Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad Del Este sofrem com crise sanitária e falta de diálogo entre os governos de Brasil, Argentina e Paraguai; Ponte da Amizade está fechada desde março
Rodrigo Rivera e sua esposa, Laura, são guias de turismo em Puerto Iguazú. No fim de fevereiro, contabilizavam o resultado da alta temporada na cidade argentina de 50 mil habitantes, conhecida por dividir as cataratas com Foz do Iguaçu.
Conta Bruno Marinho, em O Globo, que com o dinheiro, parcelaram um carro e uma viagem de férias para o Rio de Janeiro. Quatro meses depois, não pagam mais o automóvel e o passeio foi cancelado.
Desde março não trabalham por causa da pandemia do novo coronavírus. O que haviam economizado agora é usado para bancar a alimentação do casal e dos dois filhos.
Eles não estão sozinhos. Em Puerto Iguazú, praticamente não há outra atividade econômica. Vive-se do turismo, seja como guia ou motorista, seja trabalhando na rede hoteleira ou no aeroporto internacional.
O comércio de vinhos, queijos e doce de leite e os restaurantes, dependem quase que totalmente dos visitantes.
Tudo está parado, acentuando ainda mais as carências da cidade, localizada na província de Misiones, uma das cinco mais pobres entre as 24 que compõem o território argentino.
Desde o começo de março, as fronteiras argentinas estão fechadas, em uma das quarentenas mais rígidas do mundo.
Rodrigo não consegue mais levar o filho ao pediatra em Foz, ir ao dentista no país vizinho e nem comprar o frango pela metade do preço nos supermercados brasileiros.
Sua família não passeia mais nos shoppings em Ciudad del Este, cidade paraguaia que forma com Puerto e Foz a Tríplice Fronteira, talvez a divisa brasileira mais atingida pelos efeitos da Covid-19.
— Está tudo fechado e sem previsão de abrir de novo. A ponte para o Brasil está fechada, o aeroporto está fechado, estamos passando por um momento muito difícil. A maior parte dos turistas que recebemos vem de Buenos Aires, mas nada adianta se as grandes cidades argentinas estão entrando no auge da pandemia — questiona Rivera, de 41 anos, guia há 16.
Mesmo se o argentino pudesse deixar o país e tivesse dinheiro para gastar com brinquedos e eletrônicos, ir à cidade paraguaia das compras hoje poderia ser desolador.
Com a Ponte da Amizade, que liga Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, fechada desde 18 de março, o comércio no lado guarani sucumbe.
Em um efeito dominó, as lojas fecham, gerando uma massa de desempregados, boa parte deles brasileiros que cruzavam as fronteiras todos os dias, o que acaba por impactar a economia de Foz.
Mohamed Omairi, de 27 anos, gerente de uma loja em Foz, até agora conseguiu escapar dos cortes. De casa, vê os esforços dos empresários de Ciudad del Este para conseguirem alcançar os brasileiros, principais consumidores de suas mercadorias.
Uma iniciativa foi a proposta de um sistema de delivery, em que a loja paraguaia faria a entrega no Brasil da compra realizada pela internet. A Receita Federal vetou.
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