A iniciativa inédita no município conta com a participação de servidores da Atenção Primária em Saúde e busca um olhar diferenciado para doenças de maior prevalência nesse segmento populacional
A promoção do tratamento igualitário e de respeito às etnias no Sistema Único de Saúde (SUS) é a pauta da I Jornada de Saúde da População Negra, que está acontecendo em Foz do Iguaçu durante o mês de setembro. O evento, programado em quatro encontros online (02, 16, 23 e 30/09) é uma realização da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade e Secretaria Municipal da Saúde.
A iniciativa é inédita no município e tem como público-alvo os profissionais médicos e enfermeiros da Atenção Primária em Saúde, visando a identificação, prevenção e tratamento de doenças de maior prevalência nessa população. O primeiro encontro contou com a participação de 60 servidores das áreas médica e de enfermagem. A professora e sanitarista Maria da Conceição Silva ministrou palestra sobre a Política Nacional da Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).
Essa ideia surgiu ainda em 2018 pela secretária municipal de Saúde, Rosa Jerônymo, enquanto ocupou a pasta de Direitos Humanos. “Sabemos que a população negra possui algumas especificidades que demandam um olhar diferenciado do Sistema Único de Saúde”, pontua a Rosa.
A secretária ressaltou a importância de dialogar sobre essa premissa, e buscar a sensibilização da rede e o reconhecimento dessas atipicidades para avançar na qualidade do atendimento. “Somos um país diverso e, para cumprir os princípios do SUS, é necessário qualificar o atendimento e melhorar o acesso à saúde. Temos que reconhecer as características inerentes a esses perfis e dar um atendimento de qualidade no mais amplo sentido”.
O próximo encontro está programado para esta quinta-feira (16), quando será explanado o tema “Doenças Prevalentes da População Negra (genética ou socialmente agravadas)”, também por Maria da Conceição Silva. Um dos trabalhos da professora relacionados à temática foi a participação na formulação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Atenção Primária
Na abertura da I Jornada de Saúde da População Negra, a diretora de Atenção Básica da Secretaria de Saúde, Jaqueline Tontini, ressaltou que o evento é o primeiro passo que o município dá para quebrar alguns paradigmas ou barreiras que impedem o acolhimento paritário, e ser atento às patologias características desse segmento populacional.
“O que se pretende é sensibilizar os profissionais que estão na ponta e atendem a população”, esclarece. “Não existe um projeto para tratamento diferente. Precisamos de um olhar diferenciado desses servidores das unidades básicas de saúde para essas doenças e situações que são peculiares à etnia e sem discriminação no processo de acolhimento”.
Algumas doenças predominantes na população negra podem ser identificadas no atendimento nas unidades básicas de saúde, como a diabetes tipo II, hipertensão arterial, anemia falciforme e obesidade. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2019, 60,9% dos usuários dos serviços da atenção primária, nos seis meses anteriores ao questionário de campo, se declararam pretas ou pardas.
Inclusão
Definida como instrumento de inclusão, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra norteia gestores das esferas federal, estadual e municipal para o desenvolvimento de políticas públicas e no combate ao racismo e outros vieses comportamentais discriminatórios. O status de vulnerabilidade predominante na população negra é responsável pelas altas taxas de mortalidade materna e infantil e índices elevados de violência urbana.
No Brasil, 56,1% da população se declarou preta ou parda, na Pesquisa Nacional Por Amostras de Domicílio, realizada em 2019. Desses, 32,9 % estão abaixo da linha de pobreza e também pontuam estatisticamente na população carcerária. São cerca de 60%.
“Esse cenário impõe aos gestores a necessidade de atuar conjuntamente”, explica a diretora de Direitos Humanos, Mazé Saad. “Quando a Rosa assumiu a Secretaria de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade trouxe essa ideia e começamos a formatar. A Jornada tem esse encargo de sensibilizar e também abrir caminhos para as mudanças”, concluiu.
Serviço
I Jornada de Saúde da População Negra
Horário: das 20 às 21h30
Plataforma: Jitsi Meet
16/09/21 – Doenças Prevalentes da População Negra (genética ou socialmente agravadas)
Palestrante: Maria da Conceição Silva
23/09/21 – Direitos Sexuais e Reprodutivos com Foco nas Mulheres Negras
Palestrante: Alaerte Leandro Martins
30/09/21 – Saúde Mental da População Negra
Palestrante: Jefferson Olivatto da Silva
Link para inscrições: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd8DPsFcaDF-ayRA8CfkPTCco958t_iEm06uAPzm5vyYR_XJw/viewform?usp=sf_link