Discurso do presidente Lula na posse de Enio Verri na Itaipu

WhatsApp
Facebook

“A primeira aula que a gente tem que ter é que o acordo entre Paraguai e Brasil na construção e na administração de Itaipu é um acordo civilizatório. É como se fosse medida as proporções da construção de uma União Europeia”, disse o presidente Lula, na solenidade de posse do novo diretor-geral brasileiro da binacional.

Lula falou ainda sobre a retomada das obras do campus da Unila, da integração do Brasil com os países da América do Sul e a necessidade de todos estarem juntos, “separados somos mais frágeis”, ressaltou.

Leia também

Abaixo a íntegra do discurso:

“Quero cumprimentar nosso querido companheiro Enio Verri. Olhei e não tinha ninguém maior do que ele no PT para ser indicado. Depois fiquei pensando em escolher um cara que conhecesse um pouco da administração pública. E ele conhecia. De que era preciso ter uma pessoa que tivessem noção de economia. E ele era doutor em economia.

E de ter um companheiro que fosse doutor na compreensão dos problemas sociais que Itaipu precisa ajudar a resolver o Brasil e certamente os paraguaios ajudarão do lado do Paraguai e esse homem também era o companheiro Enio.

Então, o Enio assume a presidência de Itaipu Binacional do lado brasileiro com a responsabilidade de que ele não está apenas exercendo o papel de dirigir Itaipu para colher os resultados só para Itaipu.

O companheiro Enio assume a responsabilidade de que aqui ele é um representante do Brasil e precisa ajudar com que o governo tem que resolver os problemas do povo brasileiro. Itaipu pode contribuir com um grão, sabe? Dessa areia que está no fundo dessa represa para que a gente passa colher aquilo que foi o sonho, quando foi assinado um tratado em 1973 entre o Brasil e o Paraguai.

Uma coisa extremamente importante é ter em conta a importância política de Itaipu. Acho que o presidente do Paraguai tem clareza, o Enio tem clareza e acham que todos vocês tem clareza que hoje nós não conseguiríamos construir Itaipu como ela foi construída no começo dos anos 1970.

Não teríamos feito o lago cobrir as Setes Quedas (de Guaíra) como foi feito naquela época e por que que não teríamos feito isso? Porque naquele tempo não existia a compreensão climática que existe hoje, não existia a visão de conservar o nosso planeta como tem hoje.

Hoje as pessoas mais idosas, as mais novas, todos estão preocupados com o clima e o que pode acontecer com a nossa irresponsabilidade. Mas nós temos que ter proveito daquilo que Itaipu representou para o Paraguai e para o Brasil.

A primeira aula que a gente tem que ter é que o acordo entre Paraguai e Brasil na construção e na administração de Itaipu é um acordo civilizatório. É como se fosse medida as proporções da construção de uma União Europeia.

A gente provou que é possível fazer acordos binacionais. A gente estabelecer uma regulação que permita que os dois povos ganhem, que os dois países ganhem e que a gente possa futuramente viver num mundo de tranquilidade.

Acho, presidente (Mario Abdo Benítez), que fui o presidente da República do Brasil que mais visitou o Paraguai e que mais reuniões fez aqui em Itaipu, aqui me encontrei muitas vezes com ex-presidente Nicanor Duarte (Frutos) muitas vezes, muitas vezes me encontrei com o companheiro (Fernando) Lugo e veja que engraçado, naquele tempo tinha certeza que quando entrasse alguém mais ligado à esquerda no Paraguai, ele iria ser muito mais exigente com relação ao Brasil do que as pessoas com a visão política mais liberal.

O dado concreto é que as brigas que tivemos com o Lugo fez com que a gente construísse uma linha de até assunção financiada pelas Itaipu. O fato concreto é que a briga é divergência que nós tivemos permitiu que a gente avançasse no acordo e permitia que a gente sonhasse nesse fabuloso ano de 2023 quando finalmente a gente ia acabar de pagar a Itaipu.

Tenho noção, presidente, do que isso simbolizava para o Paraguai. Tenho noção de quantos discursos ouvi seja em Assunção, seja no Brasil, seja em reuniões do Mercosul, seja nas reuniões da Unasul, o que simbolizava o fim do pagamento de Itaipu para a economia e para o futuro do Paraguai. Tenho certeza presidente, certamente o seu mandato já terá terminado quando a gente for assinar um novo tratado.

Mas eu queria dizer que eu tenho certeza de que nós iremos fazer um tratado que leve muito em conta a realidade dos dois países e que leve muito em conta o respeito que o Brasil tem que ter com o seu aliado, o nosso querido Paraguai.

