Em 15 anos, as ações afirmativas elevaram o número de estudantes pretos e pardos em 282%
A maioria – 70,2% – dos estudantes das universidades federais brasileiras tem renda mensal familiar per capita de até 1 salário mínimo, sendo a renda média de R$ 640. Em contraste, os estudantes que têm renda superior a 5 salários mínimos per capita são apenas 4,6%.
Deste total de estudantes, 64,7% veio do ensino médio integralmente, ou na maior parte do tempo, em escolas públicas. Os dados constam da 5ª Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior, divulgada nesta semana.
O levantamento é realizado desde 1996 pelo Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace), vinculado à Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Os dados foram coletados em 63 universidades e 2 Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet).
Pela primeira vez, dentro do tempo em que a pesquisa é realizada, o percentual de negros aumentou, alcançando a maioria absoluta do universo pesquisado: 51,2%. Em 15 anos, as ações afirmativas elevaram o número de estudantes pretos e pardos de 160.527 para 613.826, uma variação de 282%.
A participação de estudantes que ingressaram por cotas (renda; preto, parto e indígena; e pessoa com deficiência) vem crescendo desde a implementação das políticas afirmativas, em 2005. Dez anos depois, esse índice chegou a 42,5% e, de 2016 a 2018, segue entre 48% e 49%.
A pesquisa mostra que há um crescimento contínuo no ingresso de mulheres no ensino superior das universidades federais – em 2018, o índice de mulheres matriculadas era de 54,6%. Esse percentual cresce entre estudantes com até 24 anos.
Na faixa etária de 17 anos ou menos, esse índice é de 59% e, de 18 a 24 anos, 56,5%. Ainda de acordo com o levantamento, os pais da maioria absoluta dos universitários estudaram somente até o ensino médio.
Segundo o documento de análise dos resultados da pesquisa, “a democratização do acesso ao ensino superior, resultante da ampliação do número de Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), cursos e vagas, da interiorização dos campi das mesmas instituições, da maior mobilidade territorial via Enem/Sisu e da reserva de vagas para estudantes com origem em escolas públicas, por meio de cotas (renda; pretos, pardos e indígenas; e pessoas com deficiência), modificou radicalmente o perfil da recente geração de discentes dos cursos de graduação das universidades federais e dos Cefet MG e RJ”.
Para a Andifes, a pesquisa aponta que a “universidade brasileira hoje é expressão dos esforços para sua real democratização” e que este é um passo importante “para o cumprimento do papel social do ensino superior público”.
O levantamento mostra, também, que “se permitiu o direito ao ensino superior a um número cada vez maior de pessoas que tradicionalmente eram excluídas da vida universitária”.
Ainda segundo análise da Andifes, o “país, vendo multiplicar as oportunidades acadêmicas a um número maior e mais diverso de pessoas, poderá colher os frutos da ampliação em seu desenvolvimento.”
Entre os desafios apontados pela pesquisa, de acordo com análise da Andifes, estão a necessidade de “ampliar ainda mais a democratização do acesso, para que o percentual de jovens matriculados no ensino superior atinja as metas do Plano Nacional de Educação; e garantir que todos os estudantes tenham, dentro das Ifes, iguais condições de permanência”, atendendo ao previsto na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação.