Entre a raiva e a compreensão do dia a dia, por João Zisman

A raiva costuma aparecer primeiro. Ela sinaliza que algo nos deslocou. Reconhecer essa emoção não significa obedecê-la

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Foto ilustração: João Zisman

O isolamento é um dado da vida. Nem escolha, nem castigo. É um intervalo. Em alguns momentos nasce de dentro, em outros é provocado por circunstâncias externas. Em todos os casos funciona como um campo de observação, um lugar onde a pressa cede e a percepção melhora.

A raiva costuma aparecer primeiro. Ela sinaliza que algo nos deslocou. Reconhecer essa emoção não significa obedecê-la. É possível olhar para ela como se olha para um termômetro, registrar a temperatura e seguir avaliando as causas. Quando a raiva deixa de comandar, abre espaço para um exame mais amplo do contexto.

Colocar-se no lugar do outro é menos virtude e mais método. Serve para testar hipóteses, ajustar ângulos, reduzir ruídos. Não busca anistiar atitudes, busca entender os mecanismos que as produzem. Essa distinção evita dois extremos pouco úteis, o vitimismo que paralisa e o triunfalismo que cega.

Os ciclos da vida pedem mobilidade. Há períodos de palco e períodos de bastidor. Em um aprendemos a falar, no outro aprendemos a escutar. A alternância não diminui ninguém. Treina foco, paciência e capacidade de cálculo. Ensina a separar o essencial do acessório e a distinguir o que está sob controle do que não está.

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O isolamento, visto assim, deixa de ser sinal de derrota. Torna-se uma pausa técnica. Nele se decantam impulsos, se reordenam prioridades, se redesenham estratégias. A pergunta muda de tom. Em vez de por que isso aconteceu comigo, passa a ser o que aprendo daqui para frente.

Entre a raiva e a compreensão existe um caminho prático. Observar, interpretar, decidir. Sem recados, sem excessos, sem justificativas autoindulgentes. Com serenidade e propósito. Quem trata o isolamento como intervalo de análise volta melhor para o jogo. E volta no tempo certo.

(*) João Zisman é jornalista e secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Foz do Iguaçu.


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