Meu amigo Fábio Campana, a tortura e o sonho de 1995, por Geraldo Serathiuk

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Meus amigos sabem da minha convivência com o Fábio. Sempre tive o privilégio de viver ao seu lado, da família e de seus amigos. Gosta muito da minha paixão por sua geração e por compreender o custo para o futuro de todos nós, daqui e do mundo, da censura, da tortura, da prisão e do exílio, que recaiu sobre todos os que queriam a democracia, inclusive os liberais.

Admira também por ser compreensivo com o comportamento das pessoas marcadas pelos efeitos da violência sobre o corpo e o espírito, que também atingiu ele e minha família. Nos últimos tempos tentei fazê-lo cumprir seu desejo expressado a mim em 1995, quando disse: “Geraldo, preciso mudar, não posso mais ficar marcado só como pessoa que atua na política, quero me dedicar mais a família, a literatura e a arte, onde sempre me realizei.”

Recentemente, quando nos encontrávamos ele sempre dizia que eu tinha levado a frase a sério e que me invejava, por ter se aposentado para se dedicar a família e ter como roteiro de vida a literatura, a arte e a gastronomia. Respondia dizendo, que o câncer e o choque do duro tratamento de quimio e radioterapia em 2012, mudou minha vida, por compreender o quanto somos efêmeros.

Dizia: “Fábio, não podemos viver a mesma narrativa no teatro da vida, vá para Viena onde mora a tua filha para farofar na beira do Danúbio,com a juventude de lá, que faz isso. Viaje para Washington para ficar com o teu filho e visitar aqueles museus gratuitos maravilhosos”.

A última vez que conversamos, foi semana passada, quando liguei para informar sobre seu amigo inseparável Zapatinha, que formava com ele a dupla Zapata e Zapatinha nos anos 60, pois, tinha lido em um comentário do seu depoimento no DHPaz que não estava bem, em razão das sequelas da tortura, que também sofreu.

Sou testemunha do quanto fez pelas pessoas que passaram por isso e pela consolidação da democracia para superar esta prática horrível.

Agora acompanho de muito perto a sua dura luta pela vida. Desejo que possa continuar vivendo, para poder levar a efeito seu sonho de 1995 e que possamos continuar juntos brincando com nossos dois netos e minhas duas netas, e pelos outros que venham, perante os quais, juntos, nos curvamos para homenagear a vida.

Artigo de Geraldo Serathiuk

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