As aves viviam em um criadouro conservacionista que fechou e aguardavam abrigo permanente há duas semanas no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Fortaleza, no Ceará
Na sexta-feira, 7 de outubro, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no Paraná, recebeu 4 flamingos-chilenos (Phoenicopterus chilensis), e outros 3 vão chegar nas próximas horas, acompanhados de 1 maguari (Ciconia maguari). Os animais aguardavam destinação adequada no Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS, uma unidade do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, de Fortaleza, no Ceará.
“Procuramos o Parque das Aves para abrigar essas aves por conta do seu trabalho de excelência em projetos de conservação de fauna silvestre. Eles aceitaram acolher as aves e, com o apoio da Latam Cargo, recebemos isenção de custos para o transporte aéreo, via Voo Solidário. Quatro dos animais chegaram ao Parque das Aves na sexta-feira de manhã, em um voo com conexão em São Paulo, e os outros 4 vão viajar nos próximos dias”, comenta Alberto Klefazs, biólogo e analista ambiental do IBAMA, responsável pelo CETAS Fortaleza.
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Inicialmente, as aves viviam em um criadouro conservacionista de Fortaleza. Quando as atividades do criadouro foram encerradas, as aves foram transferidas para o CETAS/IBAMA-CE. No local, além de receber os cuidados prestados por biólogos e tratadores, os animais também foram avaliados por um médico veterinário, para verificar se as condições sanitárias eram adequadas para que fossem transportados.
“Elas foram encaminhadas para o CETAS, que ofereceu cuidados adequados para as aves nesse período temporário. Ainda que a espécie não fosse frequentemente manejada pela equipe local, estamos em contato frequente com esse time, trocando experiências entre profissionais das duas equipes para otimizar os cuidados direcionados aos animais. Assim, compartilhamos informações sobre dietas, suplementos vitamínicos e caixas de transporte, entre outras, pois esses detalhes fazem toda a diferença para o bem-estar das aves”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
Durante os 15 dias em que estiveram no CETAS/IBAMA-CE, as aves receberam marcações individuais, por meio de anilhas metálicas numeradas para identificação, passaram por avaliação clínica e receberam cuidados relativos ao controle de ectoparasitas, entre outros atendimentos veterinários importantes. A equipe também realizou uma adição de suplemento vitamínico na alimentação dos animais para minimizar os riscos de estresse por conta do transporte.
“Aqui no Parque das Aves, os animais vão passar por novos exames veterinários, que irão complementar os cuidados já recebidos no CETAS, e ficam nas instalações de quarentena, onde serão observados com o auxílio de câmeras e pela nossa equipe de médicos veterinários, biólogos e zootecnistas. Ficamos felizes em dispor da nossa equipe, nossa experiência e nossas instalações técnicas para prontamente ajudar esses animais, oferecendo a eles os melhores cuidados”, comenta Paloma.
Período de quarentena
Assim que chegaram ao Parque das Aves, os flamingos foram levados para o espaço de manejo do recinto, onde viverão no futuro: um local amplo, com um lago e muitos espelhos, que são recursos importantes para o bem-estar dos flamingos. Além disso, o espaço é completamente cercado por telas de proteção.
“O espaço de manejo é uma área anexa aos recintos do Parque das Aves, com a função de facilitar as interações dos técnicos com os animais que vivem nos viveiros. Essa área pode ser utilizada quando, por exemplo, algum animal está passando por um tratamento veterinário. Além disso, sempre que um novo animal chega para morar com um bando de aves que já vive em um determinado recinto, ele será inicialmente mantido na área de manejo, onde terá a oportunidade de se inserir no novo grupo de forma gradual, segura e tranquila. Esse local é uma importante ferramenta para o nosso trabalho, já que nos permite observar um animal debilitado de uma maneira próxima e individual, oferecendo o tratamento adequado sem privá-lo do contato próximo com seu grupo habitual. No caso dos flamingos, por sua vez, eles terão a oportunidade de se habituarem tranquilamente ao novo local em que viverão depois que finalizado o período de quarentena”, esclarece Paloma.
