Conquista em família: três estudantes haitianos formaram-se na UNILA no mesmo ano

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Endel, Nivette e Joset comemoram essa nova etapa em suas vidas e dizem que estão preparados para encarar novos desafios profissionais para que, no futuro, possam retornar ao Haiti

A formatura sempre é um momento de muita emoção para os estudantes que estão concluindo essa importante etapa em suas vidas. E em uma instituição que representa a multiculturalidade, a diversidade linguística e de origens – tendo em vista que a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) conta com estudantes de vários países da América Latina –, esse é o momento de despedidas e também de trocas, em que relembram as experiências que vivenciaram juntos e fazem planos para os próximas passos.

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Alguns seguirão o caminho de estudos de pós-graduação, outros irão para o mercado de trabalho e há também os que voltarão para os seus países de origem para compartilhar o conhecimento adquirido. Não é difícil encontrar na cerimônia de colação de grau da UNILA, independentemente do curso de graduação, estudantes provenientes de países fronteiriços com a cidade de Foz do Iguaçu, mas também aqueles que vieram de mais longe, a exemplo de Equador, Colômbia, Venezuela, Costa Rica e Haiti.

Sim, a UNILA conta com um expressivo número de discentes provenientes do Haiti desde 2015, quando tiveram início as seleções específicas para estudantes daquele país. No total acumulado ao longo dos anos, 600 haitianos passaram pela Universidade até o momento, sendo que, no primeiro ano de ingresso de haitianos, foram recebidos os primeiros 75 estudantes daquela nacionalidade. E nas últimas cerimônias de formatura, foi possível encontrar três estudantes que, além de serem da mesma nacionalidade, também representam uma conquista de família.

Endel Christian Achelus, Nivette Chrismane Achelus e Joset Achelus são haitianos e irmãos. Eles se formaram, respectivamente, nos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Administração Pública e Políticas Públicas, e Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar. E a ligação da família com a UNILA não para por aí, pois, antes deles, outro irmão já havia chegado, Godzer Verdieu Achelus, que se formou no ano passado.

Uma experiência que contagiou a família

Endel é o porta-voz da família e um verdadeiro entusiasta dessa experiência de formação acadêmica que marcou a vida dele e de seus irmãos. Inicialmente, ele falou da vinda dos quatro, mas não deixou de recordar que o primeiro a chegar à UNILA foi um primo que ingressou pelo Programa Pró-Haiti, em 2015. Desde então, segundo Endel, o interesse dos irmãos crescia dia após dia no intuito de também passar por essa experiência.

A chegada desse grupo iniciou em 2018. Eles já moravam no Brasil naquele momento, na cidade de Contagem (MG), e, após o ingresso do primeiro integrante da família, o desejo só foi aumentando. A decisão de ingressar na UNILA, de acordo com Endel, foi recebida pelos familiares com muita alegria e entusiasmo, pois “era o desejo dos nossos pais e parentes que pudéssemos ter a oportunidade de cursar uma universidade no Brasil”.

Sobre Foz do Iguaçu, Endel diz que tiveram uma experiência muito positiva com a vivência na cidade, especialmente pelas paisagens naturais que a cidade oferece e a integração que a UNILA proporcionou a eles. “A oportunidade de cursar o ensino superior na UNILA nos abriu muitas portas na cidade, principalmente porque conseguimos estagiar em várias empresas importantes aqui, enquanto estudávamos”, diz.

Acolhimento e integração

Quando chegaram à UNILA, eles já falavam bem a língua portuguesa por estarem vivendo há quatro anos no Brasil, e também tinham familiaridade com a língua espanhola. E sobre a recepção dos novos estudantes haitianos na instituição, Endel afirma que isso passou por melhorias no decorrer dos anos, tendo em vista que a Universidade foi desenvolvendo projetos de acolhimento para os haitianos, como cursos de língua portuguesa, e dando oportunidade para que eles conseguissem assegurar vaga na Moradia Estudantil.

E em relação à interação com estudantes de outras nacionalidades, Endel diz que sempre foi muito amigável e marcada por respeito de todos, proporcionando momentos de muita aprendizagem e de intercâmbio cultural. “Para nós todos, sem dúvida, a experiência marcante foi o intercâmbio cultural que existe dentro da UNILA, de forma que conseguimos conhecer pessoas de outras nacionalidades de toda a América Latina. E fazer amizades com nacionalidades diferentes com muita facilidade, isso porque estamos todos no mesmo ambiente universitário que zela pela pluriculturalidade”, resume ele.

Mesmo escolhendo carreiras distintas, ele diz que a troca de experiências foi muito rica, pois conseguiram aprender muito entre eles a respeito do que é mais relevante em cada curso, e sobre isso ele dá um exemplo. “Políticas Públicas têm efeitos consideráveis nas decisões sobre planejamento urbano, pensando na formação da Arquitetura e Urbanismo e de Desenvolvimento Rural. Aprender as teorias das políticas públicas com nossa irmã agregou compreensões importantes e ampliou nossas visões em relação a nossas áreas de estudo”, conta ele.

Sobre as perspectivas de futuro após a conclusão da graduação, Endel diz que ele e os irmãos querem continuar a crescer pessoal e profissionalmente, pois assim poderão proporcionar o melhor para a sociedade e para seu país. “O Haiti está passando por momentos difíceis de conflitos armados, sendo assim, não tem como voltarmos agora. É melhor continuar a crescer na comunidade internacional e, no momento certo, ajudar nossa nação com a nossa expertise adquirida”, afirma.

Experiência dos haitianos na fronteira

Em 2016, foi dado início ao projeto de extensão “Rasanbleman: coletivo de estudos culturais haitianos”, que visa desenvolver ações para melhoria do acolhimento aos candidatos haitianos com dificuldade no idioma e de integração na sociedade. O projeto é desenvolvido pelo docente Emerson Pereti e foi tema de um episódio da série ¿Qué Pasa?. Durante o bate-papo, o docente e o estudante haitiano Mackenson Beauvais explicam a proposta do projeto e quais as ações já desenvolvidas, assim como os impactos percebidos desde o início das atividades. Além disso, eles destacam a importância histórica e cultural do Haiti para a América Latina e o Caribe.

Ao analisar o impacto do projeto desde seu início, Pereti diz que tem se configurado como uma espécie de espaço de conhecimento intercultural. “Eu percebo que os estudantes haitianos têm esse espaço de discussão sobre a própria matriz cultural, um espaço de repensar seu país através de uma outra perspectiva. Me parece um espaço de ressignificação”, analisa.

O estudante haitiano Mackenson Beauvais diz que, quando chegou ao Brasil, percebeu que aqui as ideias relacionadas ao Haiti se restringiam à pobreza, crise e guerra civil. “Quando cheguei à UNILA, os colegas diziam que não era ensinado nada sobre o Haiti no ensino médio. O impacto do projeto é que ele muda a representação e a compreensão do Brasil sobre o Haiti. A Revolução Haitiana foi uma revolução anticolonialista, antirracista, antiescravagista, foi uma revolução incomparável na história mundial”, enfatiza.

Quer saber mais sobre a vida dos estudantes haitianos em Foz do Iguaçu e um pouco da história e cultura daquele país? Assista ao episódio do ¿Qué Pasa?

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