As eleições de Sérgio Moro (Podemos) ao Senado e Alexandre Curi (PSD), o deputado estadual mais votado no Paraná com 237.033 votos, consolidam o trabalho de 30 anos de marketing político do jornalista Marcelo Cattani. Cattani participou diretamente das campanhas de governador Beto Richa (PSDB) e de Rafael Greca (PSD) na prefeitura de Curitiba.
Nesta entrevista exclusiva ao jornalista Rogério Galindo, do portal Plural, Cattani sustenta que o estado passa por uma fase de transição, com uma geração se aposentando e outra que ainda não se firmou. Além de colocar o próprio Moro como figura central na política paranaense, Cattani arrisca palpites para a próxima as eleições do segundo turno presidencial de 30 de outubro e a municipal de 2024 Leia abaixo a entrevista completa.
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O que a reeleição tão fácil do Ratinho (PSD) significa? Há uma falta de lideranças estaduais?
Ratinho se reelegeu antes da campanha começar. Sua estratégia de aniquilar candidaturas e forçar o casamento de Requião e PT deu certo. As lideranças emergentes foram asfixiadas pela máquina. A expectativa dos estrategistas do governo era alcançar uma vitória heroica como a do ex-governador Eduardo Campos que obteve mais de 80% dos votos válidos. Quase deu certo. Requião não foi nem de perto o “temido Requião”. E a campanha foi suave. Até mesmo em termos de desconstrução. Veja só: o tema pedágio passou em branco na eleição e agora a bomba do TCU caiu no colo do governo. O pedágio pode voltar mais caro. As informações são de ADIPR
Eleições fáceis não existem. Mas estamos numa transição de “marcas” . Estão saindo de linha marcas fortes como Requião, Dias, Fruet, Richa. A marca Greca é a última em “operação”. Ao mesmo tempo em que é a mais forte, é a “velha política”.
É difícil achar novas lideranças estaduais com coragem e disposição de enfrentamento. As condições do jogo (fundo eleitoral e tempo de TV) bem como as alianças/coligações/federações são barreira para muitos que sonham. Aos novos pretendentes, um único caminho: trabalhar dobrado, aceitar que sete partidos mandam no jogo e ampliar a voz nos ambientes digitais.
O pessoal do Ratinho diz que a reeleição o colocou no caminho de uma disputa nacional. O que você pensa disso?
Eleição presidencial é destino. Depende de uma série de fatores que Ratinho Jr não controla. Nenhum governador conseguiu atingir esse objetivo desde 1989. Em 2018 Alvaro Dias foi candidato e pagou mico, virou chacota no debate da Globo e perdeu pro Cabo Daciolo.
Ratinho Jr teve quase oposição negativa no primeiro mandato. Ao se colocar no jogo nacional, terá outro nível de oposição. Mas a força do seu pai, o apresentador Ratinho, e o legado das duas gestões podem ser os principais pilares desse projeto. Ampliar a vantagem de Bolsonaro sobre Lula no Paraná, neste segundo turno, pode ser outra alavanca.
Pensando na eleição municipal de Curitiba, quem foram os grandes vencedores?
Deltan Dallagnol e Carol Dartora. Serão as maiores dores de cabeça de Eduardo Pimentel em 2024. O União Brasil terá candidato, poderá ser Ney Leprevost, Felipe Francischini e Matheus Loiola. O apoio de Sergio Moro será mais forte que o de Greca. Um está começando e outro terminando a jornada na vida pública. Greca e Ratinho sonham com Pimentel, mas como apoiadores perderam a eleição de 2 de outubro. O recado do eleitor foi duro.
Outros partidos do centro também vão se posicionar. O próprio Paulo Martins teria muita força em 2024. Mas Pimentel é a opção do grupo do governador. O Progressistas também terá candidatura própria, mesmo o Palácio 29 de Março negando essa hipótese. Apostaria em dois nomes: Paulo Gomes e Pier Petruzziello, que jogou tudo na transferência de votos de Greca e teve votação pequena.
No caso da esquerda, parece haver dois nomes surgindo com mais força, Goura e Dartora. Como conciliar isso?
No campo da esquerda ninguém terá mais condições que Carol Dartora. Goura, Desiree, Fruet, Ducci, Gomyde…. Todos têm direito de se colocar. Mas se a esquerda jogar unida e Lula vencer as eleições, Carol terá muito potencial. Curitiba é uma cidade que já venceu o preconceito.
Goura explodiu como esperança da esquerda em 2020 e foi asfixiado esse ano pelo fenômeno Ana Júlia, jovem Liderança do PT que vai longe também.
O lavajatismo se tornou a maior força do estado? Moro pode ser o próximo governador?
Todo o sistema político paranaense trabalhou contra Sérgio Moro. Todos torceram contra Deltan. Moro teve apoio de gente corajosa que disse não ao Palácio Iguaçu. A resposta a essa pergunta foi o resultado da eleição. Moro e Deltan terão voz forte, se consolidaram com força popular, o que muitos políticos sonham e nunca alcançam. O “lavajatismo” será tema dominante dos próximos anos. O novo presidente (Lula ou Bolsonaro) terá que ser firme no combate à corrupção.
As eleições de 2026 estão longe, mas Moro veio pra ficar e fazer história. Posso garantir que 2024 será um grande aperitivo de 2026, pois os prefeitos dos maiores colégios eleitorais estão de saída. Quem jogar melhor a “olimpíada de 24” será favorito na “copa de 26”.
Esse fenômeno da extrema direita nos Legislativos ainda tem fôlego?
2022 foi o ano de dois lados. Não dá pra qualificar como extrema direita e extrema esquerda. A polarização garantiu votações surpreendentes, como por exemplo Felipe Barros em Curitiba e a consolidação da força de Gleisi Hoffmann, o maior nome do PT de todos os tempos no Paraná. Não houve uma onda forte como em 2018, mas veja o fenômeno do deputado estadual Ricardo Arruda do PL, mesmo com redes sociais bloqueadas teve votação espetacular.
Com 237 mil votos, Alexandre Curi se consolidou em outro patamar. Sozinho ele é maior e mais forte que muitos partidos políticos. Será um grande player pelos próximos 12 anos. Outros cinco deputados do PSD surpreenderam: Hussein Bakri, Ademar Traiano, Márcio Nunes, Tiago Amaral e Romanelli.
Acredito que o Brasil continuará dividido por mais um tempo. Terceira via não existiu. E quem não se posicionou ou não tinha legado forte bailou.
Pra encerrar, um pouco de futurologia: quem ganha no dia 30?
Jair Bolsonaro