Morre Aroldo Murá, talento que formou gerações de jornalistas

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Imprensa paranaense perde um de seus ícones: Morreu aos 82 anos o professor, jornalista e escritor Aroldo Murá

Por Pedro Ribeiro, no Paraná Portal

A morte do professor Aroldo Murá enche meu coração de tristeza. Conheço o Aroldo há mais de 45 anos e sempre mantivemos uma ótima relação de amizade e respeito. Ele foi, para mim, um grande professor, pois a cada encontro era ensinamento e aprendizagem.

Em 1982, quando eu trabalhava na Gazeta do Povo fui até o Aroldo pedir orientações para realizar um seminário em Curitiba com a participação de lideranças da imprensa e do empresariado paranaense para discutirmos os rumos futuros do nosso Estado e as perspectivas para o Brasil. Aroldo achou boa a ideia e contribuiu com uma extensa pauta de discussão e questionamentos para a realização do evento.

Falávamos quase todos os dias sobre notícias que ele publicava em seu blog e eu na coluna Sintonia Fina, no Paraná Portal, onde ele era, também assíduo colaborador.

Recentemente estivemos juntos no lançamento da décima terceira edição da série Vozes do Paraná da qual, honrosamente, fui personagem. Pouco antes de ele se internar no Hospital São Vicente, falamos por telefone e ele me garantiu que estava apenas fazendo quimioterapia rotineira e que tudo estava Bem. Não estava. Perdi o amigo e mestre.

Governador lamenta a morte do jornalista Aroldo Murá

O governador Carlos Massa Ratinho Junior lamentou a morte do jornalista Aroldo Murá, de 82 anos, nesta terça-feira (03). Ele tinha 62 anos de profissão e era uma das vozes mais conhecidas da imprensa paranaense. Murá estava internado há alguns meses no Hospital São Vicente, em Curitiba, e tratava um câncer.

Ele é autor da série Memória Paranaense. Os livros “Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses” perfilaram mais de 280 profissionais de destaque em suas áreas de atuação. Também é autor da biografia “Seu nome é João”, sobre o ex-governador João Elísio Ferraz de Campos.

“Aroldo Murá foi um dos grandes personagens da nossa história. Na imprensa, ajudou a difundir um Paraná pujante, em transformação e celeiro de grandes histórias. Que Deus conforte os seus familiares nesse momento difícil”, disse Ratinho Junior.

Gaúcho, Murá residia no Paraná desde 1948. Era bacharel em Jornalismo pela PUC-PR e tinha cursos de especialização e extensão no Brasil e Exterior, como em jornalismo econômico pelo Cepal/ONU, no Chile.

Professor da PUC-PR, trabalhou e dirigiu jornais desde 1960 na capital paranaense, tendo atuado também no rádio e na televisão. Também dirigiu o jornal “Voz do Paraná”, semanário que marcou história no Estado.

Ele já recebeu a Ordem do Pinheiro (principal honraria do Estado) e homenagens da Associação Comercial do Paraná e da Câmara Municipal de Curitiba.

Sindicato dos Jornalistas também lamenta morte de Aroldo Murá

O SindijorPR se solidariza aos familiares e amigos e lamenta profundamente a morte do jornalista Aroldo Murá Gomes Haygert, aos 82 anos, ocorrida nesta terça-feira (03/01), no Hospital São Vicente, em Curitiba. Murá enfrentava um câncer e estava hospitalizado desde o dia 25 de dezembro. Filiado ao Sindicato desde 1962, há mais de 60 anos, ele era o associado de número 114 da entidade. Ainda não foram divulgadas informações sobre o enterro e o velório.

Nascido no Rio Grande do Sul em 1940, Murá veio para Irati (PR) aos oito anos. Entrou na faculdade de Jornalismo da então Universidade Católica (atual Pontifícia Universidade Católica) em 1960 e teve seu primeiro emprego na área antes mesmo de frequentar o curso superior, na Revista Clube.

Trabalhou no O Diário do Paraná, em que conheceu Paulo Leminski e Luiz Geraldo Mazza, dirigiu a Voz do Paraná durante a Ditadura Militar, foi repórter para a Esso, escreveu para o Diário de Notícias do Rio de Janeiro (RJ), passando ainda pela Biblioteca Pública do Paraná, Fundação Cultural de Curitiba, Correio de Notícias e Gazeta do Povo, além de ter apresentado um programa na RICTV.

