Um estudo com participação de docentes da UNILA concluiu que, em Foz do Iguaçu, o enfrentamento do Aedes aegypti com base na dispersão de inseticida via UBV (Ultra Baixo Volume) – os chamados fumacês – não provoca a diminuição desse mosquito, responsável por transmitir doenças como dengue, chikungunya, zika e febre amarela.
Um artigo (bit.ly/inseticidadengue) com o resultado dessa pesquisa foi publicado em outubro deste ano, na revista Tropical Medicine and International Health. Entre os participantes desse estudo, estão os docentes da UNILA Wagner Chiba de Castro, da área de Ciências Biológicas, e Alessandra Cristiane Sibim, pesquisadora na área de probabilidades e bioestatística. Ambos, desde 2016, contribuem com dados científicos gerados a partir de demandas do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Foz do Iguaçu.
A principal demanda é “fornecer subsídio metodológico para algumas atuações do órgão [CCZ-Foz do Iguaçu], buscando o rigor científico na execução e análise de atividades que envolvem zoonoses, doenças transmitidas por vetores e acidentes causados por animais peçonhentos no município. Dentre as demandas mais recorrentes, estão aquelas relacionadas à dengue”, esclarece o professor Wagner Chiba de Castro. As estatísticas da doença em Foz do Iguaçu mostram a importância desses estudos científicos. No ano epidemiológico de agosto de 2019 a julho de 2020, foram mais de 19 mil casos confirmados de dengue, cerca de 26 mil notificações, além de 8 mortes causadas pela doença, segundo dados da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde e Saneamento da cidade. No início de 2020, a prefeitura de Foz do Iguaçu chegou a decretar estado de emergência devido à epidemia de dengue.
Na pesquisa sobre a eficácia da dispersão de inseticida UBV, realizou-se um experimento em 18 locais da cidade, sendo 9 com a aplicação da metodologia UBV e 9 sob situação-controle, ou seja, sem aplicação da metodologia. Esse estudo foi conduzido nos meses de novembro e dezembro de 2017. Os resultados mostraram que, nos locais de aplicação, não houve diminuição de mosquitos Aedes aegypti adultos, em comparação com a situação-controle. Em uma parceria com o professor Mário Navarro da Silva, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a pesquisa demonstrou, também, que os mosquitos Aedes aegypti encontrados em Foz do Iguaçu apresentam resistência ao inseticida malathion, amplamente utilizado nos fumacês.
Ainda nesse estudo, ovos de mosquito coletados no município foram levados, para criação, ao Laboratório de Morfologia e Fisiologia de Culicidae e Chironomidae (LAMFIC) da UFPR. Comparou-se a mortalidade entre gerações de mosquito provenientes destes ovos coletados em Foz do Iguaçu, com uso de inseticida malathion, e gerações de mosquito Aedes aegypti chamadas “Rockefeller” – com comprovada ausência de resistência. “Os resultados demonstram que o mosquito de Foz é menos suscetível ao inseticida do que as cepas Rockefeller, comprovando a resistência ao malathion e a necessidade de novos princípios ativos para o combate de alados no município”, explica o professor Wagner Chiba de Castro.
Controle de vetores
As pesquisas com participação de docentes da UNILA têm direcionado experimentos que visam testar a eficácia de metodologias de combate à dengue, com a finalidade de gerar conhecimento para subsidiar tomadas de decisão em Foz do Iguaçu e também em outros locais. Esses estudos foram feitos em parceria com integrantes do Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu, como o veterinário André de Souza Leandro, doutorando da Fiocruz. Em outra pesquisa, realizada em março de 2017, avaliou-se a eficácia da metodologia de controle de vetores utilizada pelo município. O CCZ-Foz do Iguaçu utiliza a combinação de armadilhas de mosquitos distribuídas por toda a cidade e a detecção molecular da presença do vírus da dengue no mosquito Aedes aegypti. Assim, o órgão consegue direcionar a atuação de seus agentes nos locais com maior potencial de disseminação da doença.
Os resultados dessa pesquisa demonstraram que a metodologia desenvolvida pelo CCZ-Foz do Iguaçu propicia uma diminuição de 55% no número de casos de dengue, se comparada à metodologia preconizada pelo Ministério da Saúde. “O município de Foz do Iguaçu conta com uma estrutura excelente de vigilância entomológica e com uma equipe especializada para realizar os índices de mosquitos na cidade. Isso possibilita conhecer a quantidade e localização do mosquito, com precisão de apenas uma quadra (ou quarteirão). Esta é uma ferramenta fundamental no combate ao mosquito”, avalia Castro.
O artigo (bit.ly/controlevetores) dessa pesquisa foi publicado em 2019, na revista acadêmica Vector-Borne and Zoonotic Diseases, e assinado pelos docentes da UNILA Wagner Chiba de Castro, Alessandra Cristiane Sibim, Flávia Trench e Walfrido Svoboda; pela mestra em Biociências pela UNILA Açucena Rivas; além de integrantes do Centro de Controle de Zoonoses de Foz do Iguaçu, da Secretaria Municipal de Saúde; do Centro de Medicina Tropical (CMT) da Tríplice Fronteira, da Fundação Itaiguapy e do Instituto de Ensino e Pesquisa; do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública da Universidade Paranaense (Umuarama); da Itaipu Binacional; dos departamentos de Medicina Clínica e de Medicina Veterinária, da UFPR; e do Departamento de Patobiologia Comparativa da Purdue University, de Indiana (EUA).
Cooperação
Essas pesquisas que fornecem subsídios para as ações do município no combate ao mosquito Aedes aegypti mostram a relevância de estudos que reúnem esforços interinstitucionais, que incluem a UNILA. Nesse sentido, a Universidade está em processo de formalização de acordo de cooperação técnica com a Secretaria de Saúde de Foz do Iguaçu, nos âmbitos técnico, operacional e de apoio, por meio da mobilização de recursos humanos, físicos e materiais.
O objetivo é a realização de projetos de pesquisa envolvendo amostras biológicas derivadas dos programas de zoonoses, vetores, fauna sinantrópica nociva, vigilância da qualidade da água, bem como atividades educativas com o intuito de reduzir os impactos na saúde pública em Foz do Iguaçu. A previsão é de que o acordo possa ser assinado no primeiro semestre de 2021.