“Normalmente, os imbecis eram imediatamente calados, mas agora com as redes sociais, eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel” (Umberto Eco)
Luiz Cláudio Romanelli
Nesses tempos de interatividade instantânea via internet todos são levados a conviver com uma máquina de mentiras, palavra candidamente rebatizada de fake news (notícia falsa) para se adaptar à modernidade tecnológica – ou para se adequar àquilo que em algum momento ficou convencionado como politicamente correto.
Esta praga se espalha com maior rapidez que as novas variantes do novo coronavírus. O problema é que estamos longe de criar uma vacina eficaz e eficiente para este mal. Soma-se a isso o fato de que infecta mentes parvas, convertidos de primeira hora e adoradores do discurso do nós contra eles que abundam por todos os lados.
Nesta semana, a estratégia de espalhar fake news atingiu mais um estágio preocupante, sob patrocínio do governo federal. Pelas suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro divulgou uma tabela em que demonstra quanto a União transferiu de dinheiro aos estados em 2020 para minimizar os impactos da pandemia.
Fez conta de padeiro – com todo o meu respeito a estes profissionais – para alcançar somas extraordinárias que teriam sido enviadas a governadores. Quis demonstrar a benevolência com que trata os gestores de Estados, verdadeiros monstros devoradores das bondades federais e incompetentes no combate à Covid-19.
Tomemos o exemplo do Paraná. Nas contas de Bolsonaro, o governo federal repassou R$ 38,6 bilhões ao Estado. Faltou explicar que no cálculo entraram, por exemplo, repasses constitucionais obrigatórios e transferências para o SUS, como sabidamente ocorre desde o século passado. A única novidade é a suspensão temporária de dívidas.
Entrou mais um elemento no cálculo. O louvável auxílio emergencial, que tanto ajudou as famílias, também está inserido na contabilidade do presidente. Ocorre que o benefício foi entregue diretamente aos cidadãos, sem transitar pelos cofres estaduais.
O fato real é que no ano passado o Paraná recebeu um aporte extra de R$ 2,3 bilhões da União. São as chamadas transferências voluntárias. Deste total, R$ 1,7 bilhão chegou aos municípios e pouco menos de R$ 600 milhões ao tesouro estadual. Todo o restante viria de qualquer forma, independente de quem assina a liberação.
Utilizando a lógica do presidente, poderíamos questionar o que ele tem feito com a contribuição dos paranaenses aos cofres federais. Segue o fio: em 2020, o Paraná transferiu R$ 75,8 bilhões à União na forma de tributos e recebeu de volta metade disso. Não seria o caso de responder o que ele fez com os R$ 37,2 bilhões que não regressaram em benefício ao Estado?
Me solidarizo com os governadores que se manifestaram contra mais uma barbaridade que tenta explicar o inexplicável, que é a falta de proatividade, de responsabilidade, de interesse e de capacidade para propor soluções que minimizem o triste quadro da pandemia e suas perversas consequências.
Mais uma vez, o presidente divulga invencionices de seus asseclas para, verdadeiramente, confundir a sociedade. Fica evidente, a cada farsa levada ao público, que mais importante que o cuidado com o Brasil e os brasileiros é livrar a cara do chefe das obrigações que deveria assumir para enfrentar o colapso de saúde que afeta o País.
Bolsonaro veio para confundir e não para explicar. Diferente do Chacrinha, que imortalizou a frase enquanto animava o povo com seu programa caótico e alegre, o presidente adota esta postura porque sabe que não reúne condições para entregar mais do que a sua insana verborragia, único programa federal que inegavelmente consolidou nos últimos dois anos.
A fake news desta semana é esdrúxula!
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.