Os pesquisadores também esclarecem questões sobre a gravidade das novas variantes do vírus e explicam como elas afetam a situação atual da pandemia
Em junho, o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortos pela Covid-19. Um dos motivos do agravamento da pandemia neste ano foi a disseminação de novas variantes do coronavírus, em sua maioria mais transmissíveis e letais do que a cepa original, o que preocupa profissionais da saúde, autoridades e cientistas ao redor do mundo.
Em respostas à sociedade, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) esclarecem aspectos das novas linhagens do vírus – como surgem, quais seus efeitos para o organismo, como impactam na vacinação, entre outras questões. As perguntas foram enviadas para a Agência Escola UFPR por meio da ação Pergunte aos Cientistas, que busca facilitar o acesso da população ao conhecimento científico.
A solução apontada pelos cientistas para interromper a disseminação das variantes existentes, bem como evitar o surgimento de outras cepas, é impedir a circulação do vírus. “É essencial continuar com o bom senso e o esforço coletivos, mantendo as atitudes de prevenção, como o isolamento e o distanciamento social, o uso correto de máscaras e a higiene das mãos”, explica a professora Juliana Maurer, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, uma das pesquisadoras que respondeu às perguntas da sociedade.
Roseli Wassem, pesquisadora do Departamento de Genética da Universidade que também participou da ação, complementa que a vacinação é essencial para reduzir as infecções pelo coronavírus. “Vacinar é um ato de proteção individual e também coletivo, pois diminui a circulação do vírus. Enquanto poucos estiverem vacinados, as chances de contrair a doença ainda são muito grandes”, reforça.
Além de Juliana e Roseli, colaboraram para esta edição do Pergunte aos Cientistas Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR; Alexandra Acco (professora) e Maria Carolina Stipp (aluna de pós-graduação) do Departamento de Farmacologia da Universidade; Patrícia Dalzoto e Vânia Vicente, professoras do Departamento de Patologia Básica; Douglas Adamoski, do Departamento de Genética da UFPR; Ricardo Belmonte-Lopes, aluno do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia; e Bruno Lustosa, estudante do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade. Confira abaixo as respostas dos cientistas.
“As novas variantes contaminam as pessoas que já receberam as duas doses da vacina? Como isso afeta a vacinação?” (Ibere Dittert, 26 anos, publicitário, Curitiba-PR)
“Como as novas variantes afetam a vacinação?” (Felipe Moreira Matias, 21 anos, estudante, Curitiba-PR)
“As novas variantes podem responder de forma diferente às vacinas já desenvolvidas?” (Matheus Notelo)
“As vacinas atuais são eficazes para as novas variantes?” (Kátia Avelar, economista)
“Como fica a proteção das vacinas usadas no Brasil agora com as novas variantes?” (Helena Argolo, 43 anos, jornalista, Salvador-BA)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – As novas variantes podem infectar pessoas já vacinadas e elas podem ser transmissoras do vírus, embora, na maioria das vezes, passem pela infecção de forma assintomática ou com sintomas leves.
O surgimento de novas variantes ocorre por mutações no material genético do vírus (RNA). Quanto mais o vírus multiplica, maior a chance de surgirem novas mutações. Por isso, as variantes costumam surgir em locais onde a epidemia ainda não está controlada, uma vez que o vírus está circulando e se multiplicando muito.
As vacinas contra a Covid-19 existentes até o momento apresentam diferentes mecanismos. A CoronaVac (Butantan/Sinovac) utiliza o vírus inativado (morto) e, neste caso, o próprio vírus é capaz de estimular a produção de anticorpos pelo nosso organismo. Assim, quando em contato com o vírus SARS-CoV-2, ele é neutralizado pelos anticorpos.
A vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruz emprega uma tecnologia que usa um vetor viral não replicante, ou seja, um adenovírus (vírus de resfriado comum) que não tem capacidade de se multiplicar. Esse adenovírus é modificado geneticamente para expressar uma proteína do SARS-CoV-2, a proteína S (spike), presente na superfície do vírus. Essa proteína estimula o sistema imune do hospedeiro e esse passa a produzir anticorpos contra essa proteína.
A vacina Pfizer/BioNTech utiliza a tecnologia do RNA mensageiro (mRNA). Ela contém a informação genética para a proteína S do vírus na forma de mRNA e essa molécula é capaz de estimular fortemente o nosso sistema imune, levando à produção de anticorpos. O imunizante da Moderna também utiliza a tecnologia do mRNA.
A vacina Sputnik-V também emprega vetores virais não replicantes para estimular a produção de anticorpos, mas no caso dessa vacina, são dois adenovírus diferentes, em cada uma das doses.
O imunizante da Janssen/Johnson & Johnson também utiliza um adenovírus modificado com material genético de SARS-CoV-2, mas, ao contrário das vacinas citadas anteriormente, é necessária apenas uma dose para alcançar a imunidade desejada.
No caso das novas variantes, as vacinas continuam efetivas, a menos que ocorra uma alteração significativa nas proteínas de superfície do vírus, de modo que os anticorpos produzidos não reconheçam mais essas proteínas e não sejam mais capazes de neutralizar o vírus.
Portanto, é importante controlar a disseminação viral, fazer com que o vírus diminua a circulação e, em consequência, reduza sua multiplicação. Isso limitará o surgimento de novas variantes e diminuirá o risco de surgirem modificações que não sejam contempladas pelas vacinas utilizadas até o momento. Até que 70% a 80% da população seja vacinada, devemos continuar mantendo o distanciamento social, usando máscaras e fazendo a higiene das mãos.
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