O empresário Paulo Pulcinelli é um empreendedor que apostou no comércio dos bairros e saiu em 1979 do ramo da construção civil para o de vendas de material para o setor. Instalou sua empresa no Morumbi e hoje tem filiais espalhadas nos principais bairros de Foz do Iguaçu. Hoje, redes de supermercados, de lojas, farmácias e bancos estão instaladas, fora do centro, nas cinco regiões da cidade.
Depois de mais de 40 anos de atividades, Pulcinelli legou aos filhos o cuidado dos negócios e inquieto voltou-se novamente para a construção civil, com uma loteadora e uma construtora. Nesta entrevista, o empresário destaca a importância da economia dos bairros e como as atividades de comércio e serviços voltaram a ficar mais perto dos moradores da cidade.
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“Muitos comércios e serviços migraram para os bairros. Isso é uma tendência já há algum tempo e sendo mais efetiva nos últimos anos. Bancos, escolas, cantinas, todo tipo de comércio e serviço hoje se encontra nos bairros. Tudo para ficar mais fácil e ágil para o consumidor”, disse.
Pulcinelli descreve ainda o comportamento da sua nova atividade e a necessidade imperiosa da redução das taxas de juros para alavancar a construção de moradias. “O país precisa de juros baixos para gerar empregos e aumentar a renda e os salários para que as pessoas tenham uma casa. Sou formado em 1979 e lá se vão 45 anos de estrada nessa área e eu digo assim que as pessoas que tem uma casa própria, ela se sente melhor, é mais produtiva para ela e para a sociedade”, pontua.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Tenho visto os empreendimentos nos bairros: uma grande farmácia em Três Lagoas, um supermercado no Portal da Foz, uma empresa de celular tem lojas no centro, Morumbi e Porto Meira, uma cooperativa de créditos tem cinco agências nos bairros. Como avalia essa tendência?
Os comércios estão nos bairros porque além de uma necessidade dos consumidores, trata-se do crescimento de todas as atividades econômicas, principalmente a do comércio e de serviços. Antes, as pessoas tinham mais tempo e hoje está todo mundo mais conectado e a vida é mais rápida. Todos querem uma certa comodidade e o acesso ao que precisam mais perto de casa.
Eu posso falar de cadeira porque fizemos isso há muito tempo. Quando construímos a primeira filial na Avenida República Argentina, a ligação do centro ao Morumbi, que era chamado de Rincão São Francisco, ainda era terra. Isso em 1989 quando abrimos uma filial que ainda nem era a Panorama, era a Comercial de Ferragens Cerro Corá. E depois como Panorama, começamos em 1993, fomos para Vila A e ao Morumbi em 2006. E na sequência em outros bairros e hoje temos sete filiais e a maioria, nos bairros de Foz do Iguaçu.
Então, comércio e serviços que eram exclusivos do centro, migraram aos bairros?
Sim, muitos comércios e serviços migraram para os bairros. Isso é uma tendência já há algum tempo e sendo mais efetiva nos últimos anos. Bancos, escolas, cantinas, todo tipo de comércio e serviço hoje se encontra nos bairros. Tudo para ficar mais fácil e ágil para o consumidor. O trânsito, por vezes, tem congestionamento, acaba demorando mais, contribui para que essa tendência se consolide e todos os comércios e serviços devem ficar mais próximos dos seus clientes.
Quais os tipos de atividades que mais interessam o morador dos bairros?
Tudo que ele precisa quer que esteja mais perto da sua casa. É lógico que, eventualmente, algum tipo de serviço ou mercadoria, ele tem que se deslocar ao centro ou em outro bairro. Mas vejo que até as grandes lojas, as grandes redes de supermercados, se deslocam em até espaços e lojas menores para ficar mais perto dos seus clientes. Isso vem acontecendo em todos os setores para que o cliente tenha mais comidade. Supermercados e farmácias são bons exemplos disso. Mas hoje, o morador tem acesso rápido a produtos e serviços de qualidade.
