Bronca e suas múltiplas faces musicais

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Banda completa uma década de estrada com muitos shows,
histórias para contar e material para o primeiro CD completo

Ronildo Pimentel, CabezaNEWS

A produção autoral segue seu curso em Foz do Iguaçu. As bandas tem apostando na longevidade e persistência para divulgar ritmos e ideais próprios. A Bronca é um destes exemplos. O grupo, após uma década na estrada, muitas apresentações e histórias para contar, se prepara para a primeira gravação, que deve ficar pronta em 2019

A Bronca surgiu em 2009, por iniciativa do guitarrista e vocalista Christian Militelli, “quase que como uma sucessão do Inércia”, sua ex-banda, abrindo um “novo ciclo”, diz. A primeira formação trazia ainda Valdir “Toco” e Hebbe e a ideia de compor dentro do gênero Hardcore News School.

Em 2015, a Bronca deu uma guinada no estilo com a introdução de novos ritmos musicais, a partir da chegada de Taty Cristina (guitarra) e Matheus Gabriel (baixo), que se desligou da banda no início de maio. A formação atual conta com Rafael no baixo e Edson Aparecido, o Edão, na bateria.

Na interpretação dos integrantes, em entrevista exclusiva ao CabezaNEWS, Bronca reflete indignação e vontade de expor aquilo que inquieta o ser humano. Na avaliação de Christian, a formação atual é a que está mais perto deste ideal. “Pela amizade e sintonia entre os integrantes. Todos empenhados, com foco”.

“Temos adversidades e estilos e influências e esta sintonia fica muita legal. Todos sabem como todos pensam”, resume o guitarrista. Um dos critérios para entrar na banda é que os novos integrantes precisam compor uma música. “As músicas trazidas pela Taty e o Matheus quase que revolucionaram o estilo da banda, bem próximo a um groove, que mistura tudo”, conta.

Valorização local
Partindo da influência de Sepultura (formação com os irmãos Cavalera) e Ratos de Porão, a Bronca começou a colocar elementos da cultura nacional, “que é muito rica”, e também de países da América do Sul, nas composições. Dentro do cenário musical, Christian acredita que ainda é possível mostrar seu trabalho, “sem ninguém censurar ou precisar de aprovação das letras”.

“O que ainda falta um pouco, acredito, é humildade em função de a música ser um constante aprendizado”, destaca. Para o guitarrista, a música é uma forma de passar mensagens e o ideal são as positivas. “Com empatia, mato o egoísmo. Com a verdade, chego até a luz. A ideia é fazer o pessoal pensar”.

“Por mais que o mundo tenha problemas, você tem capacidade de pensar”, afirma. A banda se resume ser contra o fascismo, diz Christian, sobre o momento político brasileiro atual. “Apoio o trabalhador, para que ele possa ter condições de levar uma vida digna com família, amigos. Também somos trabalhadores”.

‘Só coisas boas’
A guitarrista Taty Cristina conta que conheceu a banda em 2013, em um show em Santa Terezinha de Itaipu, denominado Rock n Roll Solidário. Desde então manteve contatos com Christian que a convidou para integrar o grupo. “Queria entrar na banda, que já estava fechada, até que acabou saindo um integrante”, disse.

Ela também afirma que a formação atual, é a melhor, “de todos os projetos” que participou e também destaca a amizade entre os integrantes. Taty tem noção da focação Hardocre News School da Brnca, mas admite que “de um tempo para cá, fomos acrescentando coisas novas, coisas nossas”, disse.

A mistura de som é mais produtiva, avalia. Antes, ela se dedicava muito ao Hardcore. “Hoje pratico ritmos diferentes e acho isto legal. Queria mesmo ficar diferente na música, buscar algum diferencial”, resume Taty, afirmando que gosta de música “desde sempre” tocando guitarra e na dança, até escutar sons mais “pesados”, estilo que considera ideal.

Taty revela que aprender a tocar um instrumento exige muita dedicação. “Demorou um pouco”, mas a vontade falou mais alto. A amizade dentro da banda e a música “salva pessoas”, diz. Ela acredita que o material da Branca ficará gravado até o final do ano.

