Linha Verde sem semáforos

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Luiz Forte Netto, na Gazeta do Povo

A mobilidade urbana cristalizou-se como um dos grandes problemas das metrópoles e capitais brasileiras – e Curitiba não foge à regra. Ao contrário. Não há soluções fáceis nessa questão, mas no caso de Curitiba o primeiro passo é reunificar a cidade, artificialmente dividida pela Linha Verde.

O que era em princípio uma oportunidade excepcional de requalificar a mobilidade urbana da capital paranaense – afinal, o tráfego pesado de caminhões que circulava pelo trecho urbano da BR-116 fora desviado para o Contorno Leste –, a Linha Verde acabou se transformando num gargalo: um pesadelo urbano em que pedestre, ciclista e motorista disputam cada palmo de asfalto, em evidente prejuízo maior para os dois primeiros, mas com danos gerais para toda a população.

Dependendo do momento em que você estiver lendo este artigo, provavelmente milhares de motoristas estarão parados nos sinaleiros da Linha Verde perdendo tempo precioso e elevando os níveis de emissão de poluentes – e para isso nem precisa ser a hora do rush. Ali temos congestionamentos virtualmente o dia inteiro, em praticamente toda a sua extensão de 22 quilômetros, do Atuba ao Pinheirinho.

A verdade é que a Linha Verde agravou ainda mais o apartheid urbano antes decorrente da BR-116, e isso certamente tem origem nos equívocos de planejamento da via e na inexatidão de suas funções no sistema de transporte público da cidade.

Para requalificar a mobilidade urbana de Curitiba, perdida nos últimos anos, é necessário repensar o modelo de planejamento da cidade, combinando complexas medidas de médio e longo prazo que priorizem as pessoas, o transporte coletivo, outros modais, a inclusão social e a democratização das decisões. Ações que vão muito além da mera pavimentação de ruas e que incluem temas desafiadores no futuro breve, como automação e operação compartilhada de veículos. Isso só como exemplos.

Mas, para o problema específico da Linha Verde, há de se ter propostas pontuais, que podem ser adotadas quase que imediatamente. Uma delas contempla a eliminação de todos os semáforos dessa via, de ponta a ponta, e a construção de trincheiras e viadutos em nove cruzamentos de localização estratégica para que o tráfego flua mais rapidamente. Obras que podem ser realizadas num cronograma de quatro anos.

A substituição dos semáforos da Linha Verde permitirá que a travessia desta área da cidade, hoje feita em cerca de uma hora, seja reduzida para uns 25 minutos. Um ganho que virá em benefício não apenas dos motoristas e pedestres que cruzam as pistas da via, mas também dos moradores dos mais de 20 bairros abrangidos pela Linha Verde, para não falar de toda a população da capital.

Não se trata de algo com custos mirabolantes. Hoje a prefeitura de Curitiba dispõe de uma reserva de R$ 600 milhões anuais destinados a investimento. Com aproximadamente 10% desta soma é possível realizar as intervenções propostas e transformar a Linha Verde numa via expressa que efetivamente cumprirá sua função social de fomentar o desenvolvimento urbano e econômico de amplas regiões da cidade.

Sem os irritantes gargalos que se repetem a cada cruzamento, os motoristas terão mais tempo livre para dedicar às suas famílias, ao lazer e ao trabalho – e os pedestres e ciclistas terão maior segurança.

Repensar Curitiba e trazer para o século 21 a cidade que já foi a mais inovadora do país, conciliando planejamento urbano com uma estética genuinamente ligada aos curitibanos, é o desafio que nos propomos.

Luiz Forte Netto é arquiteto e urbanista.

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