Trabalho foi entregue oficialmente nesta quinta-feira (22) e ficará exposto até outubro, quando está prevista a reinauguração do espaço de lazer
A grafitagem dos 800 metros quadrados de tapumes metálicos que cobrem as obras do Gramadão da Vila A, em Foz do Iguaçu (PR), com recursos da Itaipu Binacional, deu impulso a uma forma de expressão artística disseminada nos grandes centros urbanos, mas ainda pouco explorada na cidade da fronteira: a street art, ou arte de rua. O trabalho foi entregue oficialmente nesta quinta-feira (22) e ficará exposto até outubro, quando está prevista a conclusão das obras e a reinauguração do espaço de lazer.
Em apenas um mês, os artistas locais transformaram trechos da Avenida Silvio Américo Sasdelli e Rua Perdigão em uma grande galeria a céu aberto, com imagens inspiradas no tema “Gentilezas Urbanas”. Foram utilizadas aproximadamente 800 latas de tinta spray. O abraço entre os amigos, o encontro carinhoso entre o jovem e o idoso, brincadeiras infantis, o passeio da criança com seu animal de estimação, o descanso à beira da árvore, com o pôr do sol mais bonito da cidade – tudo isso foi tema para as obras que estampam o painel.
Para fazer o trabalho, os autores adotaram o estilo “spray art”, considerado uma “grafitagem raiz” no mundo das artes. Nele, a pintura é feita diretamente sobre a superfície – diferente do estêncil, que usa moldes vazados como apoio. “O estêncil é uma técnica com desenho mais rígido, quando não se pode ter muita margem de erro. Nós decidimos pintar direto porque ficamos mais livres para nos expressar”, explica a grafiteira Victoria Budel, 22 anos, artista envolvida na produção.
“O estêncil funciona mais em superfícies lisas. No tapume (ondulado) é bem mais complicado. Você precisa virar a lata em diferentes posições para não espalhar a tinta e esfumaçar os traços”, completou David Souza, que também trabalhou no projeto.
Estudante de Antropologia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Victoria vê com otimismo o fortalecimento da arte de rua em Foz do Iguaçu. Ela morou nove anos em São Paulo, onde o estilo faz parte da paisagem urbana há muito tempo. “Gostava de reparar quando via um artista trabalhando, observava os desenhos já feitos e me inspirei muito em viver a arte na prática”, afirma.
As referências vieram de artistas como a equatoriana Sandra Fabara, a “Lady Pink”, Katia Suzue e Mag Magrela. David também viveu em São Paulo, nos anos 1990, e acompanhava o trabalho de autores hoje consagrados, como Binho Ribeiro, Paulo César Silva, o “Speto”, e os irmãos Gustavo e Otavio Pandolfo, conhecidos como “Os Gêmeos”.
Ainda em São Paulo, David passou pela transição comum a alguns artistas de rua: de pichador (uma forma de transgressão) para grafiteiro (expressão de arte). “Trabalhava numa metalúrgica e todos os finais de semana praticava [o grafite] nas paredes do fundo da casa onde morava. Eu me dediquei ao máximo, até me profissionalizar.”
Ao chegar a Foz do Iguaçu, o artista estranhou a quantidade de muros e fachadas vazios, sem vida. “Foi aí que tentei me aproximar de Itaipu e me chamaram para fazer um painel no Hospital Costa Cavalcanti. Ficamos muito felizes porque começamos a ter mais oportunidades”, afirma. O trabalho de 90 metros de extensão, em uma ala exclusiva do HMCC, foi concluído em setembro de 2020.
Antes, em fevereiro, pouco antes da pandemia de covid-19 impactar o País, artistas mobilizados pela Itaipu grafitaram um muro de quase 100 metros da sede do Centro de Atenção Integral ao Adolescente de Foz do Iguaçu (Caia), localizada no Bubas (bairro Porto Meira), uma das maiores ocupações do País. Victoria foi um deles.
“A street art é um movimento importante e Foz do Iguaçu tem um grande potencial: é um lugar bonito, cheio de culturas. Acredito que esse novo trabalho, no Gramadão, possa inspirar outros jovens a seguirem o mesmo caminho. Muitos param, conversam com a gente, e têm interesse em aprender grafite e viver de arte”, diz Victoria. “Espero que tenhamos mais espaços para mostrar a nossa arte”, completa David.
A produtora cultural Yoná Castilho, da Companhia de Teatro Amadeus, que coordenou o projeto, avalia que a iniciativa de Itaipu contempla duas dimensões: o apoio ao artista, prejudicado economicamente pela crise sanitária, e o acolhimento ao cidadão. “O artista facilita a vida de todos durante uma pandemia”, reflete. “Imagine uma quarentena sem poder consumir nenhum conteúdo relacionado a arte: nenhuma série, filme, música, novela. Seria definitivamente mais difícil. Então poder levar para a comunidade cores, tintas, mensagens de harmonia e cumplicidade é gratificante para nós.”
Novo Gramadão
As obras de revitalização do Gramadão da Vila A começaram em outubro do ano passado e contemplam nova iluminação, arborização, sinalização, criação de rampas e adaptação da Concha Acústica, melhorias no mobiliário urbano, ordenamento e adequação das barraquinhas de comidas, entre outros. O investimento é de R$ 3,9 milhões, recurso da margem brasileira da Itaipu. A proposta foi apresentada pelas assessorias de Comunicação Social e de Turismo e a execução é da Diretoria de Coordenação da empresa. A conclusão das obras está prevista para outubro.
O diretor-geral brasileiro, general João Francisco Ferreira, reforça que as obras no Gramadão da Vila A darão mais conforto e qualidade de vida para o cidadão, além de transformar o espaço em um novo atrativo turístico da cidade. Ele cita outros projetos voltados para a cidade, como o Mercado Municipal, as ciclovias e pistas de caminhadas. “Essas iniciativas beneficiam a população como um todo, de Foz do Iguaçu e região, e abrem novas oportunidades de negócios. O pequeno comerciante, o artista, os profissionais do turismo, todos ganham com uma cidade mais bonita e mais movimentada.”
Fotos: Sara Cheida/ Itaipu Binacional.