O impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia pode ser observado no nível global. A situação vivenciada por cidadãos desses países chamou atenção do governo paranaense, que criou, via Fundação Araucária, o Programa de Acolhida a Cientistas Ucranianos, aplicável em universidades paranaenses. A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) recebeu em agosto do ano passado a cientista Yuliia Felenchak, pesquisadora da área de turismo. Ela e o marido, Andrii Holod, foram aprovados para realizar atividades científicas no Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras, do câmpus de Foz do Iguaçu. Andrri, no entanto, não conseguiu permissão para viajar com a família na época, obrigando Yuliia a recomeçar a vida com seus dois filhos no Brasil.
Leia também
- Empresário lança carta-manifesto pelo segundo turno das eleições em Foz do Iguaçu
- Foz do Iguaçu é tema de reportagens especiais em um dos principais portais turísticos da Alemanha
Desde então a pesquisadora estabeleceu moradia em Foz do Iguaçu, trabalha e os filhos vão à escola. A inserção das crianças no colégio trouxe especial atenção a um dos filhos do casal, que foi diagnosticado com autismo e vem recebendo atendimento das pedagogas e profissionais do município. Com esse diagnóstico, no final de janeiro de 2023, ele conseguiu a liberação para atravessar o Atlântico. A viagem demorou mais um pouco e ele desembarcou nesta quarta-feira (1º) na cidade fronteiriça, onde também trabalhará na Unioeste.
Ele estava bastante emocionado e disse que o sentimento é de felicidade por chegar ao Brasil e rever a família. “Agradeço muito aos organizadores do programa e a Unioeste por apoiar os cientistas ucranianos durante a guerra. Tenho certeza que nossa cooperação trará muitos resultados valiosos para a ciência, educação e cultura de nossos países”, afirmou.
“As crianças ficaram muito felizes. Elas tiveram dificuldade em sobreviver à mudança e a uma transformação tão radical em seu ambiente habitual. Mas nessa situação, a escola e o jardim de infância nos ajudaram muito, assim como nossos novos conhecidos brasileiros, que se tornaram nossos amigos”, completou a pesquisadora, que recebeu o marido no saguão do Aeroporto Internacional Cataratas.
Para o reitor da Unioeste, Alexandre Webber, a participação da Unioeste no Programa de Acolhida a Cientistas Ucranianos não tem apenas o caráter científico de trazer profissionais altamente qualificados para atuarem no ensino da instituição, mas também humanitário. “Desta forma conseguimos, mesmo que de uma forma bastante restrita, minimizar o sofrimento das pessoas que estão passando por essa guerra que já alcança um ano. Estaremos sempre prontos a atender a comunidade científica”, frisou.
Segundo o assessor de Relações Interinstitucionais e Internacionais da Unioeste, Rafael Matiello, o programa viabiliza a possibilidade de compartilhar conhecimentos entre pesquisadores de renome da Ucrânia com os programas de pós-graduação do Paraná. “Eles têm a pesquisa mais voltada ao turismo, o que tem uma relação umbilical com as pesquisas realizadas em Foz do Iguaçu. Além de conseguirmos auxiliar nesse momento difícil, a gente tem uma oportunidade ímpar de trocar conhecimentos para alavancar a nossa internacionalização”, afirmou.
Programa
O programa recebeu até o momento 13 pesquisadores no Paraná. Eles estão distribuídos nas seguintes universidades: UENP, UEL, PUC, UTFPR – Medianeira, Unicentro, Unioeste, Unila, UEPG, IFPR/e UEM. Este edital é de fluxo contínuo, possui 50 bolsas disponíveis e tem como prioridade apoiar financeiramente as Instituições Científicas e Tecnológicas e de Inovação (ICTs) paranaenses na acolhida de pesquisadores ucranianos para atuar na pós-graduação Stricto Sensu.
Os cientistas que possuem mais de cinco anos de experiência em pesquisa (Bolsa Pesquisador Visitante Especial 1) recebem a bolsa mensal de R$ 10 mil e os que possuem menos de cinco anos de experiência (Bolsa Pesquisador Visitante Especial 2) recebem R$ 5.500. O programa ainda conta com auxílio complementar de R$ 1.000,00 por dependente abaixo de 18 anos e/ou ascendente acima de 60 anos. O limite deste auxílio é estabelecido em três complementos para cada pesquisador selecionado.
Para o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, desde seu lançamento, em abril de 2022, já foram recebidas mais de 40 inscrições de pessoas interessadas em a participar do programa. “Ainda temos muitos cientistas a vir nas próximas semanas e meses. Esperamos efetivamente fazer com que as relações em ciência, inovação e tecnologia no ensino superior entre o Paraná e a Ucrânia se fortaleçam”, afirmou.