Era coordenador do projeto Memória Paranaense, fundador e presidente do Instituto Ciência e Fé de Curitiba e membro do conselho editorial da Revista Ideias. Jornalista ainda atuante, mantinha uma coluna diária que era replicada pelo portal Banda B. Murá também foi professor universitário, bastante estimado pelos alunos.

Desde 2008, produzia a série Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses, em que eternizou o perfil de 268 profissionais do Estado, cuja 13ª e mais recente edição foi lançada em setembro de 2022. Murá escreveu ainda a biografia ‘Seu nome é João’, sobre o ex-governador João Elísio Ferraz de Campos, e o livro ‘Encontros do Araguaia – Construtores do Paraná no Século 20’.

Professor Aroldo, o legado de um grande jornalista: (Jaime Lechinski)

Jornalista eclético, Aroldo Murá foi repórter em tempo integral por 62 anos.Dificil que conversasse com alguém sem logo puxar a caderneta. Referência para várias gerações de profissionais da nossa imprensa, formou muitas redações. Era capaz de salvar jornais, de refazer publicações, com seu texto preciso, sempre muito contextualizado e rico em referências. Não à toa, era chamado de professor. Dono de vasta cultura, leitor voraz – seu apartamento era livros, livros e muitas obras de arte, outra de sua paixões – , Aroldo foi também uma grande autoridade em matéria de religião: além da católica, que praticava, tinha vasto conhecimento sobre as mais variadas crenças. O Instituto de Ciência e Fé, que criou e dirigia, é expressão fiel de sua visão holística, o que o tornara cada vez mais referência e fonte para jornalistas, estudantes e acadêmicos. Quando os veículos de comunicação começaram a sucumbir, ele migrou para a internet com uma coluna na qual brindava os leitores com sua grande energia e com a invejável memória. Foi também escritor. Deixou muitas biografias e incontáveis perfis, reunidos em 13 edições de “Vozes do Paraná”, coleção que se constitui em vigoroso documento sobre personalidades que fizeram e que fazem o Paraná. Aroldo trabalhou até fins de outubro, o câncer que tratava havia pouco mais de um ano levou-o ao hospital, onde hoje sucumbiu. (Jaime Lechinski, jornalista).

Aroldo Murá, nosso professor, na lida das redações (Ernani Buchmann)

“Aroldo Murá foi um dos ícones do bom jornalismo paranaense. Embora tenha sido professor de jornalismo pela via acadêmica, na verdade foi professor na lida das redações. Desde a emblemática Voz do Paraná até o Indústria&Comércio, formou centenas de profissionais da mais alta qualidade nesta profissão tão nobre quanto incompreendida. Era um homem generoso, de ideais forjados na educação de cunho católico, o que jamais o impediu de abrigar pessoas defensoras de outras ideologias nas redações que dirigiu. Em dezembro de 2021, no dia do sepultamento do meu filho, teve a generosidade de me ligar, para um abraço virtual. Fico devedor eterno de sua grandeza e das lições que tive a satisfação que recebi ao longo da sua brilhante carreira. Mais que ninguém, merece ser, para sempre, o nosso “Professor”. Com maiúscula, por favor. (Ernani Buchmann, advogado, jornalista, escritor e discípulo.

Do mestre que conheci, fica minha eterna admiração: Mai Nascimento

“Hoje partiu um grande amigo, Aroldo Murá Gomes Haygert.


