A Itaipu Binacional e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) começaram nesta quarta-feira (7) os primeiros levantamentos de campo para a elaboração do inventário da fauna e da flora da faixa de proteção do reservatório. O trabalho vai abranger cerca de 30 mil hectares de mata ciliar, na margem brasileira da usina, entre Foz do Iguaçu e Guaíra, no Oeste do Paraná.
O objetivo é avaliar o grau de conservação, a conectividade e a diversidade arbórea da faixa de proteção. A pesquisa é coordenada pela Embrapa Florestas, com participação da Embrapa Instrumentação, e prevê investimentos de R$ 20,6 milhões em cinco anos. De acordo com Itaipu, será o mais completo inventário florestal já realizado por uma usina hidrelétrica no Brasil.
“A faixa de proteção é um patrimônio ambiental e conhecê-la em detalhes nos ajuda a definir estratégias de gestão e de melhoria contínua dessa vegetação. Ajuda também a compreender como a comunidade pode se beneficiar por meio dos serviços ecossistêmicos que essa vegetação oferece”, explica o gestor do convênio pela Itaipu, Luís Cesar Rodrigues da Silva.
A primeira fase da pesquisa começou em março, com visitas exploratórias e entrevistas. Para a fase atual, com duração de cinco meses, os pesquisadores delimitaram 400 “parcelas”, termo utilizado para designar as áreas de coleta ao longo da faixa de proteção. Será instalado um conjunto de três parcelas a cada dez quilômetros, separadas por no mínimo 30 metros de distância umas das outras.
Inicialmente, serão coletadas informações sobre a vegetação arbórea, como o número de indivíduos, as dimensões das árvores, a necromassa (biomassa morta do solo), dados indicativos da capacidade de regeneração florestal, entre outros. Amostras de galhos, folhas, flores e frutos recolhidos serão encaminhados para dois herbários parceiros do projeto para posterior identificação e catalogação de espécies.
Leia também
Nas fases seguintes, os dados levantados serão sobre a fauna, a diversidade genética, a atividade enzimática do solo, a abundância de minhocas, a diversidade de plantas epífitas, como por exemplo bromélias e orquídeas, e a ciclagem de nutrientes na floresta, que funcionam como indicadores da qualidade ambiental da floresta.
Em 10% das parcelas também será feito um monitoramento aéreo, com o uso de drones equipados com tecnologias como escaneamento a laser (LiDAR – Light Detection and Ranging). Todos os dados serão processados, ao final do trabalho, para que os pesquisadores tenham uma radiografia completa da área analisada.
A pesquisadora Maria Augusta Doetzer Rosot, da Embrapa Florestas, compara o trabalho na faixa de proteção a um inventário patrimonial. “Assim como numa empresa é feito o levantamento de todos os bens patrimoniais, no inventário florestal são levantados os recursos da floresta, que se traduzem em bens e serviços”, explica.
O resultado, segundo ela, irá não apenas fornecer informações técnicas, mas servirá de ferramenta para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e manutenção dos serviços ecossistêmicos. Ao estimar a biomassa, por exemplo, será possível avaliar a contribuição da faixa de proteção para a retenção de carbono, um dos gases de efeito estufa. “O sequestro de carbono é apenas um dos inúmeros serviços ambientais providos pela floresta. O inventário possui múltiplas facetas para conseguirmos captar todo o potencial da floresta para a melhoria da qualidade do ambiente.”
Ainda segundo a pesquisadora, hidrelétricas tem como padrão fazer levantamentos ao redor da área de proteção dos reservatórios, mas não com o rigor metodológico feito agora nas áreas de Itaipu. “Eu acredito que o que vai ser desenvolvido aqui servirá de padrão para ser replicado em outras áreas do País”, conclui.
Histórico
A faixa de proteção da usina de Itaipu tem uma extensão de 170 quilômetros, em linha reta, entre Foz do Iguaçu e Guaíra. Entretanto, ao considerar a sinuosidade das margens do reservatório, são 1,4 mil quilômetros, com largura média de 200 metros, que passam por 15 municípios do Oeste do Paraná.
Luís Cesar Rodrigues da Silva lembra que o primeiro grande inventário feito no local pela Itaipu foi antes da formação do reservatório, entre os anos de 1974 e 1976. O objetivo, na época, era de planejamento logístico para a construção da usina, mas o estudo também serviu de base para o estabelecimento dos plantios que hoje constituem a mata ciliar. “Tudo o que a gente fez, nos últimos 40 anos, teve a contribuição desse [primeiro] inventário. Agora, teremos um estudo maior, mais completo, com mais recursos tecnológicos, que vai contribuir para o planejamento das atividades pelos próximos 40, 50 anos”, analisa.
A gerente da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu, Veridiana Alves da Costa Pereira, acrescenta que a faixa de proteção ainda está em processo de evolução. “Por isso precisamos entender o que acontece nela, como está a sua funcionalidade”, diz. “Tem um componente muito interessante que é a regeneração: são essas pequenas árvores que não entram nos inventários tradicionais, mas que serão a floresta do futuro. Com esse novo inventário, poderemos antever e visualizar como é que vai se dar esse processo evolutivo.”