Um estudo recentemente publicado mostra que a choquinha-de-alagoas, ave endêmica do nordeste do Brasil, está à beira da extinção. Uma equipe da SAVE Brasil e do Parque das Aves vem monitorando a espécie e trabalhando para protegê-la desde 2016, e registrou um declínio enfático ao longo desses anos.
As medidas de conservação realizadas – incluindo a proteção de ninhos, esforços para estabelecer métodos de reprodução sob cuidados humanos e melhor proteção da floresta – têm sido insuficientes para deter o declínio.
A choquinha-de-alagoas é uma ave pequena que caçava insetos no sub-bosque sombreado da Mata Atlântica em Alagoas e Pernambuco.
Nos últimos 25 anos, segundo o estudo, ela desapareceu de todos os locais onde era encontrada em Pernambuco e agora se mantém apenas na Estação Ecológica de Murici, em Alagoas.
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O número de indivíduos contados em Murici diminuiu de 18 em 2016-17 para apenas seis em 2022-23. A partir deste ano, o total, que chegou tarde demais para ser incluído no artigo, foi de apenas quatro aves.
Os pesquisadores atribuem seu declínio ao desmatamento histórico generalizado nos dois estados e apontam outras causas de declínio, incluindo populações elevadas de predadores de ninhos, como cuícas e serpentes, provavelmente o resultado da caça excessiva e degradação da floresta.
Mesmo dentro da Estação Ecológica, a espécie não está segura, pois a unidade de conservação nunca chegou a ser regularizada. Dos cinco ninhos encontrados e monitorados pela equipe, quatro falharam, a maioria por causa da predação.
“A choquinha-de-alagoas é mais uma vítima do desmatamento em massa e da degradação florestal que vem ocorrendo em toda a Mata Atlântica, especialmente no nordeste”, disse Hermínio Vilela, biólogo da SAVE Brasil e primeiro autor do artigo.
O artigo descreve os esforços para proteger os ninhos, instalando barreiras que impedem que os predadores os alcancem. No entanto, esses esforços não foram suficientes para interromper o declínio.
As tentativas de desenvolver métodos de reprodução sob cuidados humanos, com outras espécies mais comuns de choquinhas, não foram bem-sucedidas.
“Existem mais de 200 espécies na família das choquinhas e chocas, mas nenhum zoológico do mundo conseguiu sustentar uma população de qualquer uma delas”, diz Ben Phalan, do Parque das Aves e coautor do estudo.
“Estamos trabalhando com uma espécie modelo que, em teoria, é menos exigente do que a choquinha-de-alagoas, mas, mesmo nesse caso, ainda não conseguimos reproduzi-las. Simplesmente não sabemos o suficiente para estabelecer uma população sob cuidados humanos dessas aves insetívoras especialistas.”
Embora o futuro da choquinha-de-alagoas não pareça promissor, a equipe prometeu lutar até o fim, fazendo tudo o que puder para tentar salvar a espécie. “Já perdemos o limpa-folha-do-nordeste, o gritador-do-nordeste e o caburé-de-pernambuco.
O mutum-de-alagoas possui uma população sob cuidados humanos, mas está extinto na natureza. Sabemos que as chances são pequenas, mas não podemos abandonar a
choquinha-de-alagoas”, disse Pedro Develey, da SAVE Brasil e coautor do estudo.
“A Estação Ecológica de Murici é uma das áreas mais importantes para a biodiversidade no nordeste do Brasil”, disse Vilela. “Além de ser o último local de ocorrência da choquinha-de-alagoas, é o único lar da jararaca-de-murici, de anfíbios raros e endêmicos, de invertebrados e plantas únicos. Precisamos cuidar dessa área para proteger todo esse patrimônio natural.”
“Mesmo após várias extinções, Murici continua sendo o único local com número maior de aves criticamente em perigo de extinção no país”, disse Develey. “O local abriga outras 16 espécies de animais e plantas que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo. A SAVE Brasil está trabalhando para restaurar e reconectar as florestas na região, para oferecer um futuro melhor para todas essas espécies.”
“Essas espécies existem há mais tempo do que podemos imaginar”, disse Phalan. “O fato de elas estarem desaparecendo é um triste reflexo da falta de cuidado e preocupação de como a Mata Atlântica tem sido tratada. É necessária uma ação urgente para regularizar a Estação Ecológica de Murici.”