcionários podem se organizar em grupos de quatro pessoas e rachar a gasolina do veículo de um deles, ou, mesmo um carro de aplicativo. Empresas podem oferecer outros serviços, como o de vans. Se o problema está no transporte público, que se feche o transporte público, não o comércio. Nós buscaremos alternativas”, diz Turmina, citando o exemplo de Florianópolis, onde o serviço do transporte coletivo foi interrompido.

O presidente da ACP concorda, no entanto, com o escalonamento de horários para tentar desafogar o transporte público. “O comércio já está fazendo isso. O varejo está funcionando das 10 h às 17 h, os shoppings estão ficando abertos das 12 h às 20 h. Tudo o que combinamos com a prefeitura, está sendo cumprido. Para que isso funcione, no entanto, o prefeito tem que legislar por decreto. Determina o horário de funcionamento escalonado, fiscaliza e pune quem descumprir. Mas o que ouvimos do prefeito é que o ônibus não pode andar vazio, porque isso causaria um prejuízo financeiro muito grande ao erário”, critica.

O escalonamento de horários de funcionamento dos estabelecimentos é, também, a proposta das empresas de ônibus de Curitiba. “Temos que pulverizar o volume de pessoas que utiliza o transporte coletivo, pulverizando a abertura dos estabelecimentos. Será que a pastelaria que está abrindo às 8 h da manhã tem gente para consumir neste horário, o boteco? Alongando os horários de abertura do comércio, da indústria e do serviço, distribuímos melhor o horário que as pessoas estão utilizando os ônibus”, comenta o diretor executivo do Sindicato das Empresas de Transporte (Setransp), Luiz Alberto Lenz César.

“Os ônibus estão saindo dos terminais com 50% da sua capacidade, mas, ao longo do percurso, ele vai pegando pessoas nas estações-tubo. É um caso de conscientização, não embarcar em ônibus cheio, passa um ônibus a cada quatro minutos”, acrescenta.

Citando que algumas linhas já estão funcionando com 100% da frota, Lenz afirma que, em tempos de pandemia, o embarque nos ônibus deveria ter prioridades. “Temos que focar o ônibus para os profissionais essenciais. Para que os trabalhadores da saúde, da segurança, estejam em seus locais de trabalho no horário correto. Os demais podem embarcar em qualquer hora do dia”.

Urbs vai mapear sistema

A Urbs, empresa municipal que gerencia o transporte coletivo em Curitiba, informou que está fazendo um mapeamento do uso dos ônibus por setor para propor um escalonamento de horários e evitar aglomerações nos ônibus. “Estamos cruzando os dados do CNPJ das empresas e os cadastros por segmento com a utilização do vale- transporte pelos funcionários. Isso vai nos dar um panorama de que segmentos estão concentrando o fluxo de passageiros nos horários de pico”, explica o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto. “A partir desse diagnóstico, poderemos traçar uma estratégia conjunta para evitar a lotação nos ônibus e garantir segurança ao usuário”, diz.

O resultado do estudo será apresentado na próxima segunda-feira (15) não só à ACP, mas também à Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), à Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio PR) e a Coordenação da Região Metropolitana (Comec).

A Urbs reconheceu que, apesar de funcionar com frota de 80% e o movimento de passageiros estar em 35% do normal, os horários de pico da manhã e da noite passaram a registrar forte movimento com a reabertura do comércio.

Com a reabertura dos shoppings, no dia 25 de maio, a Urbs já havia ampliado de 65% para 80% o uso da frota de 1,5 mil veículos. A linha Inter 2 passou a funcionar com 100% da frota nos dias úteis. As linhas expressas Pinheirinho-Rui Barbosa, Santa Cândida-Capão Raso e Circular Sul operam com 90% da capacidade nos horários de maior movimento e as linhas alimentadoras, que atuam na região Sul da cidade, trabalham com 100% no horário de pico.

Também houve reforço na linha Boqueirão-Centro Cívico nos picos da manhã e da noite. O presidente da Urbs lembra, ainda que as assepsias urbanas, em terminais e estações tubos, e as ações de desinfecção dos ônibus são permanentes.

Por: Tribuna

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