A deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) tornou-se alvo de uma representação por quebra de decoro parlamentar apresentada pelo deputado Ricardo Arruda (PL), após ter questionado suas ausências frequentes nas reuniões da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Paraná. A cobrança da parlamentar, feita por meio de requerimento, desencadeou episódios de violência política de gênero praticados por Arruda.
O parlamentar se sentiu ainda mais contrariado quando Ana Júlia criticou a apresentação de um atestado odontológico com mais de um mês de atraso, utilizado para justificar as faltas dele na comissão. “Meu mandato está sendo alvo de pedido de cassação porque fiz requerimento acusando o deputado Ricardo Arruda de ter faltado a três sessões consecutivas”, afirmou. “A desculpa é porque eu falei que ele não conhece o regimento da Casa, que ele tenta desmoralizar, que ele não sabe a pauta da reunião e porque eu falei que ele cometeu violência política de gênero.”
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No plenário, Ana Júlia denunciou publicamente o caso e recebeu apoio de diversos colegas, tanto da base governista quanto da oposição. Entre os que se manifestaram estão Luiz Claudio Romanelli (PSD) — que classificou o episódio como “litigância de má-fé” —, além de Luciana Raffagnin (PT), Mabel Canto (PP), Cristina Silvestri (PP), Cloara Pinheiro (PSD) e Professor Lemos (PT).
A representação feita pela oposição contra Arruda foi protocolada em 25 de abril e permaneceu mais de três meses sem relator. Em contrapartida, no dia 14 de maio, o deputado apresentou uma representação contra Ana Júlia no Conselho de Ética, alegando ter sido vítima de calúnia, difamação e quebra de decoro parlamentar. Para Ana Júlia, a iniciativa é uma retaliação política: “Fui surpreendida com o pedido de cassação pelo deputado Ricardo Arruda. É um absurdo o que estão fazendo com esta Assembleia e a deturpação do que deveria ser o Conselho de Ética. Eu com muita responsabilidade e acredito que precisamos questionar a atuação dos nossos colegas na proporção, razoabilidade e medida do que fazem.”
A relatoria de ambos os processos foi definida apenas nesta terça-feira (8), sendo atribuída ao deputado Tito Barrichello (União). Ana Júlia criticou a decisão, apontando que os casos tratam de fatos distintos e não deveriam ser analisados pelo mesmo relator.
“Eu vou ter que dizer de novo aqui que ele cometeu violência política de gênero. E olha só a ironia dos homens: eles cometem violência contra uma mulher e depois querem transformar a vítima na culpada”, declarou a deputada em discurso. “Eles vêm aqui, em vez de fazer debate político, fazem debate sobre vestimentas. E ele, que fala absurdos na tribuna, quer se sentir no direito de pedir a cassação do meu mandato.”
Ela também lembrou que sua representação contra Arruda não solicitava a perda de mandato: “Quando ele cometeu violência política de gênero comigo, reiteradas vezes neste plenário, eu pedi ao Conselho de Ética uma advertência por escrito. Eu não pedi a cassação dele, apesar de ser crime. Inclusive, deveria ter sido advertido oralmente enquanto fazia isso em plenário, mas não foi.”
O episódio reacende o debate sobre desigualdade de gênero na política e o uso de instrumentos institucionais para constranger parlamentares da oposição. “Está uma palhaçada esse uso indiscriminado do Conselho de Ética e dos pedidos de cassação de mandato. Qualquer coisa que um deputado fala e outro discorda, vai lá e pede a cassação”, protestou Ana Júlia.
A deputada ainda ressaltou a gravidade de permitir a normalização desse tipo de prática: “Quando a gente abre margem para esse tipo de discurso de violência acontecer e não faz nada, e se cala, e deixa passar, é isso depois que acontece. Usam-se as ferramentas e os espaços da Casa para tentar perseguir, como se o que eu estivesse debatendo não fosse importante, como se o debate que fiz sobre as faltas na CCJ não tivesse sido relevante. E pasmem os senhores: ele não faltou nenhuma vez depois.”
A tramitação do processo disciplinar contra Ana Júlia seguirá agora no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná.
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