Por Requião Filho
Não é difícil perceber que as pessoas estão descontentes com os rumos que o Brasil está tomando. Apesar de parecer ainda mais aflorado nas redes sociais, o sentimento de frustração também é uma realidade de quem anda nas ruas e conversa com as pessoas de Norte a Sul do país. E não é compreensível? Faz sentido que as pessoas se preocupem com a instabilidade política na tomada de decisões e a dificuldade de ver desenvolvimento sustentável a longo prazo.
Para atingirmos um patamar de crescimento que coloque o Brasil entre as principais potências econômicas do mundo, é necessário um compromisso verdadeiro com o fortalecimento de setores estratégicos, como a agricultura, o empreendedorismo e a indústria nacional. Sem isso, vejo poucas chances de realmente gerarmos um crescente número de empregos, reduzirmos as desigualdades gritantes no país e a construção de uma nação que prospera a passos largos.
A potência e relevância do agronegócio brasileiro certamente não passam despercebidas. Um país que é conhecido como “celeiro do mundo” e lidera exportações mundiais de sete alimentos – como soja, milho, carnes bovina e de frango, entre outros – certamente chama a atenção. Mas o que nem todo mundo sabe é que não são as grandes produções agrícolas que colocam a comida na mesa da população brasileira. Esse mérito é da agricultura familiar, dos micro, pequenos e médios produtores.
Os pequenos produtores – que geram mais de 10 milhões de empregos, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – também se destacam pela proximidade no abastecimento das cidades, diversidade de produções agrícolas, contribuições contínuas para a redução da insegurança alimentar, desenvolvimento regional e adoção de práticas de sustentabilidade. Em nível global, a Organização das Nações Unidas já declarou que os pequenos produtores são responsáveis pela produção de 35% dos alimentos do mundo.
Mas quem realmente olha para esse crescente setor econômico? Os problemas enfrentados no trabalho do campo impactam diretamente o potencial de produção dos alimentos. Os desafios incluem as dificuldades para obter crédito para expansão, a carga tributária sufocante e a falta de infraestrutura.
No Paraná, por exemplo, 85% dos produtores estão insatisfeitos com o fornecimento de energia pela Copel, sofrendo com quedas de luz que afetam a produção de diversos produtos. Me pergunto quais incentivos são oferecidos pelo Estado para que os produtores possam crescer. Certamente, o aumento de impostos, a alta nos combustíveis, a ausência de investimento em infraestrutura logística e a falta de reconhecimento não contribuem.
Assim como acontece no campo, o universo dos micro, pequenos e médios empreendedores também sofre com uma série de dificuldades que, se não forem enfrentadas, comprometem o desenvolvimento de uma economia mais robusta. Dados do Sebrae apontam a existência de 90 milhões de empreendedores no Brasil, o que representa 42% da população brasileira. Um setor econômico que gera milhões de empregos e movimenta 30% do PIB brasileiro precisa ser valorizado pelo Estado.
A falta de políticas públicas que tragam incentivos para o empreendedorismo e a alta carga tributária dificultam o desenvolvimento do setor, barrando inovações importantes e geração de novos postos de trabalho. É comum ouvirmos de pequenos empreendedores que a enorme burocracia do Estado também atrapalha muito o setor, contribuindo para a informalidade, dificuldade no acesso a crédito e falta de capacitação para aumentar a competitividade e sustentabilidade do setor.
Para mudar a realidade, defendo a simplificação do sistema tributário, com redução de impostos e incentivos fiscais para empresas que investem na contratação de trabalhadores. Menos impostos, mais empregos. Também acredito ser necessária a ampliação de linhas de crédito a juros acessíveis e a criação de programas de capacitação eficientes.
O Estado precisa se comprometer com políticas de incentivo à inovação e digitalização dos pequenos negócios. O acesso a tecnologias de ponta e a capacitação em ferramentas digitais são passos importantes para que os empreendedores se adaptem às demandas do mercado moderno e possam competir com menos desigualdades.
Os rumos do Brasil são, de fato, preocupantes. Se continuarmos sufocando os setores que representam a força motriz do país, estaremos tratando como “pequenos” aqueles que fazem a roda do desenvolvimento girar.