Conheci-o em 1975, durante um curso de reciclagem de jornalistas que ele criou e ministrou no extinto “Diário do Paraná”. Dali fui convidada a trabalhar com ele na “Voz do Paraná”, um semanário católico que ele ampliou das igrejas para o cenário político da cidade e do Estado, em tempos difíceis da ditadura militar e da censura. Em época sem internet, muitas grandes notícias e furos de reportagem acabavam chegando pela bem articulada rede da Igreja pós-Concílio Vaticano II, com suas Comunidades Eclesiais de Base e sua opção preferencial pelos pobres. Aroldo Murá sabia o que era notícia e corria riscos para as publicações, com apoio do médico radiologista Roaldo Koehler, um dos donos do jornal, e apoiando a equipe. Trabalhei, entre outros, ao lado de Celso Nascimento, Benedito Pires, Chico Duarte, Dante Mendonça, Rafael Greca de Macedo, Lúcia Norcio e, mais esporadicamente, Teresa Urban e Toninho Vaz. Conto isso porque considero o tempo da “Voz do Paraná” como o mais profícuo da carreira longa e reconhecida de Aroldo Murá. Já neste século XXI ele criou a série “Vozes do Paraná”, livros com perfis de personagens do Estado ou com relevância notória aqui. Atento, crítico, observador agudo e profundo conhecedor da alma humana, traçou biografias reveladoras da obra e do espírito de seus entrevistados. São 13 volumes e dezenas de perfis que ficam para a história. Poucos se lembram, mas Aroldo Murá foi um persistente estudioso da história das religiões, assunto que dominava com maestria. Parapsicólogo testado em universidade norte-americana, tinha uma especial percepção do âmago das pessoas com as quais conviveu. Dotado de forte personalidade, por vezes tinha rompantes de quem não leva desaforo para casa. Passado o calor da discussão, muitas vezes se arrependia e não tinha o menor problema em consertar os estragos emocionais. Do mestre que conheci, fica minha eterna admiração por seu talento nato em descobrir talentos e em obter o melhor das pessoas à sua volta. Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei – dizia e aplicava, com total sinceridade. A saudade que fica é a das tantas vezes e tantas pessoas que amparou nas horas difíceis. Vá em paz, professor! E marque uma roda de conversa aí com o Belmiro, o Scalco, o Jaime, o padre Yves Pouliquen, o Fábio, a Teresa, o Papa Bento XVI, o Pelé… (Mai Nascimento, jornalista)

Aroldo já está fazendo falta”. (Walter Schmidt, jornalista).

“Conheci Aroldo Murá Heygert na metade da década de 1960, um pouco antes da ida dele ao Rio de Janeiro, onde foi trabalhar na área de comunicação social da Esso. Ele ficou em torno de um ano no Rio. Retornou para o Diário do Paraná, jornal em que trabalhou por muito tempo. Foi repórter, redator e editor, com destaque para o noticiário cultural. Em 1968, fiz uma viagem ao Rio de Janeiro com ele e o jornalista Antônio Pietrobelli, a convite da Fundepar, que naquele ano promoveu o I Concurso Nacional de Contos. Levamos para os escritores Rubem Braga e Fausto Cunha, que eram jurados do certame, os contos inscritos. Na volta, passamos por São Paulo para entregar as obras inscritas para outro jurado, cujo nome não me ocorre agora. Foi uma viagem inesquecível que nos levou ao mundo da literatura carioca. O vencedor do concurso foi o contista paranaense Dalton Trevisan. Em 1972, Aroldo me indicou para o médico Roaldo Koehler, proprietário do semanário Voz do Paraná. Editei o jornal por um bom período. Aroldo fez um belo trabalho quando editou a revista Referências, uma publicação da Secretaria de Estado do Planejamento. Repetiu o trabalho na década de 1990 quando foi diretor de Redação do Diário Indústria & Comércio. Aroldo, a sua classe de professor, revelou vários e bons jornalistas. Uma de suas melhores obras é a coleção Vozes do Paraná, que lançou em 2008 e editava anualmente. Ele traçava, como ninguém, o perfil dos entrevistados, valorizando detalhes de suas vidas. Era um sábio, um conhecedor do mundo. Sabia tudo sobre religião e filosofia. Seus textos sempre foram irretocáveis. E brilhantes. Passei com ele a tarde do último15 de novembro. Já estava debilitado, mas conversamos muito. Passamos em revista muitas publicações paranaenses, falamos dos grandes jornalistas locais e discorremos sobre o passado cultural de Curitiba. Aroldo já está fazendo falta”. (Walter W. Schmidt,
jornalista).

Aroldo era como um irmão para mim (Eduardo Sganzerla, jornalista)

“Partiu hoje nosso grande e querido amigo jornalista Aroldo Murá Gomes Heygert (1941-2023). Aroldo era como um irmão mais velho, que nos dava as linhas, com sua personalidade forte. Mas a sua amizade e generosidade sempre pairaram acima disso, revelando o tamanho de seu coração. Com a morte do Professor, vai-se mais do que um geração pioneira de jornalistas, que ensinaram outras gerações a trabalharem com profissionalismo e dignidade. Parte a memória de uma vida de um incansável lutador contra a barbárie política, a injustiça social e o desprezo humano. Espero que possamos levar adiante o legado do Aroldo, que é transformador, e a lembrança latente deste grande ser humano que foi. Vita brevis, ars longa”. (Eduardo Sganzerla, jornalista e escritor).

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