Morreu neste sábado (02), aos 79 anos de idade, o pioneiro Santo Salvatti, ex-presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindihotéis) e sócio-fundador do Hotel Salvatti. Em nota o Sindihotéis lamentou a perda e, em nome da Diretoria e associados, deixou condolências aos familiares.
O desenvolvimento de Foz do Iguaçu e do Sindhotéis estão diretamente ligados a trajetória de Santo Salvatti. O empresário foi sócio-fundador da Associação de Hotéis e Similares de Foz do Iguaçu, fundada em 1974, que viria a dar origem ao Sindhotéis em maio 1975.
“Perdemos um amigo, um empreendedor e ex-presidente do sindicato (1979 a 1982), com um grande legado para a nossa história”, lamentou o presidente do Sindhotéis, Neuso Rafagnin.
O corpo de Santo Salvatti será velado a partir das 19h deste sábado na capela do Cemitério São João Batista de Foz do Iguaçu. O enterro acontecerá no domingo (03), às 10h da manhã.
Agora pouco Bebel Salvatti, filha do pioneiro, postou o seguinte comunicado nas redes sociais:
“Boa tarde a todos familiares e amigos do nosso pai Santo Salvatti.
Vimos através desta informar o falecimento de nosso pai querido hoje dia 02 de janeiro de 2021 às onze da manhã de uma parada cardíaca em consequência da Covid 19.
Seu corpo será velado a partir das 19 horas do dia de hoje
na capela do Cemitério São João Batista de Foz do Iguaçu. O enterro acontecerá amanha dia 3, domingo, às 10:00 horas da manhã.
Deus receba nosso pai em seu paraíso.“
Em homenagem a Santo Salvatti, o Sindihotéis resgatou sua trajetória registrada no livro “Memórias”, editado pela instituição, em 2017.
Abaixo a íntegra do texto:
“Um empreendedor que acredita no futuro
Santo Salvatti nasceu em Concórdia, Santa Catarina, em novembro de 1941. Passou a infância em Cacique Doble e, com 12 anos de idade, foi para Vila Flores e Veranópolis, no mesmo estado, onde estudou num colégio de freis capuchinhos. Mais tarde, viveu em Porto Alegre, de 1959 a 1962. Neste ano, veio para Foz do Iguaçu trabalhar, numa empresa da família, com exportação de madeira para a Argentina.
Naquela época, a população de Foz era de aproximadamente 25 mil habitantes, e a cidade não tinha asfalto, água encanada, esgoto nem energia elétrica (somente das 18h às 22h). Enfim, a infraestrutura era muito precária. A travessia do Rio Paraná era feita de lancha. Santo Salvatti lembra que quando precisava de serviços como comunicação com Buenos Aires, Rosário, Curitiba ou Porto Alegre, ia para Puerto Iguazú, onde havia um rádio no prédio do correio que contatava com a telefonia central de Buenos Aires. De lá também era mais fácil a locomoção aérea.
Paralelamente ao trabalho na empresa familiar, o jovem adquiriu, como negócio particular, a hoje extinta Churrascaria dos Pampas, localizada na Rua Almirante Barroso, porque percebeu no turismo uma das principais atividades econômicas nas Três Fronteiras. Foz não era vista como ponto turístico, apesar de as Cataratas já serem conhecidas mundialmente. Havia poucas churrascarias e poucos hotéis, recorda o empresário.
— Sempre gostei da área de hotelaria e gastronomia, porque em Porto Alegre fui trabalhar justamente em um hotel, além de estudar à noite. Peguei gosto e conhecimento. Então chegando aqui percebi o potencial do turismo de Foz do Iguaçu. Após a Churrascaria dos Pampas, tive outro negócio no turismo, alugando o antigo Gralha Azul. Também comprei a primeira Kombi que levava os turistas aos pontos turísticos de Foz do Iguaçu.
Por isso mesmo, resolveu apostar e permanecer em Foz. Após quatro anos de sua chegada, casou-se com Ivanilde Maran Salvatti em 1966. Da união nasceram os quatro filhos do casal: Dalton, Newton, Isabel e Thiago.
A ideia do empreendedor era também abrir um hotel. Para viabilizar o negócio, vendeu a churrascaria e, em 1974, inaugurou o Hotel Salvatti, que pertencia à família Salvatti – no qual funcionou um cinema e a primeira discoteca da cidade. Estabelecimento padrão quatro estrelas, sediou o primeiro escritório de Itaipu e recebeu vários hóspedes importantes. Posteriormente, em 1979, o empresário adquiriu o San Martin Hotel, do qual é sócio-diretor atualmente.
“O Hotel Salvatti foi considerado na época, depois do Hotel das Cataratas, o melhor hotel do Oeste paranaense. Era um de quatro estrelas muito conceituado. O perfil daqueles que nos visitavam não era de compras, como também não é mais hoje, era turismo de família, de convenções, pessoas de poder aquisitivo mais elevado do que é hoje.”
O sindicato
Santo Salvatti é sócio-fundador da Associação de Hotéis e Similares de Foz do Iguaçu, fundada em 1974. Em uma das reuniões, foi constituído o estatuto do atual sindicato. Ele lembra com orgulho a mobilização na época que transformou a associação em sindicato, certificação atribuída pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, em 19 de junho de 1974. Em 1979, já com o Sindhotéis formalizado, Salvatti ocupou a presidência.
— Um de nossos objetivos era evitar a má imagem de Foz do Iguaçu de dois aspectos: o trabalho do “piranha”, pois não temos a necessidade de que ele indique o hotel em que o turista tem que ficar, e a imagem que começou a surgir na época que Foz era só contrabando, só tóxicos.
Em sua opinião, o sindicato sempre foi atuante, protegendo os empresários e colaborando na divulgação de Foz, por isso sua gestão buscou unir a categoria, incentivar o trabalho em conjunto, criar metas de curto, médio e longo prazo, sempre olhando para o futuro para construir uma perspectiva de desenvolvimento turístico. O terreno da atual sede do sindicato foi uma doação da prefeitura (gestão de Clóvis Cunha Vianna) quando ele era presidente.
“A criação do sindicato era necessária para Foz do Iguaçu porque criou o espírito de associativismo entre os hoteleiros. Os problemas e as soluções deságuam no Sindhotéis. A entidade é um elo de toda a classe turística iguaçuense, tanto da hotelaria quanto da gastronomia, entre outros segmentos.”
Segundo ele, hoje a imagem negativa do passado não existe, pois a cidade é um destino turístico consolidado. Mas ainda é necessário resolver problemas de infraestrutura, como no aeroporto, na entrada de Foz e na BR-469. As adversidades, porém, não tiram seu otimismo. Para ele, alguns dos problemas são a falta de união do povo e a incapacidade de eleger bons políticos, a exemplo de um deputado federal para defender os interesses locais em Brasília.
— Os governantes deveriam olhar mais para Foz, pois aqui o turismo é uma das atividades que mais geram riqueza, empregos e renda. Ela está numa posição geográfica privilegiada, então tem condições de ser um grande centro da América do Sul, porque a tendência da cidade é progredir.“