Pedágio: tem que olhar para quem paga a conta

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Luiz Claudio Romanelli

Faça algo e, se não conseguir, faça outra coisa. Mas, acima de tudo, tente! (Franklin Roosevelt)

Desde o início das discussões sobre o novo programa de exploração de rodovias do Paraná sempre tive a sensação de que o governo federal tratava do tema como um modelo de negócio. A prioridade era o investidor e não o usuário. O foco era financeiro e não social.

Apostaram numa visão grandiloquente e tentaram nos impor o modelo híbrido e seus malabarismos. A mobilização da Assembleia Legislativa, da sociedade civil organizada e do setor produtivo do Paraná derrotou a proposta do governo federal. Foi uma grande vitória.

A ação conjunta se converteu num ativo político fundamental para mudar o curso que estava desenhado. A decisão dos paranaenses deu sustentação ao governador Carlos Massa Ratinho Junior para ir a Brasília e, corajosamente, falar para o presidente da República que o Paraná não aceitava a fórmula do modelo híbrido.

Agora vamos nos debruçar sobre uma nova modelagem, que contempla o que queríamos: uma licitação pelo menor preço de tarifa, sem limite de desconto. A proposta parece melhor do que a anterior, pois permite que a concorrência seja definida pelo pedágio mais baixo. A expectativa da Secretaria da Infraestrutura e Logística é uma redução de 50% sobre os valores atuais.

Espero que seja daí para mais, mas confesso que tenho preocupações. Uma das dúvidas é sobre a efetividade do aporte financeiro, agora chamado de seguro-usuário. Em princípio, me parece um limitador para os lances de descontos que poderão ser ofertados em leilão. A lógica deste instrumento é de que quanto maior o deságio, mais alto será o valor imobilizado pelas empresas. Será que isso não inibe uma redução ainda mais significativa das tarifas?

Ao que se sabe, este mecanismo seria uma reserva financeira para ser utilizada no caso da necessidade de novas obras, para reduzir a tarifa ou evitar um aumento de pedágio muito significativo no futuro. A priori, não se trata de uma garantia efetiva para a realização das obras previstas no programa criado pelo governo federal.

A garantia real das obras também é uma das reivindicações do Paraná. Não queremos assistir um filme repetido, algo parecido com a concessão atual, em que as empresas arrecadam e não cumprem suas obrigações de investimento. Lembremos que ao final dos contratos em vigor haverá um passivo enorme deixado pelas concessionárias.

A alternativa para garantir a execução das obras pode ser a proposta do Conselho Regional de Economia (Corecon), idealizada pelo economista Luiz Antônio Fayet, que prevê um seguro caução em títulos do Tesouro. Um depósito equivalente a 10% do total do investimento previsto em contrato, mais um valor proporcional ao desconto ofertado no leilão.

Neste sistema, os recursos retornam para a empresa na medida em que as obras sejam concluídas. Acredito que a opção deve ser considerada em lugar deste seguro-usuário. Ela também afasta aventureiros, como quer a União, assegura a execução das melhorias e, o mais importante, sem impactar no custo das tarifas.

Também é necessário aprofundar o debate sobre o degrau tarifário, que vai aumentar o pedágio em 40%, de forma automática, após as obras de duplicação. Desde o início, avalio que não é um percentual razoável, até porque não há sustentação técnica conhecida para justificar este patamar de reajuste.

O degrau pode existir, mas num valor que permita cobrir efetivamente o custo da execução da obra. Não é justo dar um prêmio para a empresa cumprir uma obrigação do contrato, e ainda permitir a cobrança das tarifas majoradas até o fim da concessão.

Outra situação que merece atenção é a localização de praças de pedágio. Muitas foram posicionadas em áreas urbanas ou metropolitanas, que concentram forte tráfego regional. Isso impacta diretamente a vida das pessoas e das cidades, e afeta as relações econômicas e sociais da região.

O projeto traz situações gritantes. É o caso do pedágio de Jataizinho, que deveria ser realocado para depois do cruzamento entre a BR-369 e a PR-090. A unidade de Quatiguá, na PR-092, estaria melhor localizada entre Wenceslau Bráz e Arapoti, enquanto a praça na PR-445, na saída de Londrina, poderia ser instalada mais perto do entroncamento com a Rodovia do Café.

Há ainda a injustificável praça da rodovia federal entre Cascavel e Toledo, colocada em um trecho já duplicado com recursos do governo do Paraná e que recebe alto tráfego regional. Há outras situações bastante questionáveis, como das praças de Apucarana, na BR-376, e de São Luiz do Purunã, na BR-277.

Em razão do período do contrato, acredito ser essencial a criação de um conselho de gestão formado por representantes do Paraná, com responsabilidade de acompanhar e poder para interferir na evolução da concessão. Essa tarefa não pode ficar concentrada em Brasília. Se for assim, passaremos um cheque em branco e viramos meros expectadores do processo.

Há um longo caminho a ser percorrido até que se efetive a nova concessão. Haverá um amplo debate pela frente e ele tem que ser feito de boa-fé, com tranquilidade, responsabilidade e transparência. Até porque, as decisões de hoje serão válidas por três décadas.

Temos plena confiança naquilo que o nosso governador pretende para o Paraná. Ele atua com bom senso, quer a coisa correta e trabalha na defesa do interesse público. Mas confesso que não tenho a mesma confiança naquilo que vem de Brasília, que é quem ficará no comando da nova concessão.

O fato é que a futura concessão não pode ampliar os traumas do passado. A experiência que tivemos nos últimos 24 anos em relação ao pedágio mostra que não podemos privilegiar os interesses das concessionárias e de grupos econômicos, ou concordar com um modelo de negócio. A atenção deve se concentrar nos direitos do usuário, que é quem vai pagar a conta.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.

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