A guitarrista reconheceu como fundamental para as bandas locais o ativismo de pessoas como Cris Peretto, Vitória Repanas e outros promotores de shows e espaços como Casa Urbana, Guns N’Beer, entre outros. “É preciso muita humildade entre os músicos e mais oportunidades e apoio para divulgar os trabalhos”, ressalta.

A Bronca, no entender de Taty é maneira simples de compor com temáticas fortes e muita atitude. “É o que a gente fazer, nosso arroz com feijão e sazon. As letras sempre focam na gente e nos outros. Sempre buscando entender o ser humano e nós mesmos”, diz.

Na política vê com preocupação o avanço da extrema-direita pelo radicalismo contra as minorias, principalmente. “Do jeito que está, é muito ódio, o que acaba gerando coisas ruins”, diz. Ela se declara anarquista, porém admite que votou na última eleição por que não podia ficar “em cima do muro”.

Bronca é superação
O baterista Edson Aparecido, o Edão, tem na banda sua fonte de superação. Vítima de uma paralisia física, entrou na Bronca após perder os pais. “A música veio para ocupar um vazio na minha vida”, conta.

Edão conheceu Christian ainda na época do Inércia e fizeram a primeira apresentação juntos, como um dueto – bateria e guitarra. “Naquele dia fizemos uma sonzêra”, disse. Na platéia a Taty e o Matheus, que “nunca ia imaginar que estariam tocando hoje no Bronca”.

“Todo mundo me conhece pelo que sou como pessoa, por ter superado estas situações (física e emocional) e hoje viajo para vários locais com estas pessoas da banda”, relata. Musicalmente, ele também acredita que a formação atual é a melhor. A anterior, com o Matheus, deu um up nas composições, disse.

“Tem uma coisa boa entre nós. Discutimos, mas fazemos reuniões para tentar um acordo. As nossas letras não falam de discórdia, de desunião. O Bronca é uma coisa que veio para mudar, fazer a diferença e está levando o nome da cidade para fora”.

A química atual entre os integrantes está muito boa, afirma o baterista. “Tudo vai se encaixando”, diz. Edão conta ainda que aos 13 anos começou a se interessar pelo instrumento que toca. “No começo, a dificuldade foi em função da paralisia e por ser canhoto”, lembra.

Com a Bronca, já gravou uma participação para “Fronteira Rock”, coletânea com 10 bandas de rock de Foz do Iguaçu. “Estamos prontos agora para gravar um CD completo. Nosso trabalho está bem bom. Gostoso de escutar e vai causar impacto no pessoal”.

“Vamos mostrar um pouquinho destas músicas que já estamos levando para fora de Foz do Iguaçu e também do Brasil”, disse ele, sobre os shows na Argentina e em Guarapuava. O cenário musical tem boas bandas, “mas nada muito diferente”.

Começou a curtir música no período do Grunge, estilo musical que surgiu no final dos anos 1980 em Seattle, nos Estados Unidos. Segundo ele, no passado as bandas conseguiam mostrar algo novo, “coisa não muito comum hoje em dia”.

“O Bronca tem a expressão de mostrar uma raiva, uma indignação, mas só que é para colocar as coisas em forma de solução, não deixar sem esclarecimento, buscar uma solução”, disse. Não gosta de discutir política por que as pessoas, nas redes sociais, dão uma opinião, mas não dão a cara a tapa na hora de cobrar, lutar por algo.

Novos caminhos
O baixista Matheus Gabriel, que tem forte influência na construção do atual estágio musical da Bronca, decidiu sair da banda no início de maio, para se dedicar mais as questões profissionais. Ele está de mudança para Santa Catarina, mas antes de seguir novos caminhos, participou desta entrevista.

Em termos musicais, ele afirma que o cenário atual está muito bom, “com excelentes bandas”. De acordo com Matheus, para sair do comum é preciso criar, evoluir, mostrar algo novo, diversificado.

O baixista, que começou guitarrista, começou a se interessar por música ainda criança, com o violão do pai. “A aprendizagem veio com o tempo”, relata. Matheus conta que entrou na Bronca apresentada pela Taty, após “tocarmos violão juntos algumas vezes”.

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