A maratona de leilões de infraestrutura do último mês contratou um total de R$ 48 bilhões de novos investimentos, que serão aplicados ao longo dos próximos 35 anos. Ao todo, em abril, foram seis dias de disputas na B3, 14 novos contratos de concessão gerados e ao menos seis liminares (ou tentativas de impedir as licitações) derrubadas.
Para além do saldo das concorrências, considerado bastante positivo, os novos projetos consagraram grandes operadores que já atuam no Brasil — uma tendência que deverá se manter para os próximos leilões. Os principais vencedores do mês foram grupos tradicionais, como CCR, Santos Brasil, Ecorodovias, Aegea Saneamento e Iguá.
Para alguns executivos e analistas, chama a atenção a ausência de novos atores estrangeiros. Já outros observam que, mesmo sem a entrada de operadores nas últimas disputas, há uma proliferação de investidores interessados na infraestrutura brasileira, que têm usado as companhias consolidadas como veículo.
Esse movimento se observa, por exemplo, com a entrada do fundo de pensão Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) no capital da Iguá, o aporte da Itaúsa na Aegea, o avanço da GLP, de Cingapura, em rodovias, a injeção de recursos do grupo italiano Gavio na Ecorodovias, e pelas bem sucedidas capitalizações de empresas listadas na bolsa, como ocorreu com a Santos Brasil.
“O capital estrangeiro já entrou massivamente nesses leilões por meio dos operadores nacionais. Faz sentido, porque são eles que conhecem a operação e os riscos do Brasil”, afirma Antonio Carlos Sepúlveda, presidente da operadora portuária Santos Brasil, que arrematou três terminais de combustíveis no Porto de Itaqui (MA), no início do mês.
A visão é compartilhada por Venilton Tadini, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). “Os novos investidores já estão aqui. O Brasil tem diversos bons operadores, não será este o gargalo para os projetos”, avalia.
Ainda assim, especialistas observam que há diferentes grupos estrangeiros, com capital e experiência em concessões, que têm sondado o mercado brasileiro, mas ainda não decidiram entrar. Nos leilões de abril, houve casos de companhias que estudaram até o último momento, mas, ao fim, decidiram não participar.
Para Marcos Ganut, sócio da Alvarez & Marsal, é importante entender os motivos dessa relutância para ampliar a competição nos projetos. “Uma parte [do receio] vem da falta de conhecimento de Brasil e da insegurança jurídica. Quem está aqui já sabe como funcionam as agências reguladoras, estão calejados”, diz.
Diante do enorme déficit de infraestrutura logística e de saneamento no país, a entrada de grupos será importante, avalia Rafael Vanzella, sócio de infraestrutura do Machado Meyer. “O momento é de celebração, mas é importante olhar para o futuro. O país tem grupos grandes, mas os balanços não são ilimitados”, afirma.
No setor, é consenso que o ambiente regulatório no Brasil evoluiu nos últimos anos, o que se refletiu no sucesso nos leilões — para o investidor, a boa regulação significa segurança quanto às regras e a certeza de que o que está escrito no contrato será seguido.
Ainda assim, há casos emblemáticos que ainda assustam, como a tentativa de encampação da Linha Amarela, da Invepar, no Rio de Janeiro, e as já clássicas liminares judiciais às vésperas dos leilões — como ficou evidente no caso da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae). “Para um grupo de fora, é muito difícil entender tanta resistência de poderes constituídos, instituições”, diz Vanzella.
A projeção para os próximos leilões é que grupos locais continuarão se destacando — por seu acesso ao mercado de capitais, pela maior facilidade de dimensionar riscos e precificar ativos e pela necessidade de garantir a geração de caixa no longo prazo.
No caso da CCR e da Ecorodovias, por exemplo, a renovação de portfólio é vista como um fator influente na estratégia das empresas, já que ambas têm concessões importantes chegando ao fim.
A Santos Brasil também deixa claro o interesse em continuar participando dos leilões, para diversificar sua operação. “O país vive uma janela de oportunidades que não se abre sempre. Vamos aproveitar”, diz Sepúlveda.
Em saneamento, todos os operadores também vêm destacando o plano de expansão. Por exemplo, a Iguá, que com o novo contrato da Cedae irá dobrar de porte, já planeja crescer três ou quatro vezes com outros projetos, segundo o presidente, Carlos Brandão.
Pela frente, há uma série de oportunidades, em diferentes setores. Em rodovias, há uma carteira enorme de leilões grandes, como a licitação da Dutra e os mais de 3.000 km de estradas no Paraná. Em aeroportos, resta a sétima rodada de concessões, que inclui as “joias da coroa” do setor: Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ). Em ferrovias, o governo corre para tirar do papel a Ferrogrão. Em portos, há uma série de novos arrendamentos, além da desestatização de companhias docas.
Além disso, há o setor de saneamento, que deverá ver um “boom” de projetos nos próximos anos, na esteira das mudanças promovidas pelo novo marco regulatório. “Veremos muitos novos atores nesse segmento, porque há uma enorme demanda e muito interesse, tanto de grupos financeiros, quanto de companhias de outros setores”, afirma Fernando Vernalha, do Vernalha Pereira Advogados.
Apesar de exaltar a importância desta onda de investimentos, fruto das concessões, Tadini, da Abdib, também coloca em perspectiva o fato de que os valores serão aplicados ao longo de até 35 anos, e que o nível do investimento público em infraestrutura, que vem sofrendo sucessivos cortes, segue em patamar dramático.
As informações são de Portos e Navios