ARTIGO: Novos tempos, velhas práticas

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Simone Peruzzo (Foto: Arquivo pessoal)

* Simone Perruzo

Nos meus quarenta anos de atuação profissional vivenciei altos e baixos na vida pública e privada. A luta de sindicatos, associação científica, nossos professores e lideranças nos anos 80 sinalizavam que a condução da nossa autarquia federal na época era no mínimo equivocada. Aquilo que muitos dos colegas da categoria consideravam “ruído” entre a ABEN e COFEN se demonstrou com o passar do tempo um movimento antidemocrático que primava em dificultar a participação dos inscritos no processo eleitoral dos regionais e federal de forma que sempre o mesmo grupo se mantivesse no poder. 

Na época sequer sabíamos quando aconteceria o processo eleitoral, pois a publicização ocorria somente por meio do Edital publicado no Diário Oficial da União, bem como as regras do Código Eleitoral em nada colaboravam para que novos colegas se somassem à experiência dos colegas da autarquia, visando a formação de novas lideranças. 

Tal estratégia gerou de maneira expressiva a prática da intervenção nos conselhos, ou seja, o grupo ganhava a eleição, mas não levava, e por conta disso a autarquia federal nomeava profissionais da confiança dele para dirigir os regionais. O Paraná foi um dos últimos estados a sofrer a intervenção. A permanência do mesmo grupo na autarquia federal e regional por décadas gerou o afastamento da categoria, descrédito dos inscritos, serviços de saúde, autoridades, espaços políticos, bem como das entidades de classe e sindicatos que discordavam frontalmente com a condução da autarquia e, sempre que possível, denunciavam em espaços próprios a práticaantidemocrática adotada pelo sistema.

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As denúncias de irregularidades de desvio de verbas (cerca de 100 milhões), apropriação de bens, falsificação de documentos e de manipulação das eleições no sistema aconteciam desde 1993. A partir de 1999 a categoria passou aguardar o julgamento relativo ao homicídio covarde do casal de Enfermeiros e lideranças Edma Valadão (presidente do Sindicatos dos Enfermeiros no RJ) e Marcos Otavio Valadão (presidente da Seção ABEn RJ), responsáveis pela formalização das denúncias contra o sistema junto à Polícia Federal e assassinados a caminho da 3°ConferênciaEstadualde Saúde no RJ. O julgamento dos assassinatos de Edma e Marcos Otavio Valadão foi agendado somente em 2022.

Somente em 2005, a Operação Predador ocorrida no Rio de Janeiro, sede da autarquia federal, levou a julgamento o Sr. Gilberto Linhares (ex-presidente), sua esposa e mais 15 envolvidos. Em abril de 2006, especificamente, o ex-presidente do COFEN foi condenado a 19anos 8 meses de prisão. Em 2007, o Sr. Gilberto Linhares foi beneficiado pela decisão da 5°turma do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que anulou os laudos dos peritos da PF beneficiando o condenado.

Em 2007, movimentos democráticos proativos exercidos por lideranças da enfermagem reaproximam nossas entidades de classe, autarquia e sindicatos. De lá para cá muita coisa mudou e outras certamente precisam mudar, pois o processo pede dinamicidade.

Meu envolvimento com as questões que afetavam diretamente a categoria se consolida durante todo este movimento que direta ou indiretamente tive a ousadia e  honra de participar. Qual minha surpresa ao me deparar que em pleno século XXI, ano de 2023, o direito de participação do processo eleitoral no Paraná está sendo cerceado de maneira grotesca, ou melhor, de forma desqualificada e irresponsável, no qual a postura adotada pela atual Comissão Eleitoral fere o Código de Ética, bem como o novo Código Eleitoral. (Link: Processo Eleitoral 2023https://corenpr.gov.br/portal/sobre-o-coren-pr/eleicoes).

Inaceitável que em novos tempos as velhas práticas retornem, especificamente, a manutenção do poder a qualquer custo.  Esclareço que como inscrita remida do conselho não encontrei em nenhum momento de forma ampla, acadêmica  e irrestrita as devidas informações relativas ao processo eleitoral do corrente ano. 

A falta de isonomia no tratamento com os documentos exigidos pelo Código Eleitoral apresentados pelas chapas inscritas é simplesmente vergonhosa, humilhante e descabida. Toda negativa considerada pela atual Comissão Eleitoral para as duas outras chapas concorrentes inscritas foi desconsiderada pela mesma Comissão que beneficiou somente a Chapa 1 que tem entre seus membros a atual presidente, o primeiro secretário e três conselheiros. 

Na sexta feira, 7 de julho, recursos impetrados pelos representantes das Chapa II e Chapa III deveriam ter sido julgados pela Plenária do COREN-PR. A estratégia adotada pelo grupo foi gerar a falta de quórum de forma a demostrar a incapacidade de julgamento dos atuais conselheiros e assim remeter tal processo para análise e parecer do Conselho Federal – COFEN.

Simplesmente inaceitável, que o estado do Paraná, que está entre os cinco maiores conselhos regionais de enfermagem, e, em pleno 2023, tenha Chapa Única, composta pelos mesmos profissionais que demostram sistematicamente a falta de preparo para os cargos assumidos. 

Enfermagem do Paraná, atualize sua carteira profissional, acompanhe e participe das eleições de 2023. 

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES, BEM COMO NOSSAS DEMANDAS NÃO SÃO E NUNCA FORAM SOMENTE SALARIAIS.

(*) Simone Peruzzo é Enfermeira do HC-UFPR. Foi presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná – COREN-PR entre 2015 e 2020; presidente da Associação Brasileira de Enfermagem – Seção Paraná (ABEn-PR) entre 2001 e 2007; Presidente do Conselho Municipal de Curitiba entre 2003 e 2007.

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