Estava decidido: não tem Carnaval em 2019. A opção por deixar passar em branco a festa de Momo foi tomada pela prefeitura de Morretes ainda no ano passado, motivada pela velha lógica do “cobertor curto”: era necessário fazer sobrar recurso municipal para que ele fosse direcionado a outra área de atendimento à população, nesse caso a saúde.
De acordo com o diretor de turismo do município, Orlei Antunes de Oliveira, em média Morretes gastou cerca de R$ 87 mil com os festejos em anos anteriores. “É pouquíssimo”, avalia, “só que para a nossa realidade é muita coisa”, pondera o representante do município de 16 mil habitantes e orçamento que não chega aos R$ 50 milhões anuais. As informações são de Cristina Seciuk, na Gazeta do Povo.
Apesar da intenção de usar o dinheiro economizado em um serviço de primeira necessidade, surgiu a preocupação com um efeito colateral indesejado: sem o evento, perderia o comércio local, com queda na movimentação de turistas – só para citar um possível reflexo negativo da não realização do carnaval na cidade, essencialmente turística.
Com vistas a evitar que o barato saísse caro, veio a proposta de buscar quem bancasse 100% da folia: “falei ao prefeito que conseguiria patrocínio, a ideia era fazer um Carnaval sem custo para o município. O que se deixa de gastar na festa vai para equipamento [hospitalar], e fechou dessa forma”, relembra o secretário.
O ponto de partida, segundo Oliveira, foi traçar uma estimativa do valor mínimo necessário para colocar o Carnaval na rua, por mais tímido que fosse: o cálculo chegou a R$ 40 mil e a partir daí o Turismo morretense passou a procurar patrocinadores com o mote da realização de um evento teste, que pudesse ser replicado em outras cidades uma vez que, segundo ele, a dificuldade enfrentada ali não é isolada.
“Não é Morretes, é um geral. Os municípios têm dificuldade para tocar a cidade”, avalia Orlei Antunes de Oliveira, que colocou o projeto debaixo do braço e garantiu os recursos para a primeira edição do Carnaval Responsável, a ser realizado entre os dias 1º e 5 de março. O patrocinador, que ainda não foi divulgado, terá direito a comercializar 80% dos produtos que serão oferecidos no evento e à vinculação da marca ao Carnaval da cidade (naming rights).
O plano da prefeitura de Morretes é usar o recurso que deixará de ser gasto na folia para a aquisição de equipamentos hospitalares. A relação elaborada tem monitor de sinais vitais, desfibrilador, eletrocardiógrafo, bomba de infusão peristáltica rotativa, aspirador cirúrgico, oxímetros de pulso para uso geral e neonatal, concentrador de oxigênio e colchões de água. A conta total é estimada em R$ 33.881,00.
Cobertor curto
Em outras cidade as prefeituras vem estudado medidas de economia ou de priorização de investimentos que têm o Carnaval na mira direta. Em Tibagi, nos Campos Gerais, a festa foi mantida, mas sofreu cortes para reduzir despesas: o desfile de rua foi cancelado e eventos como o concurso de marchinhas e a escolha da rainha da festa serão feitos pela internet.
Em Bonito (MS), o município lançou consulta pública para saber o que a população preferia: que o investimento previsto de R$ 200 mil fosse investido na realização da festa ou na compra de ambulâncias. A enquete terminou com resultado favorável à aquisição dos veículos, com 76,56% dos votos, e a promessa da abertura de licitação por parte da Saúde municipal.