Conheça a história da formação das vilas da Itaipu Binacional

No auge da obra, a empresa tinha aproximadamente 40 mil trabalhadores; Muitos optaram por ficar em Foz do Iguaçu devido uma crise da construção civil nacional
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Imagem aérea da Vila A em 1977. Foto: Arquivos da Internet.

Os números envolvendo a Itaipu Binacional, barragem sobre o leito do rio Paraná entre Foz do Iguaçu e Hernandárias (Brasil e Paraguai, respectivamente), impressionam sob todos os aspectos.

A Itaipu, que está completando 50 anos do tratado que deu início a estrutura e 40 anos de produção de energia elétrica, chegou a empregar aproximadamente 40 mil trabalhadores no auge da obra.

E, para abrigar este batalhão de pessoas que simplesmente passaram a habitar quase que da noite para o dia em Foz do Iguaçu, sede da usina, foi necessário a construção quase que em tempo recorde de pelo menos 3 bairros.

Na época, em plena década de 1970, Foz do Iguaçu tinha pouco mais de 30 mil habitantes e, da noite para dia, sua população mais que dobrou, isso se contabilizar apenas os trabalhadores da usina, já que muitos chegaram com família e muitos atraídos pelas oportunidades que a obra trazia.

E foi assim que nasceram as vilas da Itaipu, alternativa mais plausível para o município comportar toda esta população extra que estava chegando noite e dia, num ritmo frenético.

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Em 1975 teve início à construção de aproximadamente 9 mil moradias, destas, 4,7 mil foram no lado brasileiro, divididas em três conjuntos habitacionais – “Vila A”, “Vila B” e “Vila C”.

O começo

A primeira foi a Vila C, depois a Vila A que foi dividida em 3 partes: Vila A 1,  que começava na atual Avenida Garibaldi e ia até a atual Avenida Engenheiro Hildemar Leite França; Vila A 2, que começava na atual Avenida Engengenheiro Hildemar Leite França e seguia até a Avenida Paraná; Vila A 3, que seguia da Avenida Paraná até a Avenida Tancredo Neves e, por fim,  a Vila B.

Enquanto a Vila C foi construída nos moldes de um alojamento e era destinada aos trabalhadores da construção civil, a Vila A foi edificada com casas no estilo americano – muitas, inclusive, fabricadas em madeira – para abrigar os  funcionários com cargos técnicos e administrativos e a Vila B, com casas de alto padrão, para o alto escalão.

Na Vila C, vizinha da hidrelétrica, foram construídas 2.652 moradias compartilhadas, feitas em barracões. Cada uma tinha quatro casas simples, com dois quartos, cozinha, copa e banheiro. Na cobertura, o material usado foi zinco.

Como foi projetado para ser provisório, o bairro não contava, sequer, com asfalto em todas as ruas. Pela distribuição e localização das vilas, junto também com estética das casas e da infra-estrutura geradas a elas, a Vila C tinha um caráter mais rudimentar, construída com materiais de vida útil reduzida, além disso, estava muito próxima da Usina.

A vida na Vila C

Enquanto nas outras vilas A e B, possuíam clubes esportivos e de lazer, a Vila C tinha apenas um centro comunitário. Havia duas escolas no total, sendo que uma ficava na Vila C para os filhos dos peões, e a outra na Vila A, para os filhos dos outros funcionários que residiam nos dois bairros.

Na Vila C, só as ruas principais que tinham asfalto, as demais eram de cascalho. A Vila C possuía um rígido sistema de segurança que, dia e noite, zelava pela ordem nesses espaços de uso comum.

Barracões com teto de zinco utilizados na costrução das cadas da Vila C. Foto: Arquivos da Internet.

Havia também a ronda noturna que patrulhava freqüentemente as ruas, controlando até mesmo o horário de permanência das pessoas na rua, ou em caso de festa ou situações do gênero, fiscalizando o horário do recolhimento das famílias.

Posto de segurança da Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet.

A vila era isolada com cercas de arame farpado e muros, e na entrada da vila havia uma cancela com segurança vinte quatro horas, para controle de entrada e saída, que permaneceu até por volta de 1986. A rigidez na administração do bairro chegou a gerar reclamação entre seus moradores, e até mesmo reportagens nos jornais da época.

Fixando residência

A crise da construção civil no início da década de 1980, um período difícil na economia brasileira, que ficou conhecido como “a década perdida”, provocou o fechamento de diversas frentes de trabalho pelo Brasil, inclusive inibindo investimentos no setor elétrico e a construção de novas barragens.

