Ronildo Pimentel
De todas as etnias que nos áureos tempos se instalaram em Foz do Iguaçu, talvez os colonos (imigrantes) alemães e holandeses tenham sido os mais festejados pelos primeiros habitantes da Tríplice Fronteira, onde se encontram Brasil, Argentina e Paraguai, no encontro dos rios Iguaçu e Paraná.
Em meados da primeira metade do século 19, descendentes dos países europeus desembarcaram no Brasil, muitos sendo transportados para Curitiba, no Paraná, onde permaneceram alojados em barracões de chão batido antes de seguir viagem pelas “maravilhosas terras da América”.
Parte da saga de holandeses e alemães em terras tupiniquins está no livro Filha de Imigrantes, da professora iguaçuense Elizabeth Neumann.
A obra, como a própria autoria definiu, é um retalho das memórias de sua infância e juventude vividas em uma casa coberta com madeira talhada, às margens do Rio Carimã, próximo ao local onde hoje se encontra o hotel de mesmo nome, no caminho das Cataratas do Iguaçu.
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Em 1928, um grupo de 29 famílias desembarcou em Foz do Iguaçu depois de uma longa jornada em carroças a partir de Cruz Machado, próximo à divisa do estado de Santa Catarina. Antes disso, os colonos já haviam enfrentado sérias dificuldades, conforme narrativa da autora.
“Em 1911, meus avós maternos, Hermann Franz Taube e Joahnne Martha, saíram da Alemanha, de Halle, junto ao rio Sale”, frisa. “(…) Meus avós paternos, Jan Niewenhoff e Janetje, juntamente com outros imigrantes, chegaram em 1912, no navio Frisia, vindo de Amsterdam (Holanda)”.
“Depois de uma viagem terrível e em condições precárias, eles chegaram ao Brasil. Alguns até morreram no percurso. Ao chegarem, foram enviados para o Paraná.”
Rotina sem qualquer assistência
No dia-a-dia das famílias nos galpões, a dureza de uma rotina sem a presença do Estado e conseqüentemente sem qualquer tipo de assistência à saúde. “Pegaram piolhos, bichos-de-pé e outras pragas que não conheciam. Depois foram enviados para Cruz Machado”, relata.
Na nova ‘pátria’ as dificuldades de alemães e holandeses continuaram até 1927, quando o avô de Elizabeth ficou sabendo de Foz do Iguaçu, onde estavam oferecendo terras. “Foz do Iguaçu precisava de alimentos, por isso, os colonos foram bem vindos, mas o que mais preocupava era a malária, uma doença grave e com poucos recursos para tratamento na época.”
Os novos imigrantes receberam títulos das terras e foram instalando-se, principalmente na região das vilas Yolanda e Carimã. “Nasci em Foz do Iguaçu, em junho de 1934, quando era ainda um fim de mundo. As lembranças mais remotas são da velha casa junto ao rio Carimã, um riacho de águas transparentes”, narra Elizabeth, sem deixar passar despercebidos detalhes da sofrida rotina diária, marcada pela falta de estrutura, mas completada com muita solidariedade.
Vários foram os motivos que levaram à expansão da colonização alemã no final do século 18. Entre eles, Elizabeth destacou o desejo de progredir, a Lei Erbrecht (o primogênito herdava as terras da família, deixando os irmãos sem nada) e a devastação das guerras napoleônicas. “Na região do Reno sempre houve lutas pelas terras. A invenção da máquina a vapor, dispensando mão-de-obra, aumentando o desemprego, fez com que o povo europeu procurasse novas terras.”
O casamento de Leopoldina com D. Pedro I, tornando-a uma germânica imperatriz do Brasil também contribuiu, afirma. Com o retorno dos soldados portugueses para o país de origem, as fronteiras brasileiras ficaram expostas às invasões patrocinadas por ingleses, franceses e aos mais terríveis, os espanhóis. “D. Pedro I interessou-se por mercenários alemães e, provavelmente, para não ser notado esse ‘movimento militarista’, passou a contratar também colonos que ocupariam as terras do Sul.”
Retirada
Quando tudo parecia encaminhar-se para a estabilidade dos imigrantes na faixa de fronteira, explodiu a Segunda Guerra Mundial sob o comando do militar alemão Adolf Hitler. No final dos anos de 1930 havia muitos agricultores alemães ou descendentes, que formaram uma cooperativa “Bauerferein” (Associação Rural). A primeira diretoria era formada pelos pioneiros das famílias Wellter, Colombelli, Weirich, Niewenhoff, Boyarksi e Kercklec.
Na entidade eram tratados assuntos de interesses rurais, ajuda aos mais necessitados, festas de Natal, bailes e reuniões em geral. “Naquela época nosso contato maior era com a Argentina. As comunicações e o comércio com cidades brasileiras, quase impossíveis, em virtude das estradas intransitáveis, tornava Porto Aguirre, hoje Puerto Iguazú, o local para suprir nossas necessidades de mantimentos de compra e venda de produtos agrícolas”, relembra.