Do ponto de vista econômico, é um consumidor com bom retorno? Como mensurar este impacto?
Com certeza, as empresas oferecem produtos e serviços em buscar deste perfil de consumidor, do morador do bairro e desenvolve um conjunto de ações (campanhas, ofertas, descontos) para atrair esse consumidor, não é só pelo fato deste consumidor está próximo, o que já é vantagem muito grande, mas também tem que ter preço, atendimento, fidelização, etc. Todo esse conjunto de ações leva para que essa parte econômica seja vantajosa para a empresa e também para o cliente.
A sua empresa tem uma rede de lojas de material de construção civil, as reformas, casas e outros empreendimentos pequenos e médio é o perfil que tem demandado a sua clientela, o setor voltou a se aquecer como antes da pandemia?
O setor de material de construção não cresceu antes da pandemia. Ele tem fases, mas cresceu na pandemia. Logo no início da pandemia, quando os comércios fecharam, também permanecemos por um tempo fechado, mas por um período mais curto que a maioria porque, a atividade foi decretada como serviço essencial. E com mais pessoas em casa, elas sentiram a necessidade de dar uma melhoria na sua casa, no seu imóvel, todo mundo tem alguma coisa para uma reforma ou um piso para trocar, pintar uma sala ou trocar um revestimento de parede.
E quando ela ficou mais em casa, parou de gastar dinheiro em restaurante ou em viagens, por exemplo. Esses setores ficaram mais parados e o setor de material de construção foi muito beneficiado no tempo da pandemia. Depois, se normalizou. Não podemos dizer que esteja muito bom, também nem que esteja muito ruim
Qual é o perfil dos empreendimentos para moradia em Foz?
Foz do Iguaçu tem uma característica bem peculiar se compararmos com Cascavel e Toledo. Cascavel apesar de permitido e Toledo é proibido condomínios horizontais, Foz do Iguaçu há muitos anos proliferaram este tipo de empreendimento – onde se encontram o maior número de casas de médio e alto padrão. Esse fator contribui para uma grande parcela das vendas no varejo de materiais de construção.
No seu setor, a demanda de casas é grande?
As casas de médio e alto padrão no nosso ramo têm o maior número de vendas, o maior volume de vendas, mas é muito relativo e depende da época.
Você também é do ramo da construção civil, o programa Minha Casa, Minha Vida pode ter também um pico para construção de novas casas?
Minha primeira atividade foi como construção civil. Sou engenheiro civil e comecei primeiro na construção, depois migrei para material de construção, hoje novamente estou atuando no ramo da construção de casas. Meus filhos estão cuidando da loja e eu tenho uma loteadora e sou construtor. O Minha Casa Minha Vida teve um boom muito grande em 2009. De lá para cá, são vários anos e este setor também inflacionou. Os terrenos que custavam R$ 10 mil, em dois, três anos, foram para R$ 40 mil, R$ 50 mil e hoje estão numa faixa de R$ 150 mil. Esse é um problema do Minha Casa Minha Vida, além do juro alto, que encarece o financiamento e hoje as exigências são maiores. Quando começou o programa, não precisava ter renda formalizada, a pessoa poderia ter um trabalho informal, desde que comprovasse a sua renda?
E o que atrapalha mais?
A taxa de juro é muito alta e isso inviabiliza. Além do poder aquisitivo também estar muito baixo, o comprador tem que dar 20% do valor do imóvel, no programa Minha Casa, Minha Vida, no valor de R$ 220 mil, ele teria que pagar R$ 44 mil. E esse valor é muito difícil encontrar alguém que ganha até R$ 4 mil que consiga ter esse valor disponível. Mas, eu acredito muito na Minha Casa, Minha Vida, eu tinha parado de fazer durante um determinado tempo, inclusive agora estamos estamos começando fazer alguma algumas unidades justamente pensando que o juro deve baixar. Com o juro baixo, a economia dando uma melhoradinha, o programa pode ter sucesso novamente porque é um grande gerador de emprego e um grande gerador desenvolvimento para o país.
