Por Requião Filho, no Estadão
Não adianta palavras bonitas e técnicas se você não consegue alcançar os reais interesses do povo brasileiro.
Somos culpados! Nós, políticos e dirigentes de partidos progressistas, perdemos a mão e não sabemos mais conversar e ouvir a população.
De que adianta falar em PIB, em orçamento secreto, se o que interessa mesmo para o trabalhador é garantir seu salário no final do mês e colocar comida mesa. É o filho na escola, é o emprego garantido do dia seguinte, é o teto para dormir e a água quente do banho.
Enquanto discutimos números, licitações fraudadas, o empregador explora seu empregado e o convence que é melhor abrir mão de seus direitos do que perder sua fonte de renda. Basta uma mentira para transformar um recorde de empregados sem carteira de trabalho assinada em “recorde de trabalhadores informais”.
E nós, infelizmente, seja pela fala complicada, seja por não conseguir, de forma empática, compreender e acolher, seguimos repetindo o erro e tentando a todo custo explicar o que na ameaça do desemprego é inexplicável.
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Pessoas com medo se agarram em Deus e em falsos profetas que vendem o céu, em troca do voto. Para quem está no desespero, aceitam facilmente histórias sobre moral, costume e conduta de vida, que lhes são impostas em troca de esmolas. Sorria, trabalhe, acorde cedo, não reclame, que o bem-aventurado patrão cuidará de você… Quantas vezes não vimos tirarem direitos em troca de promessas de esmola? Lembram da bagagem de avião? Não ia ficar mais barato?
Pão e circo são jogados como distrações aos lares já expostos à fome e ao desemprego, enquanto nós, mais uma vez, não acolhemos, não entendemos e pior, discutimos os grandes problemas do país sem olhar nos olhos das pessoas.
Caráter não se muda em um governo, em uma eleição ou com um partido no poder… A defesa de pautas identitárias são características de partidos progressistas, mas precisamos entender que enquanto discutimos, muitos ainda passam fome e são assustados por aqueles que usam o nosso discurso, para corromper.
De tão sorrateiros, até o nome “patriota” roubaram. Patriota na história do meu país, sempre foi Ulysses, Brizola, Requião e tantos outros. Já eles, usam o patriotismo para brigar com um bicho papão que só existe na cabeça deles, mas que nós não fazemos esforço algum para mostrar ao povo que ele não existe.
Vivemos em um país plural, conservador e progressista, que discute sobre tudo que lhe passa pelo dia, não podemos querer governar apenas para nossa classe, como eles também não podem. Entender e propagar o respeito, esperando a gentileza de ser recíproco.
Trabalhador e classe média não se sentem representados, sequer ouvidos e nesse mundo de notícias a jato, não há tempo para textos longos e técnicos.
É preciso acertar o tom. É preciso acolher a todos. É preciso que o país retome a tranquilidade para que todos possam viver em paz.
Requião Filho, Advogado especialista em Políticas Públicas, e reeleito pela terceira vez Deputado Estadual na Assembleia Legislativa do Paraná