Artistas do Iguaçu: Com traços únicos no Brasil, Dilson usa pintura rupestre para contar a história de evolução da humanidade

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O uso da caneta de nanquim é o que dá forma aos desenhos em cada uma das peças. Foto: Welyton Manoel/PMFI

São quase 50 anos de trabalhos artísticos de Dilson Paulo Alves, nos quais a especialização sobre a arte primitiva faz parte dos principais trabalhos

Em uma primeira vista, o colorido das peças e a riqueza de composições enchem os olhos. Ao se aproximar e observar com atenção cada espaço, os detalhes tornam o trabalho de Dilson Paulo Alves ainda mais impressionante. Entre técnicas e métodos de pintura, o convidado desta edição da série Artistas do Iguaçu consagrou-se como o único do Brasil a transcrever para peças em cerâmica e argila os múltiplos significados das pinturas primitivas e rupestres.

Já são 72 anos de vida e 47 deles dedicados à arte, desde que o jovem desenhista de aviões, ainda na década de 1970, percebeu que tinha muito mais a mostrar do que linhas e projetos de aeronaves.

Com o passar dos anos e após muitas experiências, decidiu, há 20 anos, dedicar-se exclusivamente à produção da arte primitiva e indígena para contar a história da humanidade, por meio de uma releitura das pinturas rupestres.

“Eu comecei uma pesquisa para entender como o homem se comunicava, desde a época das cavernas. As relações humanas já existiam e cada núcleo familiar se identificava por um sinal marcado na argila. Isso foi evoluindo para um sinal que identificava comunidades, depois cidades, logo depois começou a nascer a escrita, números e tudo o que contribuiu para chegar onde estamos hoje”, explica.

Hoje focado na pintura de peças, Dilson começou a carreira como pintor de quadros, tendo sido premiado em diversos salões de arte no Estado de São Paulo. Foto: Welyton Manoel/PMFI

Para entender melhor e realizar um trabalho fidedigno, visitou de museus na Europa a sítios arqueológicos no interior do Brasil. O resultado foi a especialização na pintura com técnicas apuradas, que exigem um nível atenção muito grande por conta dos pequenos espaços.

“Não se trata apenas de pintar várias formas. Tudo precisa estar em harmonia. Cada cor é escolhida especialmente para a peça, assim como os desenhos que estarão presentes. Sejam os símbolos indígenas ou as pinturas africanas”.

Molde das obras

O que parece impossível a um apreciador comum, é natural e simples para o talento de Dilson. “Eu sempre gostei de desenhar e, por conta de uma boa coordenação motora, consigo fazer linhas e contornos com muita facilidade. O que me proporciona mais rapidez para desenhar cada peça e traço”.

Entre os exemplos de materiais icônicos de seu acervo, um tronco de madeira que foi totalmente talhado com pinturas de ambos os lados, mostrando símbolos indígenas e linhas da evolução. Ao todo, foram mais de dez meses dedicados ao trabalho.

Outros são feitos com mais rapidez, porém, com o mesmo toque suave e preciso da caneta nanquim que transforma peças de cerâmica em formato de bule, rosto e figuras humanas em verdadeiras obras de arte.

“Me inspiro totalmente na cultura de Foz. Recebemos aqui algo único, pessoas de diversas regiões e etnias, por isso às vezes precisamos resgatar essa identidade e cultura guarani, algo que represento nas pinturas rupestres”.

As múltiplas premiações na pintura

Dílson nasceu em Foz do Iguaçu, mas mudou-se para São Paulo ainda jovem. Por 20 anos foi projetista de aeronaves na fábrica da Embraer em São José dos Campos, e conciliava o trabalho com a pintura de quadros.

À época, o interesse pelo primitivo já era uma marca. Pintava usando o bico de pena, pois assim conseguia traços “fino-grosso”, dando um aspecto totalmente diferente aos materiais.