Tenho noção que não é possível que a gente não leve em conta o direito, não sei o que o senhor sabe, depois que construímos o linhão até Assunção, tenho recebido muitas críticas de empresários brasileiros que acham que estamos trazendo empresa brasileiras para o Paraguai.

E era esse o objetivo mesmo um país do tamanho do Brasil, que faz fronteira com todos os países da América do Sul, menos Equador e Chile. É um país que tem que combinar o seu crescimento econômico com o crescimento econômico dos seus parceiros.

Não é possível a gente imaginar um país rico cercado de países pobres por todos os lados. O Brasil como irmão maior dos países da América do Sul tem que ter a responsabilidade de fazer com que os outros países cresçam junto conosco para que a gente possa viver num continente de paz e tranquilidade para que a gente nunca mais repita o gesto ignorante de uma guerra entre homens e mulheres e entre nações, como já ocorreu entre Brasil e Paraguai

Volto a presidir o país depois de 13 anos fora do governo. E volto com a missão, primeiro provar que é possível fazer mais e fazer melhor do que fizemos no período em que governamos. Segundo, que é preciso aprimorar a nossa política relação externa.

O Brasil pelo seu tamanho, pela sua população, por ser o país mais desenvolvido do ponto de vista industrial, científico e tecnológico, tem que ter a grandeza de ser humilde e a grandeza de compartilhar tudo aquilo que pode acontecer de bom para o povo brasileiro, com o povo dos países vizinhos porque somente assim a gente vai garantir que esse continente continue em paz, que esse continente não fale mais em guerra, que esse continente fale só em desenvolvimento, educação, saúde e direito do povo trabalhador, do povo indígena, do povo quilombola viver num mundo mais tranquilo e mais pacífico.

Volto com o compromisso de fortalecer o Mercosul. Porque já está provado que juntos temos força para negociar. Separados somos muito frágeis. E por isso é preciso estar juntos. Volto com o objetivo presidente, com a firme vontade de reorganizar a Unasul fazer com que os países da América do Sul todos compreendam a necessidade de nós termos paz, tranquilidade porque somente com paz e tranquilidade e com muito exercício de democracia é que a gente vai garantir que o nosso continente deixe de ser uma região pobre ou uma região em desenvolvimento.

Temos o direito de crescer e temos o direito de distribuir esse crescimento com a população. Não é possível que a gente tenha no continente sul-americano uma quantidade enorme de pessoas passando fome, uma quantidade enorme de pessoas passando privações que não deveria passar mais.

Portanto, presidente do Paraguai, quero que o senhor saiba que da parte do Brasil tenho certeza que da parte do Paraguai estamos mais maduros, mais consciente e faremos um novo tratado que será muito benéfico para a manutenção do desenvolvimento do Paraguai, do desenvolvimento do Brasil e para a manutenção dessa relação cordial harmoniosa entre o povo e o povo do Paraguai.

Ao companheiro Enio, te desejo sorte. Muita sorte. Porque Itaipu é uma coisa fantástica, você tem um lago enorme e você tem uns canos brancos, que produzem dólares. É, ali na verdade, não produz energia ali produz dinheiro, quando vejo Itaipu vertendo água fico imaginando o quanto de dólares a gente está perdendo.

Se pudesse, levava essa água para casa ou quem sabe num futuro muito próximo a gente estará produzindo hidrogênio verde dessa água de Itaipu e a gente estará ganhando dinheiro nas duas pontas e vai ser melhor para o Paraguai e muito melhor para o Brasil e muito bom para o nosso continente.

Volto a presidência do Brasil com o objetivo de recuperar o direito do povo brasileiro andar de cabeça erguida. O direito das pessoas voltarem a acreditar no amanhã. O direito de as pessoas conseguirem acreditar que a gente… vi agora no helicóptero, a Unila.

A Unila é uma universidade latino-americana que criamos para que a gente tivesse um currículo latino-americano, uma história latino-americana e que a gente pudesse ter jovem de todos os países da América do Sul. Sonhava que já tivesse inaugurada a Unila.

Fiquei com muita tristeza quando passei de helicóptero agora, na volta vou passar outra vez para ver, que me parece um prédio abandonado, me parece que depois que deixei a presidência, pouca coisa foi feita na Unila, e eu sonhava que essa universidade deveria ter nos dias de hoje mais de 20 mil alunos. O meu compromisso, sabe com o povo brasileiro, é que vamos reconstruir a Unila.

