Por Luciano Cardoso
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa distante e passou a fazer parte do cotidiano de milhões de pessoas. De assistentes virtuais a ferramentas corporativas, nunca se perguntou tanto a máquinas. Mas o que pouca gente sabe é que, muitas vezes, o problema não está na pergunta, e sim no contexto em que ela é feita.
É aí que entra um novo conceito em ascensão: a engenharia de contexto.
Enquanto a chamada engenharia de prompts ensina como formular bons comandos para obter respostas relevantes, a engenharia de contexto vai além. Ela cuida de tudo que acompanha a pergunta, histórico, exemplos, documentos de apoio, instruções, estilo do usuário e até o tom desejado na resposta.
O que a IA precisa entender antes de responder
Imagine pedir a opinião de alguém extremamente inteligente, mas que acabou de entrar numa sala sem saber o que está acontecendo. É possível que a resposta seja vaga, incompleta ou fora do tom. Agora, se essa pessoa recebe um resumo da conversa anterior, conhece os participantes, entende o clima e tem acesso a informações úteis, ela tende a dar uma resposta bem melhor.
Com a IA, acontece o mesmo. Modelos como GPT, Claude, Gemini e LLaMA funcionam dentro de uma “janela de atenção”, em que tudo o que está incluído ali influencia diretamente a qualidade da resposta. Quando o contexto é mal montado, genérico, desorganizado ou irrelevante, os erros aparecem: informações são ignoradas, respostas saem fantasiosas ou o modelo simplesmente se perde.
Mas quando o contexto é bem construído, a mágica acontece: respostas mais precisas, úteis e confiáveis.
O que compõe um bom contexto?
Entre os elementos mais importantes da engenharia de contexto estão:
Instruções claras sobre o que se espera da IA;
Exemplos práticos de como a tarefa deve ser executada;
Histórico de conversas ou dados relevantes;
Documentos de apoio, como leis, relatórios ou contratos;
Estilo do usuário, como preferência por linguagem formal, analógica ou direta;
Organização e priorização das informações.
Tudo isso é estrategicamente colocado na entrada da IA antes da geração da resposta. E sim, a ordem e o tamanho também importam.
Contexto também é tecnologia
Além da estrutura textual, a engenharia de contexto se apoia em ferramentas cada vez mais sofisticadas. Entre as principais técnicas estão:
In-Context Learning, em que a IA aprende com os próprios exemplos fornecidos;
RAG (Geração Aumentada por Recuperação), que busca documentos em tempo real para enriquecer a resposta;
Bases vetoriais, que selecionam apenas os dados mais relevantes com base em similaridade semântica;
Gerenciamento de janela de tokens, para lidar com os limites de memória do modelo de forma eficiente.
Plataformas como LangChain, LlamaIndex, Haystack, FAISS e Pinecone estão entre as mais utilizadas por engenheiros de IA que trabalham com esse tipo de arquitetura.
Na prática, já está mudando tudo
Empresas, escritórios de advocacia, escolas, hospitais e governos já utilizam engenharia de contexto para melhorar os resultados com IA. Alguns exemplos:
Na área jurídica, modelos analisam contratos e identificam cláusulas abusivas com base na nova Lei de Licitações;
Na educação, geram questões personalizadas com base em matrizes curriculares e históricos de alunos;
Na saúde, sugerem diagnósticos considerando sintomas e tratamentos anteriores de cada paciente.
Menos comando, mais compreensão
A lição que a engenharia de contexto nos traz é simples: não se trata apenas de saber o que perguntar, mas de saber como construir o mundo que a IA vai enxergar ao tentar responder.
Quem domina essa técnica consegue extrair o melhor dos modelos atuais, transformando máquinas em assistentes mais úteis, inteligentes e alinhados às reais necessidades humanas.
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Luciano Cardoso é bacharel em Ciência da Computação, com mestrado em Desenvolvimento Empresarial
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