Em 2023 completo os 50 anos de jornalismo e aqui estou, no Almanaque Futuro!

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Por Rogério Romano Bonato

Dei de fazer as contas e, olhando as carteiras profissionais antigas, encontrei o registro da primeira atividade laboral, foi no extinto “O Arauto do Pentágono”, um semanário polêmico, tradicional e que circulava em São Caetano do Sul dede o início dos anos 60. A menção é datada de 1973, quando ainda nem completara a idade de apenas 15 anos.

Causei muitas dores de cabeça aos meus pais, com a mania de querer trabalhar em jornais, quase uma “doença” e creiam, isso perdura; não encontrei e também jamais procurei a cura.

Com o documento de “trabalhador” marquei ponto e frequência nas redações, insistentemente, até alguém dar oportunidade. Também fuçava os parques gráficos e retornava todo sujo de tinta, cheirando os produtos químicos usados na linotipia e impressão.

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A maioria não se importava com crianças no trabalho, mas os meu pais sim. No aniversário daquele ano, economizaram boa parte de seus salários para me presentear com uma máquina de escrever Olivetti Lettera 32, esperando que fosse ficar mais em casa. Qual o que? O mimo causou efeito contrário e aí criei asas para valer, além da imaginação.

Fui parar no Diário do Grande ABC, em Santo André e rapidamente no Diário Popular, na região central da capital paulista. Eram longas as distâncias entre o trabalho e a minha casa, na gloriosa Vila Alpina, no subúrbio leste de São Paulo. O primeiro ofício foi exercitando o traço, aprendendo a diferença entre a charge e o cartun, depois o exercício dos obituários o que exigia pesquisa; os afazeres na compilação de notícias internacionais, anúncios publicitários, as primeiras reportagens, enfim, o frenesi de preencher laudas, calculando as “paicas” e toques. Logo surgiu espaço em outros jornais, outras cidades e países; em vários meios de comunicação como o rádio, a televisão, as agências de notícias.

E o tempo reinou, como na doce melodia de Gilberto Gil.

Me belisco. Faço questão de negar a intenção de ficar escrevendo ao meu respeito, isso deve acontecer apenas hoje, mas é preciso rever o filme, e, reler o livro da minha vida, entendendo um pouco melhor onde cheguei. É uma maneira de reavaliar o caminho e saber onde ele vai dar.

Certamente posso me considerar um privilegiado. Como dizem os jovens, sou um dinossauro, um ser jurássico da atividade, porém com a rara experiência de transcender a tecnologia.

Quando comecei, não operavam ainda o sistema 0ff-Set; os jornais eram montados com letrinhas de chumbo. O processo era simular aos tempos do Johannes Gutenberg, décadas antes de o Brasil ser descoberto.

Fui um dos iniciantes no uso das “tituleiras”; fazia o paste-up, mexia no “fotolito”, no “telex”; as máquinas fotográficas utilizavam filme, o gravador possuía a fita de rolo ou K7. Havia a maleta de transmissão de áudio; a radiofoto e uma porção de objetos que só existem nos museus.

Havia até papel carbono para produzir a notícias em três vias, destinadas aos editores, revisores e aos tipógrafos para adiantarem o serviço. Asseguro que a minha geração assimilou transformações inimagináveis e aqui estamos, na era do quase pós “bit”, usando celulares superiores aos do capitão Kirk e Dr. Spock e computadores mais ágeis que o pensamento. Nos deparamos com a inteligência artificial, e de certo modo à completamos porque ela é moldada pelo que escrevemos, logo, transmitiremos telepaticamente, imagina?

Pensando bem, nada disso, dessa experiência, muda algo que é tão simples, o básico: a essência e a responsabilidade do bom jornalismo, em acordo com a ética e a veracidade dos fatos. Aqui, sempre, prevalecerá a intenção da velha e boa Olivetti Lettera. Ela será honrada.

Uma vez, alguém disse em tom irônico: você vive relembrando as suas “estórias”. Oras, a minha busca pelo passado não é perdulária, inútil, pois lembrar, com detalhes, é uma maneira de contribuir com a história e isso põe os leitores à refletirem suas experiências.

No Brasil há um contexto de envelhecimento equivocado. Há pessoas com 60, 65 anos encaminhadas aos asilos; no Japão, exemplarmente, mais de 40 mil centenários exercem atividades em todos os ramos. Muitos se dedicam às escolas, narrando suas experiências, falando sobre coisas do seu tempo, mostrando aos jovens como foi a evolução. Pode ser, por isso, são tão respeitados.

Idosos, não são necessariamente velhos. Lembrar o passado ajuda muito na pavimentação do futuro. E é por esta ótica que posso contribuir, como testemunha ocular dos fatos importantes nas décadas vividas, muitos dos quais ainda claros e translúcidos, como ocorressem ontem.

Agradeço mais esta oportunidade e espero escrever, se der, rotineiramente neste espaço. Abordando com justeza o passado e de olho nos acontecimentos recentes, com a “mão” da minha mais sincera opinião. Um imenso abraço de gratidão aos leitores!

Rogério Romano Bonato é jornalista, publicitário, escritor, artista plástico, roreirista, diretor de cinema e nas horas vagas chef de cozinha. Assina coluna fixa, com exclusividade, no Almanaque Futuro

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