Vamos voltar a construir a Unila senhor presidente para que tenha muitos estudantes, muitas meninas e meninos brasileiros, paraguaios, uruguaios, argentinos, colombianos, equatorianos, venezuelanos, ou seja, fico pensando sempre, como é que um país do tamanho de Cuba com 10 milhões de habitantes, com território do tamanho do estado de Pernambuco, consegue ter Universidade de Medicina para oferecer aos estudantes da América do Sul e deve ter muito paraguaios que se formaram em medicina em Cuba, e para oferecer cursos gratuitos para um país africano.

Como é que um país do tamanho do Brasil, com a grandeza do Brasil, não tem essa generosidade de oferecer possibilidade para as crianças e esses adolescentes de todo o nosso continente?

Também inauguramos uma universidade afrobrasileira. Temos, a universidade, temos um campi em Redenção no estado do Ceará, que foi a primeira libertação do povo negro e temos outra que São Francisco do Conde, na Bahia, ensinando meninos africanos porque temos que compreender, temos uma dívida de 350 anos de escravidão. A gente não pode pagar isso em dinheiro. A gente só pode pagar isso devolvendo para eles a possibilidade deles terem acesso à educação, à ciência e tecnologia, aquilo que já desenvolvemos.

Cheguei, quando presidente, levar a Embrapa empresa de pesquisa agropecuária brasileira para Gana, para que pudesse fazer da savana africana aquilo que foi feito no serrado brasileiro. Lamentavelmente isso acabou. Lamentavelmente me parece que alguns governantes brasileiros não gostam nem dos pobres da América do Sul, não gosta dos pobres africanos. Ou seja, a essas pessoas que nós tanto devemos o crescimento do Brasil.

Me parece que não aprendemos ainda que a solidariedade e a fraternidade são palavras chaves que devem permear o comportamento de qualquer presidente da República, porque um presidente que não pensa com o coração, só pensa com a cabeça, a chance de ele errar é muito maior do que acertar.

Porque um ser humano não pode abrir mão da fraternidade, da solidariedade e do humanismo. Queria dizer para vocês que vamos fazer primeiro com que o dinheiro de Itaipu será gasto da melhor maneira possível para que a gente possa oferecer para as cidades vizinhas, aquilo que Itaipu tão bem sabe fazer, ajudar os nossos indígenas, nossos quilombolas, os nossos pescadores, que nem sei se sabem pescar, mas estão, todos bonitos, ou seja, espero que as tilápias estejam crescendo, vocês sabem que levamos cinco anos para discutir se a gente poderia ter a tilápia aqui no lago de Itaipu.

Cinco anos é mais que um mandato de um presidente. Se fosse no Paraguai, teria terminado o seu mandato e você não teria conseguido pescar uma tilápia. E nós fomos provar cientificamente que era possível criar tilápia em tanque para se pescar. Não sei se está acontecendo, mas era num sonho nosso para que a gente pudesse ter uma rede de pescadores pescando vivendo bem e vendendo os peixes para as pessoas que gostam de comer e eu particularmente gosto muito de tilápia

Nós não anunciamos a diretoria toda (da Itaipu), possivelmente por um equívoco nosso, viu Enio. Mas eu penso que logo será anunciada toda a diretoria da Itaipu todo o conselho da Itaipu porque a Itaipu precisa voltar e ser a empresa extraordinária que sempre foi.

Itaipu precisa ter em conta que ela tem que contribuir tanto no desenvolvimento do Brasil, quanto o Paraguai, não é apenas vender energia, é um pouco do dinheiro que a empresa recebe, compartilhar com a sociedade para que a sociedade receba os benefícios que tem que receber.

Queria dizer ao povo do Paraná, ao governador, que a eleição acabou. A eleição terminou em outubro a nossa missão agora é governar. Não quero saber de que partido é o governador. Não quero saber de que partido é o prefeito. Não quero saber de que partido é o vereador. Não quer saber que time que ele torce ou que religião que ele professa.

Quero saber se o povo tem necessidade daquilo que a gente decide fazer. Se o povo tiver necessidade, vamos fazer independente de quem seja o governador, de quem seja deputado, ou seja, vamos governar para o povo brasileiro e vamos respeitar todos os governos desse país.

Enio, à você, desejo toda a sorte do mundo. Se você dedicar o tempo o carinho que dedicou quando era secretário aqui no Paraná, quando secretário de Maringá e como deputado do PT e líder do PT, tenho certeza que você entrará para a história como um dos melhores administradores de Itaipu.

Boa sorte e um forte abraço ao povo brasileiro e ao povo do Paraná”.

Mais notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *