O Paraná deu mais um passo para a implantação do Caminho Iniciático de Santiago de Compostela, que fará parte do roteiro do turismo religioso da região Centro-Oeste. Nesta quinta-feira (6), o chanceler da Ordem de Santiago de Compostela e presidente da Associação Internacional de Cooperação Turística (Asicotur), Alejandro Carballo, apresentou ao vice-governador Darci Piana o plano diretor da rota. Ela é a primeira fora da Espanha dentro de um formato que busca oferecer uma espécie de iniciação aos peregrinos que têm interesse em percorrer o caminho original.
O convênio para implantação do Caminho Iniciático de Santiago de Compostela foi assinado em dezembro do ano passado, durante o evento Governo 5.0. O trajeto de cerca de 100 quilômetros vai ligar Campo Mourão a Fênix, passando também pelos municípios de Corumbataí do Sul e Barbosa Ferraz, com a maior parte do roteiro percorrendo áreas rurais.
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O caminho paranaense é contíguo à Rota da Fé, percurso implantado pela Diocese de Campo Mourão e que já conta com 60 itinerários. Ele se estende por uma região que abrigou um povoado jesuíta e indígena no século XV. No local onde a rota deve terminar, em Fênix, ainda se encontram ruínas de construções jesuíticas, e a ideia agora é construir uma réplica da antiga cidade jesuíta de Vila Rica do Espírito Santo como parte do roteiro.
Darci Piana ressaltou que haverá um esforço conjunto do Governo do Estado, municípios, Diocese e a iniciativa privada para que o caminho seja implementado. “O Caminho de Compostela, na Europa, é conhecido no mundo inteiro e tem uma peregrinação muito grande, fomentando o turismo religioso, que é um dos principais segmentos turísticos”, afirmou.
“Por isso, queremos efetivar esse caminho também no Paraná, o primeiro do mundo fora da Espanha, para promover o turismo religioso no Paraná. O Governo do Estado vai ajudar com a estrutura básica, mas a iniciativa privada também vai participar com a qualificação da mão de obra e com estrutura de hotelaria, gastronomia e de outros serviços turísticos”, ressaltou o vice-governador.
Estrutura
No plano diretor apresentado nesta quinta-feira, a Rota da Fé foi aprovada como Caminho Iniciático, mas precisa passar por algumas adaptações. A principal delas é com relação à sinalização, que deve seguir o mesmo padrão do caminho espanhol. Foram identificados 271 pontos de sinalização em todo o trajeto.
Outra necessidade é a melhoria da infraestrutura para receber os peregrinos, para oferecer a eles todas as condições de segurança e serviços básicos de hospedagem, além de outros produtos e serviços turísticos. No âmbito da governança, também será necessário criar uma entidade gestora da rota, um manual de boas práticas e o gerenciamento dos destinos. A recuperação das ruínas de Vila Rica também consta no plano.
Segundo Carballo, o prazo para consolidar a rota é de três anos, mas com essas adaptações, em seis meses o Caminho Iniciático pode começar a receber os peregrinos. “O plano diretor definiu quatro linhas estratégicas e 60 ações que devem ser postas em práticas pelos municípios para que esse caminho seja uma réplica do Caminho de Santiago europeu. Ele detalha tudo o que é preciso fazer para a sua implantação”, explicou.
“Com algumas adaptações a curto prazo, principalmente com relação às estruturas de alimentação e hospedagem, já será possível que os fiéis iniciem a caminhada de peregrinação”, destacou. “O horizonte para que o caminho esteja completo é de três anos, para que todas as exigências que constam no plano diretor sejam implementadas”.
“Implantar esse roteiro no Paraná representa um potencial enorme para o Estado porque, além de dar visibilidade internacional, ele possibilita a criação de vários produtos, fazendo movimentar a economia nessas cidades. Cada trecho do roteiro, cada igreja que fará parte do trajeto, poderá criar uma réplica para ser comercializada aos romeiros, sem contar os serviços de hospedagem e alimentação que serão fomentados”, destacou o secretário estadual da Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros.
Pároco da Igreja de São Pedro, em Corumbataí do Sul, o padre Gianny Gracioso Bento, ressaltou que há um esforço de toda a Diocese de Campo Mourão para bem receber os romeiros da Rota da Fé e, no futuro, do Caminho Iniciático. “Estamos caminhando há algum tempo com as comunidades locais, autoridades civis e eclesiásticas para que consigamos colocar em prática esse roteiro, que vai promover a questão cultural, religiosa e econômica turismo religioso gera”, destacou.
PIONEIRO – A criação de novos produtos turísticos oriundos do Caminho de Santiago é uma iniciativa da Asicotur, entidade presente em 34 países, com o objetivo de criar o hábito de peregrinos ao redor do mundo, para incentivá-los a fazer a rota original. O projeto pioneiro no Paraná vai ajudar na implantação de trajetos parecidos em outros países.
O novo trajeto do turismo religioso se encontra com outra rota que tem grande potencial turístico no Paraná, o Caminho do Peabiru. A trilha histórica, que era utilizada por indígenas que se deslocavam entre o Oceano Atlântico e a Cordilheira dos Andes, está sendo retomada em um projeto que tem a participação do Governo do Estado.
Com diferentes rotas que atravessam a Espanha até chegar à cidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia – onde ficam as relíquias do apóstolo Santiago Maior –, o Caminho de Santiago é percorrido desde a Idade Média, quando foi descoberto o suposto local de sepultamento de Santiago. Segundo Carballo, cerca de 1 milhão de peregrinos fazem o percurso anualmente, o que corresponde a um quinto dos turistas que o estado da Galícia recebe por ano.
Alguns romeiros chegam a percorrer quase 800 quilômetros para chegar à cidade, vindos de Portugal ou da França, por exemplo, e andando uma média de 20 quilômetros por dia. Ao fazer um percurso de 100 quilômetros a pé ou 200 quilômetros de bicicleta, o peregrino já pode receber a Compostela, a certificação de que fez o Caminho de Santiago.
É a mesma extensão do Caminho Iniciático do Paraná. Por isso, quem percorrer o trajeto no Estado deve receber uma Credencial de Iniciação e poderá descontar uma parte do percurso para receber a Compostela quando fizer o caminho espanhol. “Estamos trabalhando para que esse roteiro compute como o caminho completo, mas ainda é preciso resolver algumas questões jurídicas nesse sentido”, complementou Carballo.
AEN