E era exatamente pela Argentina que os imigrantes acessavam um jornal impresso em alemão, único veículo capaz de informar sobre as notícias da pátria-mãe. “Quando o Brasil declarou guerra contra a Alemanha, as coisas se tornaram muito tensas. O jornal foi proibido, porém meu pai continuou a trazê-lo da Argentina, para a própria leitura e para alguns vizinhos lerem.”
A posse do material, certo dia, resultou na prisão do patriarca da família Niewenhoff. Na época, lembra a autora, foi proibido falar línguas estrangeiras, em especial o alemão. “Meu pai ficou preso bastante tempo e, só conseguiu ser libertado, com ajuda de amigos, políticos influentes como Frederico Engel. Mesmo assim, ele continuou sendo vigiado até o dia de nossa saída de Foz do Iguaçu”, narra.
A retirada dos imigrantes da região de fronteira é outro capítulo à parte. No caso da família de Elizabeth, os membros foram para Guarapuava, onde chegaram após 28 dias de jornada em carroça coberta de lona, uma vez que não havia transporte motorizado. O exílio da família durou até maio de 1945, com a derrota e a rendição das tropas lideradas por Hitler.
Parte da família Niewenhoff voltou para a fronteira na carroceria de um caminhão, junto com a viúva da família Nadai e mais cinco filhos já adultos. Elizabeth recorda que a chegada ao portão do sítio foi marcada de emoção, principalmente ao ver os pés de mimosas, popularmente conhecidas como mexericas, frutas raras em Guarapuava. Após esse período de pressão os imigrantes retomaram sua rotina diária, mas a lembrança daqueles dias sofridos está guardada nas páginas da obra da primeira professora da Vila Carimã.
Depoimentos da época revelam o drama de imigrantes alemães
“No Brasil somos todos imigrantes, com uma diferença: uns chegaram antes e outros, depois”. (Presidente Washington Luiz) — Rio Grande do Sul
“Meu avô foi preso, sem defesa, porque não sabia se expressar em português: foi, em seu socorro, tio Max que, também não falava português e, por isso, foi preso também. Papai, em Curitiba, procurou um advogado que os orientou para que procurassem pessoas influentes, políticos. Meu avô saiu da cadeia muito acabrunhado, logo ele que adorava tanto o Brasil. Ele era muito ético e religioso, tinha três netos na guerra lutando na Europa pelo Brasil. Um, morreu em combate. Outro voltou com ferimentos.”
“A coisa mais triste que pode acontecer a uma pessoa é ser acusada e castigada injustamente.” – Santa Catarina (Hilary Grahl Passos. Os Alemães Na Terra Da Promissão: A Saga da Taça e do Livro – páginas 92 e 93)
“Ainda assim, a guerra teve aqui os seus reflexos. Alemães, italianos, japoneses e seus descendentes, foram perseguidos. A língua dessas etnias era rigorosamente proibida. Não era permitido viajar pelo país e, qualquer viagem, por curta que fosse, o passageiro precisava de um ‘SALVO CONDUTO’, expedida pela autoridade policial. Sem este documento, podia ser preso. Como tantos outros, também o pastor luterano de Pomerode, foi preso.” Paraná – Curitiba (Heinz Elhlert. Um Jovem de 75 anos – páginas 30 e 31)
“Em Cruz Machado, região da chegada de meus avós e pais, onde a maioria dos meus parentes permanece até hoje, segundo relatos, meus primos e outras crianças não puderam freqüentar as escolas. Não existia professores nem escolas brasileiras. As escolas e igrejas eram administradas por alemães, que acabaram presos e, as escolas fechadas. Só foi alfabetizado quem tinha pais com conhecimento e muita força de vontade para ensinar as escondidas, depois de um dia de trabalho pesado na roça.” – Paraná – Santa Helena (Informações da autora)
“Por determinação do Ministério da Guerra, todos os colonos imigrantes, foram reunidos em Foz do Iguaçu e depois seguiram viagem para locais distantes. Levaram 30 dias e 30 noites para de Foz do Iguaçu a Pitanga (…) eles foram de carroça de boi, comendo apepu (laranja silvestre, bastante amarga e azeda) e pinhão, dormiam debaixo da carroça.” – São Paulo (José A. Colodel. Obrages & Companhias Colonizadoras – páginas 210 e 211)
* Ronildo Pimentel é jornalista radicado em Foz do Iguaçu e editor do portal Diário de Foz. O artigo foi publicado originalmente no Portal H2FOZ, repercutido posteriormente no site Boca Maldita. As fotolegendas são do Memoria Rondonense.
Hola me gustaría saber datos Do meu avo que veio da holanda .seu nome era Albert nieuwenhoff.muito obrigada