Cidade é referência estadual com taxa de conversão de 69% das notificações em 2020 e de 75% das ocorrências de janeiro a junho deste ano
O sistema de saúde de Foz do Iguaçu realizou, na última semana, a sétima captação de órgão em 2021. O procedimento é resultado do gesto do professor e instrutor de hipismo Márcio Valiati, 40 anos, que deixou claro em vida o desejo de ajudar outras pessoas após sua morte. O doador teve morte encefálica reconhecida na terça-feira (27 de julho) após uma batida na cabeça.
Os protocolos para captação de órgãos são bastante complexos e dependem de diversos fatores, mas especialmente da solidariedade. Márcio Valiati sofreu uma queda em nível, quando bateu forte a cabeça, passou por uma longa e delicada cirurgia, mas não resistiu ao ferimento.
O instrutor de hipismo era reconhecido e muito prestigiado no Brasil e no Paraguai. Sua morte provocou muita consternação entre alunos e colegas de futebol. Antes de falecer, pediu à família que se fosse possível, era para doar seus órgãos.
“A captação de órgãos humanos para doação depende muito da solidariedade do doador e especialmente da compreensão da família, que dá a permissão final”, disse a secretária municipal de Saúde, Rosa Jerônymo. “A esperança para quem aguarda na fila de transplantes. Compreender a continuidade da vida de um ente querido a partir da doação de um órgão é o que move essas famílias ao tomarem a decisão”.
Foz do Iguaçu é referência estadual neste tipo de procedimento, com taxa de conversão de 69% das notificações em 2020 e de 75% das ocorrências de janeiro a junho deste ano. Os procedimentos são realizados nos hospitais Municipal Padre Germano Lauck e Ministro Costa Cavalcanti.
Procedimento
A captação múltipla dos rins, fígado e pâncreas do instrutor de hipismo foi a primeira realizada este ano no Costa Cavalcanti este ano. De janeiro a junho, a unidade de saúde teve sete notificações de possíveis doadores, porém todas foram descartadas por Contra Indicação Clínica (CIC).
Em 2020, o hospital realizou três captações múltiplas por morte encefálica e cinco de globo ocular por morte por PCR (parada cardíaca). Os procedimentos foram realizados até março. “Quando começou a pandemia não conseguimos captar”, informa a assessoria do hospital. “Tivemos vários protocolos, porém, não foram validados para doação, alguns por causa do covid”.
O Hospital Municipal responde pela maioria das captações para doação em Foz do Iguaçu. Em 2021, nos primeiros seis meses, foram 17 notificações, que resultaram em 10 doadores elegíveis – sete foram descartados como CIC, um PCR (vírus da covid-19) e um sem confirmação da morte encefálica. Dos elegíveis, oito foram para a entrevista familiar – seis tiveram autorização e dois houve recusa (taxa de conversão de 75%).
Em 2020, o Hospital Municipal registrou 48 notificações, que resultaram em 31 doadores elegíveis. Do total de notificações, 29 foram para entrevista familiar (com 20 aprovações e nove recusas), 17 foram descartados por CIC. A taxa de conversão, ou seja, a captação e doação efetiva, ficou em 69%.
De acordo com a Central de Cascavel, dos 31 considerados doadores, dois acabaram não indo para a entrevista familiar. Isso ocorreu porque um deles foi morte encefálica não confirmada (não fechou o protocolo) e outro teve resultado positivo no exame RT-PCR (covid-19).
Protocolo
Para se tornar doador, mesmo após morte encefálica reconhecida, é necessário sempre ser coletado RT-PCR, com duração máxima de 48 horas. Ou seja, passado esse tempo, recoleta-se novo material para o exame. Paciente que apresentou síndrome respiratória, também não é validado pela Central para realizar a captação por danos nos órgãos.
No Paraná, o procedimento é viabilizado pela Central Estadual de Transplante (CET/PR), inaugurada em 1995 em Curitiba. A estrutura organiza, coordena, regula e fiscaliza o sistema de transplantes, e conta com o apoio das centrais regionais (Organizações de Procura de Órgãos – OPOs) de Cascavel, Londrina e Maringá.
No Estado, as doações efetivas por milhão de habitantes (PMP) ficaram em 33,2 de janeiro a junho deste ano e em 41,5 em 2020. Os dados são do Comparativo de doação e transplantes de órgãos e tecidos humanos de 2011 a 2021 da CET/PR. Os anos com taxa de conversão mais alta foram 2018 com 47,7 e 2019 com 43,8.
Doações efetivas
No período analisado, foram contabilizadas 1.162 notificações no Paraná, 515 tiveram autorização familiar, resultando em 475 doações efetivas. O acompanhamento indica 159 recusa familiar (24%), 396 contra indicação clínica (34%), 37 mortes encefálicas não confirmadas ou outros (3%) e 55 PCR (5%). 40% dos doadores foram mulheres e 60% homens.
O OPO Cascavel, ao qual pertence o sistema de saúde de Foz do Iguaçu, registrou, de 2011 a 2020, 212 notificações, com 81 doações efetivas. Deste total, houve descarte de 26% por recusa familiar, 37% por contra indicação clínica, 4% por morte encefálica não confirmada e 3% por PCR.