Representantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental relatam preocupação em relação à exposição dos profissionais na entrega e recolhimento de atividades; sindicato pede exames de Covid-19.
Em ofício encaminhado à Secretaria Municipal de Educação (SMED), o Sindicato dos Professores e Profissionais da Educação da Rede Pública Municipal de Foz do Iguaçu (SINPREFI) afirma ter recebido inúmeros questionamentos e, muitas vezes, “pedidos de socorro”, de profissionais da Educação no período de desenvolvimento das atividades remotas, iniciado pela SMED no dia 4 de maio. “Eles não se negam a trabalhar, mas sentem necessidade de informações que preservem a saúde deles e o desempenho profissional também,” explica a presidente do SINPREFI, Marli M. de Queiroz. Segundo ela, o sindicato irá divulgar o teor dos depoimentos, mas não os nomes dos profissionais envolvidos para resguardá-los e cumprir o papel de porta-voz da categoria.
O ofício foi encaminhado na última sexta-feira (19) e contém uma lista de questionamentos elaborados pelos diretores sindicais a partir de abordagens feitas pela categoria. Entre as questões, o sindicato pergunta se serão disponibilizados exames de Covid-19 para todos os profissionais que estão realizando atendimento presencial, de modo a preservar a saúde deles e dos familiares. Questiona, ainda, como está sendo o processo de recebimento das atividades remotas e quais são as orientações e medidas de segurança e proteção adotadas para o manuseio e correção das atividades.
Um dos levantamentos mais significativos feitos com a categoria ocorreu em reunião por videoconferência, no dia 5 de junho, com os representantes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, nomeados pelos filiados em Assembleia Geral. Os relatos comprovam preocupação geral com a saúde dos profissionais que têm ido às escolas para fazer atendimento à comunidade escolar, especialmente durante as entregas e recolhimentos das atividades remotas – que têm ocorrido a cada 15 dias. Além disso, os professores responsáveis por correção de atividades escolares também manifestam insegurança em função do contato que têm com materiais provenientes de diversos alunos. Quase 10 dias depois, o SINPREFI participou de reunião on-line com a secretária de Educação, Maria Justina da Silva, mas não foi possível expor os questionamentos devido à plataforma escolhida – que limitava o tempo de duração da reunião – havendo outros assuntos em pauta.
Aulas remotas
A Secretaria Municipal de Educação (SMED) retomou o calendário escolar no dia 4 de maio, com atividades remotas entregues a familiares dos 26 mil alunos do município e que devem ser feitas em casa. Há um cronograma para retiradas e entregas, a cada 15 dias, mas os profissionais informam que, apesar disso, está havendo aglomeração. Em relação aos alunos do berçário e do maternal, os responsáveis têm recebido o material por e-mail ou WhatsApp. As aulas presenciais da Rede Municipal foram suspensas em Foz do Iguaçu no dia 17 de março, por causa da pandemia do Novo Coronavírus.
O sindicato também tem recebido depoimentos de professores que estão trabalhando mais que a carga horária normal, pois precisam fazer os atendimentos remotos com os pais dos alunos fora do horário estabelecido pela escola. Eles também afirmam que usam aparelhos particulares de telefone para cumprir as atividades. Alguns profissionais contam que não dispõem de recursos tecnológicos, sinal de internet de qualidade e habilidade para gravar vídeos e que isso pode comprometer ainda mais a relação entre escola e aluno, já tão fragilizada pelo distanciamento imposto pela pandemia.
A questão pedagógica
Além de reivindicar mais cautela em relação aos riscos à saúde física e mental dos profissionais da Educação, o SINPREFI também levanta argumentos em relação ao comprometimento da relação ensino-aprendizagem, levando-se em conta o contexto de aulas remotas instituído na Rede Pública Municipal. “Não houve uma formação com os professores,” afirma o sindicato no ofício, “para orientá-los sobre todos os novos procedimentos pedagógicos adotados pelo munícipio durante o período de atividades remotas.” Parte dos profissionais da Educação considera esse modelo de ensino excludente, não atingindo todos os alunos e não havendo aprendizagem real, pois a maioria das famílias não possui estrutura, nesse momento, para de fato dar assistência educacional para as crianças.
Para os representantes do Ensino Fundamental, a preocupação atual está relacionada ao conteúdo escolar já considerado “comprometido”, pois a proposta das atividades remotas está atrelada aos conteúdos já trabalhados nos anos anteriores ou à retomada dos conteúdos abordados antes da suspensão das aulas presenciais, ou seja, não estão trabalhando com os “conteúdos novos”. Muitos professores também dizem sentir desconforto por ter a imagem sendo exposta publicamente.
Sem resposta
A presidente do sindicato dos profissionais da Educação do município, Marli M. Queiroz, enfatiza que o sindicato tem enfrentado dificuldade em ser atendido pelos gestores públicos municipais em razão da pandemia, mesmo em relação a ofícios protocolados antes do Novo Coronavírus se alastrar e do isolamento social ser determinado em meados de março. A luta para que os direitos conquistados em Plano de Carreira próprio sejam respeitados é anterior a esse novo cenário.
O SINPREFI considera que seja necessária a formação de um comitê com participação dos representantes das comissões representativas da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e demais setores envolvidos na Educação, juntamente com Gestão Administrativa, equipe da SMED, equipe da Secretaria de Saúde e representantes da comunidade escolar para debater esses questionamentos antes de possível retorno das aulas presenciais.