Impactos de obras estruturantes que estão sendo feitas na cidade; mobilidade urbana como direito à cidade; estudo dos fluxos de transporte; gratuidade como vetor da economia; maior participação popular no Conselho Municipal de Trânsito e Transporte; esses foram alguns dos diversos pontos levantados na audiência pública que discutiu transporte e mobilidade urbana em Foz do Iguaçu. O evento foi chamado pelo vereador Adnan El Sayed (PSD) e dentre vários enfoques discutidos, destacou-se pensar o transporte urbano a partir das pessoas.
Como deliberação, foram dados alguns encaminhamentos: discutir a mobilidade urbana como um tema em separado; elaboração de uma carta pela urgência do retorno das linhas e ônibus extintos; criar grupo de trabalho para discutir com maior profundidade um novo modelo de transporte.
Licério Santos, diretor superintendente do Instituto de Transporte e Trânsito (Foztrans), afirmou: “Seguramente Foz terá um transporte mais digno, adequado. Todos os esforços estão sendo feitos para trazer um transporte melhor”.
Alguns vereadores se manifestaram sobre as mudanças mais urgentes no serviço e a favor da rescisão do contrato atualmente em vigor. A vereadora Yasmin Hachem (MDB), pontuou: “Precisamos pensar na qualidade de vida do passageiro, no acesso e também me posiciono a favor da rescisão contratual”.
“Que a gente consiga reduzir a tarifa, não podemos demorar muito porque os usuários em geral já não aguentam mais. Parabenizo a comissão que ainda busca soluções para o transporte coletivo”, enfatizou o presidente da Casa, vereador Ney Patrício (PSD).
Mudanças na cidade e seus impactos no transporte e na mobilidade
Alexandre Balthazar, professor da faculdade Uniamérica, falou como expositor sobre o tema. “Já vivemos em uma metrópole trinacional. O aeroporto está sendo ampliado, qual impacto disso? Temos três aeroportos na região. A nova perimetral vai concentrar os caminhões oriundos da Argentina e Paraguai. Qual impacto dessa perimetral na região dos loteamentos onde vai passar, no São Roque, na República Argentina? O problema que temos hoje de mobilidade urbana, na Avenida Paraná, vai passar a acontecer na perimetral”.
Mobilidade urbana como direito à cidade e gratuidade como vetor da economia
Patrícia Zandonade, professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), abordou a mobilidade urbana como direito à cidade. “Quando a gente fala de transporte, estamos falando de suportes para deslocamento e quando falamos sobre mobilidade urbana estamos falando das pessoas que precisam fazer esses deslocamentos. Em nível municipal já temos legislações que versam sobre política e plano de mobilidade. Em todos eles existe uma priorização na cidade do transporte coletivo. O transporte como está hoje é inviável. Ele precisa ser primeiro uma opção para todas as classes sociais. A cidade precisa ser pensada a partir das pessoas. É preciso transformar o conselho em fórum democrático. A gente precisa ir progressivamente implantando uma gratuidade ao transporte público. Falo isso porque ele também é um vetor da economia, a partir do momento que liberamos a mobilidade propiciamos o giro da economia da cidade. Temos grandes condições de implantar linhas públicas a gratuitas”.
Proponente do debate levanta necessidade de estudo de fluxos
“Precisamos saber dos fluxos, para onde as pessoas estão indo. Temos de saber as linhas, rotas, a nova realidade que é o desenvolvimento de bairros e microcentros. Está abaixo da dignidade humana as pessoas se deslocarem de madrugada em ônibus aglomerados. A saúde e a vida dessas pessoas não foram respeitadas. Não devemos avaliar o transporte somente com base na pandemia, que diz que a demanda diminuiu. Precisamos de integração entre modais, calçada. Vislumbro que estamos com grande possibilidade de termos um novo modelo de contrato”, disse o vereador Adnan.
Modelo atual não serve mais
Dilto Vitorassi, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário – Sitrofi, disse que “o modelo que temos hoje entrou em colapso. Precisamos discutir como vamos melhorar um pouco a vida do nosso povo. Falamos da aduana, mas não da Ponte da Amizade que cria o gargalo na região, por exemplo. A aglomeração do povo é Bairro- Ponte da Amizade e Bairro-Centro. O transporte é um dos itens da mobilidade urbana”.
Mudanças nas linhas e perigos de assalto
Maria Helena Nunes, do Conselho Comunitário do Jardim Lancaster, falou sobre a retirada de linhas para o bairro e como isso impactou na vulnerabilidade dos moradores da região. “Corro perigos de assalto, além de atravessar a BR-277 e também correr risco de atropelamento, isso porque tiraram as linhas noturnas (210 e 250) do Lancaster. Isso trouxe inúmeros problemas para os moradores. Queremos respostas para ontem, não é para o futuro”.
Estatização, representação popular no conselho do transporte e passe livre
Emily Witte, representante da União da Juventude Socialista (UJS), defendeu a estatização do transporte em Foz: “Desde o momento de lockdown, houve redução de linhas. Isso que causou aglomeração pior do que bichos indo para o matadouro. Que futuro é esse que está deixando sonhos em covas? É isso que o transporte coletivo está fazendo em Foz. Não é para o futuro, é para amanhã, há pessoas morrendo”.
Diego Carvalho, representando a Aliança LGBTQIA+, também se manifestou: “Até hoje o Conselho de Transporte não tem representante da associação de moradores. É um absurdo que tenhamos de pagar uma passagem no ponto de ônibus e chegar no terminal e pagar de novo. Foz é um município turístico que contempla o turista. Queremos ver o passe livre aprovado, porque isso dá acessibilidade a todos os estudantes”.
Conselho do Transporte contempla diversas entidades
O presidente do Conselho do Transporte, Fernando Martin, destacou que “o conselho é composto por 24 entidades e a união dos moradores dos bairros se faz presente. Um novo modelo envolve muito mais do que foi dito aqui. Contamos com a participação de todos”.