Com isto, muitos barrageiros como eram conhecidos os trabalhadores da construção civil especializados na construção de barragens, optaram pela permanência em Foz do Iguaçu obrigando a Itaipu a rever sua decisão de demolir a Vila C ao término da construção da barragem, conforme previa o projeto inicial. 

Parte da massa dos desempregados que ficou em Foz, após o término da construção da barragem, foi trabalhar no comércio ou e em pequenos serviços. Mas, como a economia local não tinha capacidade para absorver tamanha oferta de mão de obra, boa parte dos ex-barrageiros foi trabalhar no comércio informal do Paraguai, que estava em ascensão.

Reconhcimento

A Vila C foi a primeira das três a ser incorporada ao município, pois com o término das obras da barragem não havia mais necessidade de Itaipu cuidar da manutenção do bairro e de suas residências, pois não havia mais funcionários ligados a binacional habitando aquele conjunto.

A ideia inicial de demolição das casas foi descartada após uma pressão por parte de políticos e jornalistas de Foz do Iguaçu, que alegavam falta de moradias no município. Assim teve início o processo de transferência dos conjuntos habitacionais.

Como parte do processo de incorporação das vilas ao restante do município, uma das primeiras mudanças nas vilas foi a dos nomes de ruas e avenidas, que até aquele momento, possuíam apenas letras e números como “Avenida 1” e “Rua C”.

A numeração das casas também precisou ser alterada, já que não seguiam o modelo padrão do município. O modelo de numeração usado até aquele momento, havia sido adotado pela Itaipu no ano de 1976, quando foi iniciada a obra de construção das vilas de Itaipu.

Educação

Em 1990, parte das instalações do Colégio Anglo Americano, construído para os filhos de funcionários da Usina e iniciou as atividades com 1.360 alunos, chegando a 14.010 em 1982, foram doadas a Prefeitura dando origem a Escola Municipal Professora Josinete Holler, na parte da Vila A e Escola Municipal Arnaldo Isidoro de Lima, na unidade da Vila C.

Vila C de Itaipu. Foto: Arquivos da Internet

A mega estrutura do colégio e suas duas unidades já não era necessária, uma vez que, com o fim da obra, muitos funcionários ligados à Usina já haviam deixado as casas. Em abril de 2009, um incêndio destruiu completamente dois pavilhões, que ainda mantinham a estrutura original do Anglo Americano, na Arnaldo Isidoro de Lima. 

Em dezembro de 1990, o Conselho da Diretoria Geral de Itaipu, anunciou que daria início ao processo de venda das casas, dando prioridade aos funcionários da Usina e das empreiteiras que ainda moravam na vila.

Saúde

O projeto de desvinculação das casas da Itaipu, em 1994, incluiu o hospital de Itaipu, exclusivo à atendimento dos funcionários da usina ou ligados a obra, como os funcionários de Furnas Centrais Elétricas, responsável pela transmissão da energia gerada por Itaipu, que também habitavam a Vila A.

Desde então, passou a atender também pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Assim juntamente com a abertura para o SUS o até então hospital de Itaipu se torna hospital Ministro Costa Cavalcanti. Mesmo trocando o nome, a nova definição ainda faz uma referência à Itaipu ao homenagear o primeiro diretor-geral da usina. 

Mesmo com o início da venda das casas, a Usina permaneceu tendo o controle administrativo dos bairros Vila A e C e zelando por sua infraestrutura até 1997 quando finalmente, e oficialmente, entregou a administração à Prefeitura Municipal.

Em 2011, a Fundação Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e o Instituto Polo Internacional Iguassu lançaram o projeto “Barrageiros” que recrutou antigos trabalhadores da Usina, que tinham interesse em compartilhar um pouco das histórias do canteiro de obras, para trabalharem dentro do Complexo Turístico Itaipu (CTI). 

O acesso às vilas da Itaipu hoje conta com amplas avenidas e transporte coletivo urbano, com partidas do Terminal de Transporte Urbano (TTU), na região central de Foz do Iguaçu.

Mas é possível conhecer as histórias da Itaipu a bordo do Red Bus da Iguassu City Tour, que opera saídas diárias pela manhã e tarde, no trajeto que leva à Usina e com o próprio ônibus faz o circuito panorâmico dentro de Itaipu e o Ecomuseu de Itaipu.

O passeio (AQUI para agendar) é guiado em português, espanhol e inglês e os ingressos, tanto para a entrada na Usina quanto para o Ecomuseu, já estão inclusos no valor.

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