O manejo agora habitado pelos flamingos foi coberto por um tecido de TNT, que fornece uma privacidade importante para as aves neste contato inicial. Conforme os exames veterinários forem realizados e as observações da equipe de bem-estar animal fornecerem indicativos comportamentais de que as aves estão bem-adaptadas ao espaço, esta barreira visual será removida aos poucos.
“Assim que tivermos certeza de que as aves estão prontas para visitarem seu novo recinto, pertinho do público, vamos liberá-las para visitar o ambiente. Por ora, elas permanecem na área de manejo, recebendo todos os cuidados, realizando exames e passando por adequação da alimentação”, fala Paloma.
Já o maguari, que é uma ave muito parecida com o cabeça-seca (Mycteria americana), espécie abrigada pelo Parque das Aves desde agosto de 2020 (quando um indivíduo foi resgatado e passou uma por uma delicada cirurgia no Parque), viverá com essa e outras aves no Viveiro Aves de Rios e Mangues, espaço que está passando por uma reforma neste momento.
“Assim como os flamingos, o maguari também vai passar o período de quarentena em um manejo, na área interna, passando por exames e recebendo toda a atenção necessária para que se adapte ao novo viveiro e aos seus novos colegas”, comenta Paloma.
Aves sem condições de voltar ao ambiente natural
Apesar de as aves estarem em perfeitas condições sanitárias, situação que permite a sua transferência de Fortaleza para Foz do Iguaçu, isso não significa que tenham condições de sobreviver em seu habitat natural.
“Flamingos-chilenos são aves migratórias que habitam áreas de terreno alagado, como mangues e lagoas, vivendo sempre em bandos. Durante a migração, eles se deslocam de países como Peru, Chile, Bolívia e Argentina até o Brasil, encontrando espaço nas regiões de Mata Atlântica do Sul e do Sudeste do país. Essas sete aves não têm mais condições de retornar ao ambiente natural e reintegrar um bando, o que é essencial para sua sobrevivência, mas poderão ter uma excelente qualidade de vida sob cuidados humanos e, em caso se faça necessário, contribuir com ações de conservação à espécie no futuro”, comenta Alberto.
Na reestruturação da nova área que abrigará o bando, diversos cuidados sanitários, de segurança e bem-estar animal foram considerados.
“No Parque das Aves, as aves viverão em um recinto próprio, que possui substrato de areia, essencial para o conforto dos animais, bem como um lago que será utilizado para banhos e momentos de alimentação. A presença de espelhos, tão emblemática no manejo reprodutivo de flamingos no Parque das Aves ao longo dos últimos 25 anos, seguirá presente para que os animais sintam que estão em um bando maior, o que gera mais conforto social. Além disso, como já acontece com outras espécies do Parque, ao final do dia, os flamingos serão conduzidos até a área de manejo, que também oferece todos os estímulos ambientais existentes no próprio recinto, como piso adequado, lago, espelhos, entre outros, e é totalmente telado, do chão ao teto”, reforça Paloma.
A equipe do CETAS/IBAMA-CE estima que os flamingos-chilenos tenham entre 15 e 20 anos de idade.
“Infelizmente, não é possível ter certeza da idade, mas conseguimos ter uma estimativa por conta de algumas características dos animais. Em seu ambiente natural, os flamingos vivem entre 30 e 40 anos, em média”, comenta Alberto.
Equipe emocionada com a chegada do bando
A diretoria do Parque das Aves informou pessoalmente suas lideranças e, na sequência, todas as equipes, sobre a chegada do grupo de flamingos.
“Sabíamos que seria um momento de grande emoção e sensibilidade para nossas equipes. Portanto, nos esforçamos para falar com todos e tirar todas as dúvidas que eventualmente tivessem. O sentimento geral foi de alegria e de responsabilidade renovada por podermos acolher esse grupo tão especial”, relata Paloma.
A equipe, honrada com a chegada do grupo, está se esforçando para cuidar de todos os detalhes necessários, conforme a sua área de atuação, visando oferecer as melhores condições possíveis para esses animais.
“Toda a nossa experiência de aproximadamente 25 anos cuidando de flamingos será direcionada a este grupo, que terá o tempo necessário para se recuperar da longa jornada e, então, desfrutar desse novo ambiente e excelentes cuidados diários. Como sempre, daremos o nosso melhor para oferecer a eles as melhores condições de vida possíveis”, finaliza Paloma.