“Caminhando se abre caminho”. Essa frase era repetida com frequência por padre Arturo Paoli, fundador da Associação Fraternidade Aliança (AFA). Representa o momento atual para a saúde pública de Foz do Iguaçu: a finalização de todos os espaços e ações do Complexo Terapêutico Infantojuvenil Padre Arturo Paoli (CTIJ), em andamento desde 2020. A cerimônia de inauguração desta última fase de obras será na próxima terça-feira (26), às 9h, com apresentação do bloco esportivo, da academia, da estufa de plantas e estação de trabalho.
O complexo já é considerado referência no Brasil por oferecer, além do tratamento tradicional, terapias como acupuntura, yoga e constelação familiar, tudo de graça, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São acolhidos crianças, adolescentes e jovens de 10 a 18 anos incompletos com necessidades decorrentes do uso, abuso ou dependência química ou que tenham questões de saúde mental, como pensamentos suicidas, depressão e ansiedade. A primeira avaliação é feita no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi).
Estrutura Modelo
A estrutura do complexo mantido pela AFA compreende: salas administrativas; auditório; espaços para atendimento psicológico, terapias, oficinas de arte e artesanato; cozinha industrial. Dentro do complexo também fica a Unidade de Acolhimento Infantojuvenil Anna Lapini (UAI), casa para os acolhidos morarem por até seis meses. Agora, estão prontos o bloco esportivo e a academia do Programa AtivaMente. Também há estação de trabalho do Programa de Ocupação e Renda, incluindo estufa de plantas, e as instalações que dão suporte ao recém-lançado Programa de Turismo Criativo.
Suzane Amorim, gestora de projetos da AFA, explica que as práticas esportivas e abordagens terapêuticas promovem bem-estar, autocuidado e amor próprio. “Neste primeiro ano de atendimento, registramos resultados muito positivos, porque eles chegam para as consultas psicológicas mais calmos e conseguem se expressar com mais clareza”, exemplifica.
Mais que um complexo: um lar temporário
A UAI, casa que funciona dentro do complexo, tem capacidade para 10 vagas, com quartos, banheiros, cozinha, espaço de estudos, sala para atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas, sala de estar com TV e vídeo game, lavanderia e jardim. Irmã Filomena Rubano, vice-presidente da AFA, relata que o ambiente funciona como um refúgio. “Os jovens não chegam aqui só por causa das drogas, há todo um contexto de abandono e de muito sofrimento. Mais que acompanhá-los nos aspectos físico e psicológico, nós queremos resgatar essas pessoas na própria dignidade”.
Claudia dos Santos, coordenadora da UAI, comenta que jovens envolvidos com drogas ou álcool costumam ter uma rotina noturna. “O entardecer é mais difícil para eles, pois é o horário em que têm mais vontade de ir atrás de droga. As atividades esportivas favorecem muito, porque ocupam a mente.” Segundo Cláudia, há seis meses não há registros de acolhidos deixando o complexo de forma repentina.
Programa de Ocupação e Renda
Além da casa de acolhimento que atende toda cidade de Foz do Iguaçu, a AFA oferece atividades de esporte, cultura e lazer para crianças, adolescentes e jovens que moram na região da entidade. Eles participam no período em que não estão na escola. No total, 22 estão participando do Programa de Ocupação e Renda e 213 fazem parte das atividades esportivas e terapêuticas.
Numa das atividades, os participantes cultivam hortaliças e vendem para restaurantes, hotéis e pessoas interessadas. Outras ações em funcionamento são as duas opções turísticas que acabam de ser lançadas: a oficina “Sente com a gente” e a experiência “Somos fraternidade, vem sentir”, em que os jovens conduzem os passeios.
Proporcionar ocupação e ganho financeiro é uma estratégia para suprir o que os jovens encontram em ambientes socialmente inseguros. “A maioria dos que estão em atividades como tráfico e prostituição já tem uma autonomia financeira. Precisamos garantir que eles continuem tendo um ganho, porém saudável”, justifica Suzane Amorim.
Práticas Integrativas e Complementares
As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são, sem dúvida, um diferencial do Complexo Terapêutico. “A reação é de impacto porque muitas pessoas pensam que esses projetos não são para pobres e a gente acredita que eles têm direito como todo mundo”, defende Irmã Idalina Barbosa, presidente da AFA.
Profissionais atendem com terapias como acupuntura, constelação familiar, arteterapia, aromaterapia, terapia floral, auriculoterapia, meditação, reiki, thetahealing, barra de access e bioenergética.
O resultado é redução da ansiedade, dos níveis de depressão, melhora na qualidade do sono e recuperação de agravos à saúde. “Nesses anos, pensamos estrategicamente sobre quais atividades poderiam complementar o acompanhamento. Buscamos respostas no que uma pessoa com condições financeiras teria acesso,” reflete Suzane Amorim. Este ano, 213 pessoas já foram atendidas com as práticas integrativas.
Investimento
O custo total da obra foi R$ 4.981.362,60, aportados pela Prefeitura de Foz do Iguaçu por meio de recursos da Secretaria de Saúde, Emenda Impositiva da Câmara de Vereadores, Justiça Federal, Receita Federal e também apoio da Itaipu Binacional, que destinou recursos para conclusão da obra do complexo, para compra e instalação de painéis solares, além de apoio para implantação das práticas integrativas, atendimentos clínicos e psicológicos, apoio no desenvolvimento de planos de negócios para os roteiros de turismo criativo, compra de equipamentos e contratação de profissionais.
Como conseguir atendimento no Complexo Terapêutico?
Para buscar atendimento no complexo as pessoas podem dirigir-se diretamente na Rua Malva Rosa, 145, Conjunto Habitacional Bubas ou através do telefone (45) 99935-0325 ou ainda podem procurar o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi), localizado na Rua João Holler, 580 – Jd. Guarapuava ou buscar informações pelos telefones: (45) 3521-9561 / (45) 98424-5877 (WhatsApp).
Padre Arturo Paoli
O Complexo Terapêutico fica num terreno que pertencia ao padre italiano Arturo Paoli, adquirido com doações de amigos dele. Padre Arturo foi um missionário que viveu 25 anos no Brasil. Ele era um intelectual renomado, escreveu vários livros, incluindo “Caminhando se abre caminho”, mas o maior legado foi o exemplo de luta pela inclusão das pessoas marginalizadas e injustiçadas: os “invisíveis sociais”. A casa onde ele viveu fica ao lado do complexo e é preservada como espaço de memória. Padre Arturo faleceu em 2015, na cidade natal de Lucca, na Itália, aos 102 anos.
Serviço
Inauguração das Obras de Conclusão do Complexo Terapêutico Infantojuvenil Padre Arturo Paoli
Data: 26/11/2024 (terça-feira)
Horário: 9h
Endereço: Rua Malva Rosa, 145, Conjunto Habitacional Bubas
Meios de imprensa interessados em acompanhar o evento de inauguração devem confirmar presença por meio do telefone/WhatsApp: (45) 99976-0226 (Izabelle Ferrari)