Essa característica fez com que trabalho dele fosse cada vez mais reconhecido e Dilson passou a expor as telas até mesmo em salões nacionais de arte e receber premiações frequentes – somente no Salão de Arte da Embraer foram 11 premiações, além de vitórias no Salão de Arte de São Paulo.

Os quadros expostos no ateliê que hoje possui aqui Foz do Iguaçu carregam todos os dados históricos da época, como representações metafóricas das greves operárias, o movimento das grandes cidades, além de manifestos contra a ditadura militar.

“Era chamado de bico de pena social, porque eu criava cenários para representar uma ideia e empregava a técnica em favor disso. A cidade em que eu morava valorizava muito as produções artísticas e assim eu consegui ocupar muitos espaços”, relembra.

A volta para Foz com muitos trabalhos

Com a privatização da Embraer em 1994, Dilson voltou para Foz do Iguaçu. Apesar de já ser um pintor premiado, ele nunca se dedicou exclusivamente ao trabalho com as artes. Com experiência em planejamento e especializações na área da saúde, ele chegou a ocupar o cargo de diretor na Secretaria de Saúde em Foz, diretor da Vigilância Sanitária em Guaíra, entre outros cargos públicos.

“Se eu trabalhasse só com a arte, acho que ficaria perdido”, brinca. “Por muitos anos eu preferi ficar assim, trabalhando durante o dia e, no tempo livre, me dedicando ao estudos das artes e pinturas. Desse jeito consigo sempre procurar algo novo e ocupar a minha mente com vários conceitos”.

Mesmo aposentado, continua ocupando múltiplas funções, sendo atualmente o presidente do Conselho do Idoso em Foz do Iguaçu, vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde e membro do Conselho Municipal de Cultura.

Comercialização das peças e propagação da cultura

Por ter feito grande parte da carreira em São Paulo, Dilson ainda não era tão reconhecido na fronteira. Na cidade resolveu mostrar os trabalhos na Feira Livre das Nações e rapidamente chamou a atenção de quem passava. Certo dia, percebeu o potencial de comercialização da arte não apenas como um retorno financeiro, mas como uma propagação da arte focada na região.

“As peças estavam lá e muitos interessados olhavam, até que um dia um comerciante que tinha uma loja no aeroporto ficou encantado com os materiais e comprou todos de uma vez. Fiquei incrédulo. Um tempo depois ele me contou que as peças vendiam muito bem, principalmente para turistas estrangeiros e pessoas que conheciam artes. Então, meus trabalhos começaram a ser vendidos nas lojas das Cataratas do Iguaçu também. É a nossa arte, de Foz, indo para o mundo”.

O pintor conta que esse olhar diferente que grande parte de turistas estrangeiros tem se deve ao incentivo que outros países dão à cultura.
“O Brasil tem muitas particularidades que tornam as comparações difíceis, por isso precisamos que os incentivos venham desde a infância. Quadros em escolas, oficinas práticas, financiamento ao trabalho de jovens, entre outras iniciativas podem ajudar. A riqueza cultural de Foz é imensa, mas precisa estar aberta a todos”, reforça.

Para Foz, conta que é preciso buscar uma forma de integrar os artistas e deixar um legado para as futuras gerações. “Temos que juntar essas mentes pensantes. Temos uma quantidade imensa de grandes artistas na cidade, gente que já levou trabalhos para todo o mundo. A valorização é primordial. No futuro, podemos sentir esse impacto positivo. Tenho dois filhos e cinco netos, e quero deixar isso como legado a eles”.

Para ver mais obras de Dilson, basta visitá-lo no Ateliê das Artes, na Rua Belarmino de Mendonça, 1090, Centro.

Artistas do Iguaçu

A série Artistas do Iguaçu é produzida pela Comunicação Social da Prefeitura de Foz do Iguaçu em parceria com a Fundação Cultural. O objetivo é apresentar a história e trabalhos de artistas da cidade, nas mais diversas categorias, e valorizar o trabalho de profissionais que levam o nome de Foz para diversas partes do mundo, por meio de trabalhos únicos.

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