Então, os juros têm que baixar?
O país precisa de juros baixos para gerar empregos e aumentar a renda e os salários para que as pessoas tenham uma casa. Sou formado em 1979 e comecei a trabalhar no ramo dois anos antes de me formar. Lá se vão 45 anos de estrada nessa área e eu digo assim que as pessoas que tem uma casa própria, ela se sente melhor, é mais produtiva para ela e para a sociedade. É uma meta governo é um objetivo das pessoas e isso tem que ser muito trabalhado e eu torço muito para que dê certo.
Qual o perfil dos imóveis que está construindo, prédios para apartamentos de pequeno e médio padrão?
É o que estamos construindo nos últimos anos. Paramos três, quatro anos, mas construímos apartamentos básicos. Apartamentos de 90 a 110 metros quadrados de área total. Área privativa de 68 a 72 metros quadrados, sendo basicamente dois quartos com suítes. Apartamentos que variam da faixa de R$ 300 mil a R$ 500 mil. São ocupados por jovens e recém-casados, uma população bem grande, Essa é a necessidade de apartamento ou casa. Mas com esse juro alto é difícil, tanto que a nossa construtora vende hoje com 15%, 20% de entrada do valor, e parcelas em até 120 vezes em financiamento pela construtora. Isso não é bom, porque você se descapitaliza, tem que buscar recursos. E às vezes você tem uma carteira grande de recebimento, mas você tem dívidas a curto prazo.
O potencial econômico de Foz do Iguaçu, além do turismo e logística, está nos bairros?
Com certeza. Além do turismo, os bairros têm muito potencial. Nós temos lojas mais centrais, mas se você passar no sábado ou domingo na JK, o movimento é baixo. Agora, na República Argentina, na Silvio Américo Sasdelli na Vila A, na Morenitas no Porto Meira, essas avenidas têm mais vida, tem muita gente circulando. Muitos comércios abertos, muito movimento e lógico que tudo isso faz com que os bairros tenham um potencial muito grande em relação à cidade
Considera acertadas as medidas tomadas pela prefeitura durante a pandemia? A atividade econômica voltou antes do que em outras cidades? Qual sua opinião a respeito?
Eu apoiei 100% as ações da prefeitura em relação a pandemia. O cuidado com a saúde vem primeiro, as pessoas poderiam ser contaminadas, e as medidas foram muito importantes. No começo foi aquele susto que ninguém sabia como proceder, mas logo depois foi ficando claro. As pessoas que se cuidavam não se infectavam. Então, o uso de máscara, distanciamentos, tudo isso foi importante. Trabalhamos muito bem em casa com filhos, netos e noras, e principalmente com nossos colaboradores. Colocamos normas e muitos procedimentos. Quando, o colaborador tinha algum sintoma, a gente fez com convênio com laboratórios para poder fazer o teste mais rápido, se a pessoa tivesse, ficava em casa, se se em casa morasse com algum irmão, irmão, pai,tivesse contaminado a gente dava a licença pra ficar cumprindo a quarentena e a gente teve um índice de infecção muito baixo.
Ao contrário de outras pessoas negacionistas que levavam como se fosse toda uma brincadeira, que não fosse uma coisa tão séria. Ninguém poderia trabalhar de forma consciente com o país ou com uma cidade doente. Eu gostei de muitas atitudes que foram tomadas. O distanciamento e as orientações para evitar qualquer tipo de aglomeração. Tudo foi feito com cautela, com segurança e passamos. Todo o mundo está aí, comerciantes, todo mundo com dificuldades, uns tiveram mais que os outros, mas todo mundo sobreviveu e isso é que importa.
